TRAUMA, DO PRINCÍPIO DO PRAZER AO SUÍCIDIO.

INSTITUTO SUPERIOR DO LITORAL DO PARANÁ – ISULPAR

OS TRAUMAS:

DO PRINCIPIO DO PRAZER AO SUÍCIDIO

PARANAGUÁ

2012

LUIZ CARLOS ALVES

TRAUMAS:

DO PRINCÍPIO DO PRAZER AO

SUICÍDIO

Monografia apresentada ao curso de Pós- graduação em Psicopedagogia Institucional , do Instituto Superior do Litoral do Paraná – ISULPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de especialista.

INSTITUTO SUPERIOR DO LITORAL DO PARANÁ - ISULPAR

CURSO DE PÓS – GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

TERMO DE APROVAÇÃO

Luiz Carlos Alves

OS TRAUMAS: DO PRINCIPIO DO PRAZER AO SUICÍDIO

Monografia julgada e aprovada como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia Institucional, no Instituto Superior do Litoral do Paraná – ISULPAR, pela Banca Examinadora composta pelas seguintes Autoridades.

DEDICATÓRIA

A meus Professores e Mestres, pois tornaram este sonho possível.

Ao intenso labor, das pesquisas e as reflexões por eles elaboradas.

AGRADECIMENTOS

A Jesus, meu grande amigo, confidente, consolador e inspirador, sem o qual eu não seria, não existiria, não poderia amar.

A minha família, estrutura sem a qual eu não teria conforto, não sentiria o gosto, de pelo amor estar rodeado; não sonharia com céu, não viveria com anjos, não conheceria carinho.

A minha esposa, mulher por Deus preparada, amante guerreira e amada, o sonho do dia feliz.

“Não chores meu filho, que a vida é luta renhida,viver é lutar, vida é combate que aos fracos abate, mas aos fortes, aos bravos...ela só pode exaltar.

Gonçalves Dias.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9

1.1 O PROBLEMA 10

1.3 Objetivos 11

1.3.1 Objetivo Geral 11

1.3.2 Objetivos Específicos 11

1.4 Metodologia 12

1.5 Justificativa 12

2. A CONSTRUÇÃO DO SER: FAMÍLIA E ESCOLA. 13

3. PROFESSOR E ALUNO 15

4. A SEXUALIDADE INFANTIL 19

4.1 Complexo de Édipo nos meninos 19

4.2 Complexo de Édipo nas meninas 20

4.3 Depoimento da Missionária M. da I P B. 21

4.4 Estágios do Complexo de Édipo 21

4.4 Mecanismos de Defesa 24

4.5- Mecanismos de Defesa e Resistências 27

4.6 A Formação Substitutiva 29

5 O SUICÍDIO 30

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 33

7 REFERÊNCIAS 36

LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 1: Os percentuais aos profissionais procurados por pais de crianças 33

RESUMO

ALVES, Luiz Carlos. Traumas: Do Princípio do Prazer ao Suicídio. Paranaguá: ISULPAR, 2012.

Este trabalho buscou investigar as causas, do porque que na sociedade atual, não há enfrentamentos da vaidade, da soberba, da presunção, da prepotência, da arrogância, incredulidade, maldade, má vontade, violência paterna, preguiça, de pais e professores, pois são antônimos à moral; a constatação destes sentimentos é dever da família primeiro, mas também da escola, estes sentimentos são comum no ser humano e expõe uma realidade que leva a divisão, realidades opostas, sentimentos exacerbados, injustiças, lutas, enriquecimento, empobrecimento, crimes. As pesquisas serão apresentadas em divisões por tópicos, para facilitar a análise e compreensão. Na exposição mostramos a pertinência dos estudos de Freud, juntamente os conhecimentos de Piaget sobre esquemas mentais de acomodação, da substituição de esquemas mentais existentes, com os complementos de esquemas ao longo da vida do ser, que são esclarecedores e ferramentas importantes para mestres de todas as faixas etárias. As demonstrações Freudianas sobre mecanismos de defesa, sobre os sentimentos de angustia, os desejos narcisísticos, juntamente com a pulsão de morte e sexual, os exacerbados diferenciais do meio, são complementares e ferramentas para professores também; Que a matéria da psicologia não pode ser negligenciada e que professores são indesculpáveis quando são indiferentes as manifestações e sinais das crianças e dos adolescentes. Dividimos o presente trabalho no modo acadêmico de pesquisa cientifica, com a exposição dos autores e a síntese do conteúdo, com apresentação do problema, destaque dos objetivos específicos e gerais. Usamos o método dedutivo e o estudo de caso, bem como justificando a pertinência do trabalho. Demos ênfase à construção do ser, analisando professor e aluno, a sexualidade infantil, O complexo de Édipo, depoimento; Analisando os mecanismos de defesa, as resistências e o suicídio, fizemos as considerações finais e as referencias.

Palavras – chave: Vida, Psique, Construção, Trauma, morte.

