Somente o bem para combater ao mal

Qualquer pessoa é um potencial criminoso. Cabe aos bons, porém, combater o mal. Como far isso, porém, se o mal está dentro de todos nós?

Qualquer um a nossa volta, inclusive nós mesmos, pode tornar-se criminoso de um momento para o outro. Qualquer um, desde o mais demente, passando pelo mais refinado intelectual e chegando ao mais centrado; desde o que parece mais pacífico ao que demonstra ser o mais psicótico, pode cometer um crime repentinamente. Ninguém, porém, nasce criminoso, tampouco predeterminado ou torna-se destinado ao crime. Por isto, não tem como prevermos quem, quando e por que circunstância ou razão alguém cometerá um crime. Entretanto, a semente do mal está dentro de todos nós, podendo se manifestar de uma ou outra forma, mais branda ou extremamente letal, a qualquer instante e nos atingir. Não, sabemos, porém, quem, quando nem como será.

Criminosos não são extraterrestres (ETs); são de nossa própria espécie, pertencentes a nossa própria família humana e, muitas vezes, pertencentes à nossa própria família genética.

Espera-se que criminosos cometam crimes e, quanto a esses, na medida do possível, as autoridades, nossas trancas, grades e câmeras de vídeo nos previnem. Entretanto, assim como não existem rótulos de criminosos nas testas das pessoas, o que se tronou criminoso teve sua primeira vez, ou primeira e última vez, ou, ainda, última vez e pode-se ser surpreendido pelo primeiro crime de alguém que jamais antes cometeu qualquer delito e ninguém jamais poderia imaginar que algum dia pudesse vir a cometer.

Isso nos diz que, cada dia mais, nossa integridade financeira e física não tem como ser garantida por meios humanos. E, se não depositamos nossa confiança em Deus, tal conclusão tende a fazer com que nos tornemos desconfiados e armados contra tudo e todos, sendo antecipadamente hostis e aguerridos, preocupados e ressentidos; daí indiferentes, sem afeição, cruéis e injustos cada dia mais e para um número cada vez maior de pessoas que não conhecemos, até começarmos a tratar com desconfiança e maldade, inclusive, nossos conhecidos, amigos, parentes e, por fim, os próprios familiares, estando, então a um passo de nos tronarmos criminosos por se instalar dentro de nós certa predisposição justiceira.

Assim, nutrimos o mal em vez do bem. E, querendo prevenir o mal, nos tornamos seu mais ativo agente. Na verdade, isso já ocorre agora – prevenindo o mal das pessoas contra nós e contra os outros, indivíduos considerados bons, como nos consideramos, estão se tornando o principal instrumento do mal, mas, nem sempre, transgredindo as leis humanas.

Como então agir corretamente diante do perigo? Como ser cristão em circunstâncias progressivamente e, cada vez mais, fatalmente adversas? Como prevenir o mal?

Para prevenir o mal, antes de tudo, devemos impedir que a semente do mal germine dentro de nós. Se nos abstermos de produzir o mal em retaliação ou prevenção ao mal já estaremos prevenindo praticamente todo o mal, pois todo o mal deriva de certa prevenção e retaliação ao mal, mas, isso segundo o ponto de vista e de interesse de cada um. Precisamos afastar de nós toda tendência de ataque preventivo ao mal, todo o sentimento de vingança, rancor e ódio. Jamais confundir desejo de vingança (dar a paga – retribuir o mal) com justiça. Justiça é uma coisa e punir é outra coisa. Ambas são opostas. Punir é retribuir o mal e para retribui-se algo tem reproduzir o que se quer retribuir. Portanto, retribuir o mal requer produzir outra porção de mal para poder retribuí-lo. E quem produz o mal é igualmente mau. A justiça que advém da punição (que é dar a paga) é justiça somente na concepção humana – uma concepção afetada pelos interesses pessoais e divergentes dos indivíduos. Na concepção e lógica de Deus, do Universo e da matemática, números positivos com números positivos adicionam. Portanto, justiça é subtrair o mal com adição de bem. Mal com mal, duplamente mal.