1 INTRODUÇÃO

Segundo Piaget (s/d) apud La Taille (1992), a construção do individuo se dá no seio familiar, onde a formação moral dos pais, sendo a ética profissional, ética familiar, temperamento, caráter, a personalidade é lida, copiada e integrada a uma realidade onde na atualidade, os canais de TV, os vizinhos, amigos de infância, bem como as ações psíquicas ligadas a espiritualidade, vão dando elementos que serão abstraídos até a idade dos seis anos de idade; após, pondo mais o elemento do ambiente escolar, onde serão confrontados com mais amigos, professores, teorias e credos diferentes.

Todas as etapas do desenvolvimento cognitivo são importantes para a construção da personalidade do indivíduo. Segundo Piaget (s/d), a partir do estágio operatório as trocas intelectuais iniciarão e com elas a criança alcançará o que ele denominou personalidade.

Freud (1976) versa sobre a angústia como sendo um elemento nocivo, onde as realidades diárias ganham uma dimensão de sofrimento, onde o juízo é feito nas disparidades das diferenças, somando a psique: Revolta, ódio incomensurável e desprezo a pobreza familiar a realidade pessoal. Logo o principio do prazer advém do sentir-se igual ou melhor, mas nunca inferior. A condição familiar expõe a criança, o jovem e mesmo o adulto a uma reflexão ainda que seja no ambiente secreto do inconsciente, (aquilo que sinto vergonha de sentir ou desejar), ainda assim, soma as reflexões diárias e noturnas, construindo um sentimento, formando um impulso de rejeição, um desejo de ação, onde a violência ganha forma contra pais, professores, governo, autoridades e Deus.

Para Freud (1976), as pulsões não estariam localizadas no corpo e nem no psiquismo, mas na fronteira entre os dois e teriam como fonte o Id (isso). A pulsão de vida seria representada pelas ligações amorosas que estabelecemos com o mundo, com as outras pessoas e com nós mesmos, enquanto a pulsão de morte seria manifestada pela agressividade que poderá estar voltada para si mesmo e para o outro. O princípio do prazer e as pulsões eróticas são outras características da pulsão de vida. Já a pulsão de morte, além de ser caracterizada pela agressividade traz a marca da compulsão à repetição, do movimento de retorno à inércia pela morte também.

Embora pareçam concepções opostas, a pulsão de vida e a pulsão de morte estão conectadas, fundidas e onde há pulsão de vida, encontramos, também, a pulsão de morte. A conexão só seria acabada com a morte física do sujeito.

Podemos constatar o enlaçamento existente entre as pulsões na dinâmica da neurose da angústia. A pulsão de morte no sujeito será a responsável pela elevação da tensão ou excitação libidinal que será escoada pela pulsão de vida que levará o indivíduo, impulsionado pelo princípio do prazer, a procurar objetos que venham minimizar os impactos da angústia.

Os conceitos de pulsão de vida e pulsão de morte concebidos por Freud foram importantes para a construção da teoria psicanalítica, pois proporcionou um novo entendimento sobre os registros do inconsciente, ampliando os estudos e concepções sobre o psiquismo humano.

uma pulsão é um impulso inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior as coisas, impulso que a entidade viva foi obrigada a abandonar sob a pressão de forças perturbadoras externas, ou seja, é uma espécie de elasticidade orgânica, ou para dizê-lo de outro modo, a expressão da inércia inerente a vida orgânica.(FREUD, 1976 p.47)

1.1 O PROBLEMA

A sociedade brasileira questiona os motivos de atitudes de barbárie nos diversos segmentos sociais, os porquês tem uníssono nas classes diversificadas e é objeto de estudo de entidades governamentais, entidades de classes e as diversas formas de representações militares, judiciais e também dos legislativos Municipais, empenhadas em dar uma resposta que venha a minimizar, ou pelo menos, delinear um cenário menos aterrador para o futuro, pois o que a mídia grita aos ouvidos incautos todos os dias, é que por algum motivo, aquela criança foi aliciada, usada para pratica de roubos e assassinatos, que a justiça não pode punir e que a violência ganhou novas formas de expressão e modos.

A base da sociedade, a célula mater, está deformada, produzindo seres nocivos e arrogantes, com postulados de cultos onde a musica é prova cabal da desarticulação mental, onde a lei é inimiga e o aliciador é desejável, onde os pais são estorvo e a droga é o bem maior.

Segundo Giddens (2003, p.33), risco corresponde a “infortúnios ativamente avaliados em relação a possibilidades futuras”. Logo o futuro é algo a ser conquistado, onde possibilidades de acontecimentos afetam vidas, isto nos remete a realidade do trabalho manual mal remunerado, se mi escravo, onde o confronto com as realidades mostradas nas telas de televisão, onde ambientes de luxuria e fartura, aliada a ilusão da satisfação das beldades, em dinheiro, lazer, fortuna herdadas, onde piscina e caviar são a constante, dão uma ênfase a revolta e produz o desejo de morte, leva ao sadismo e ao despertar de velhos rancores, alimentando uma cadeia de ruptura com Deus, com sistema de produção, rejeição a fraternidade e ao amor.