Se formos justiceiros, ressentidos e prevenidos contra o mal que presumimos possa vir de qualquer pessoa, se tivermos medo, se amarmos a nossa vida mais do que a Cristo (que disse que devemos amar especialmente nossos inimigos – Lucas 6:35), não pregaremos o Evangelho para as pessoas más (as que mais precisam), bem como para as que presumimos que sejam más (e temos a mania de achar que somos melhores que os outros). Então não pregaremos o Evangelho para ninguém e muitas pessoas que poderiam, com isso, abandonar a prática maldosa não abandonarão e, assim, não estaremos combatendo o mal de forma a diminuir o que mais tememos. Assim, o mal crescerá e, por fim, nos atingirá também. Daí se cumprirá o que Jesus Cristo disse em Mateus 10:37 e 39: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.” “Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.”

Portanto, não será protegendo nossa vida com desconfiança, ressentimento, punição e vingança que combateremos o combate que reduzirá o mal. A única forma de combater o mal e reduzi-lo é Jesus, que o aniquilará no fim. Todavia, Ele deseja fazer isso perdendo o mínimo de pessoas. Não existe outro caminho, nenhuma outra filosofia e nenhum método ou fórmula de combater o mal se não for pelo método de Jesus, que é o amor incondicional. Somente o amor de Jesus reproduzido em nossos ensinamentos, nossas ações e reações pode produzir efetivo combate e redução do mal. A forma de Jesus de combater o mal ensinando e praticando o bem jamais utiliza o mal como reação ao mal. A reação ao mal deve ser o bem e jamais o mal. Somente o bem é reação ao mal. O mal não é reação ao mal – é colaboração com o mal; é como combater o fogo com gasolina. O mal é o combustível do mal. As leis humanas desvinculadas das de Deus, a hostilidade dos policiais, a austeridade dos tribunais e a opressão das prisões têm se mostrado ineficientes em reduzir o mal e jamais conseguirão, pois, em essência, prescrevem o mal. Têm combatido o mal, mas somente no travar combate, porém, sem reduzi-lo, prova é que o combate nunca cessa. Quem confia nessa forma de combate ao mal se assenta sobre botijões de gás, pois o que não diminui, mas se comprime, sufoca e abafa em lugar fechado tende a aumentar a pressão e à conseqüente explosão quando a pressão alcança o limite máximo. Estamos exatamente no instante dessas explosões, bastando ver o que tem ocorrido com os ônibus em algumas cidades em resposta aos maltratos, opressão e desrespeito aos direitos e dignidade de apenados. Quem é tolo para pressionar um botijão de gás? Um cilindro de gás acetileno não pode nem sequer ser pintado. Entretanto, a imprudência humana é tanta que se oprime e desrespeita pessoas cuja circunstância punitiva privativa de liberdade por si só já é uma opressão. E todo esse mal se produz com a pretensão de se estar combatendo o mal. E tudo isso é feito por pessoas consideradas em acordo com a lei.

Portanto, se pretendemos ser pessoas de bem, devemos ser verdadeiramente cristãos, representando e produzindo o bem como o que Jesus ensinou e praticou (Vide os Evangelhos). Jamais devemos nos contaminar com o conceito de justiça corrente, que circula nas esquinas, nos bares, nas novelas, nas discussões cujo ponto de vista não tem por base o ponto de vista de Jesus. Jamais devemos pretender combater o mal com o mal, com vingança, com revanche, com dar a paga, com essa justiça humana da punição, da retribuição do mal, mas somente com a redução do mal, respondendo ao mal com o bem do amor de Jesus de I Coríntios 13, pois assim prevenimos e subtraímos o mal. E assim, mesmo que percamos a vida na prática desse amor ao próximo segundo Jesus, ganharemos a vida eterna, a qual então ninguém mais poderá nos tirar.

Pense nisso e comece a combater o mal com o bem.

Wilson do Amaral