De acordo com Barros, nas famílias saudáveis o ambiente é acolhedor continente, podendo as relações entre seus membros serem caracterizadas como amorosas, carinhosas e leais. Já nas famílias disfuncionais, o ambiente é disjuntivo e os relacionamentos assumem características de ódio, culpa e vingança. (BARROS, 1999, p.186).

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Buscar a compreensão das possíveis causas e dos traumas na construção do individuo, do princípio do prazer, da angústia, até ao suicídio.

1.3.2 Objetivos Específicos

Analisar os mecanismos de defesa, qualidades e anomalias humanas e suas relações com a base de condutas exigidas pela sociedade.

Apresentar casos para reflexões, tanto dos pais, docentes e discentes, ressaltando a natureza humana.

Contribuir para com professores, psiquiatras, psicólogos com elaboração desta pesquisa cientifica e publicá-la na internet e expô-la a mídia.

Estruturar um programa de trabalho para o profissional da educação, onde possa buscar com os pais e discentes, as causas dos desvios do padrão de conduta normal, ante a ética e os conceitos da moral, visando promover um trabalho de prevenção.

1.4 Metodologia

O estudo Aplicará o método dedutivo, com apresentação de estatísticas de suicídios, usando instrumentos de pesquisa literária e internet.

Analisará os escritos sobre Pulsões de Morte, Princípios do Prazer e também sobre os Mecanismos de defesa.

Estudo de caso especifica sobre violência sexual familiar, levando em considerações o parecer social do caso.

Considerações de Assistente Social do Município de Paranaguá, sobre a questão da homossexualidade e a visão da transformação na construção, através da orientação de ética e moral.

1.5 Justificativa

A formação do ser é relegada em nosso país, nossa sociedade é egocêntrica e avarenta, ou seja: Temos construído indivíduos voltados para si mesmos e focam somente o ganho pessoal.

As famílias brasileiras são debochadas e escarnecedoras, motivo pelo qual o bulling em nossa sociedade é cultural. As crianças aprendem a zombar, diminuir e ridicularizar os demais; É necessária uma iniciativa de contra cultura, para podermos construir uma sociedade que não produza tanta gente violenta, tantos bêbados e nosso sistema carcerário, possa voltar a ter números menos alarmantes.

Os casos de alunos que atiram, ofendem, agridem professores, é um espelho, um reflexo da cultura brasileira. Pais e mães vivem de maneira grotesca, não sés preocupam com quem estão formando e o que estão formando. Temos vivenciado através da mídia, estarrecidos com alunos que matam, alunos que destroem, alunos que vão para o sistema de detenção de menor infrator.

O governo é corrompido pela necessidade de agradar e angariar simpatia de uma população corrupta, pessoas que vendem votos, que troca sua dignidade e seu futuro por míseros trocados. O sistema tenta até mesmo proibir a mídia de divulgar os casos de corrupção e o dizer que as famílias estão encarcerando o futuro de uma grande quantidade de jovens é agressivo e perigoso politicamente.

A formação é matéria para pais e alunos, bem como para Municípios e Estados, é necessário a conscientização da seriedade da base familiar e da importância da qualidade do professor em sala de aula. Aula onde o sistema prisional, onde a neurose social, onde a demanda de emprego e renda, seja informado desde os primeiros anos letivos, para que o brasileiro saiba quem é, o que é, e o que pode vir a ser.

É urgente que se dê cursos, se ensine nas escolas primárias e nas Faculdades, o que ocorre com a criança dos dois aos quatros anos, dos cuidados com a mente em formação, com os cuidados com o que dá de informação e com o que deixa acessar. Os perigos dos meninos se fecharem para a masculinidade, ou as meninas se fecharem para a feminilidade.

2. A CONSTRUÇÃO DO SER: FAMÍLIA E ESCOLA.

A todo o momento são incorporadas informações à mente do infanto, o que é fundamental para o desenvolvimento emocional e social.

Na interação diária com pessoas e objetos, o eu vai se desenvolvendo, acontece a formação moral e psicológica.

Os erros nesta fase de interação são normais, pois na realidade é um aprendizado constante, onde as experimentações são a constante.

As emoções de tristeza e alegria, exultação e desalento, somam-se e o mesmo encontra o conforto e estimulo em seus familiares.

A vida não pode ser construída em isolamento, pois o humano requer interação à experiência do aprendizado, caso contrário, a angústia a tristeza pode ser à constante em uma mente em formação.

O ser humano mesmo adulto, é carente daqueles a quem ama, é orientação dos médicos, a necessária presença dos parentes e amigos na fase adulta, logo, muito mais necessária é na formação, na infância.

A consciência deve surgir na vida, com a normalidade familiar, em ambiente de harmonia, pois a prática e a equação da interação social com pessoas e objeto geram o ser que vai estabelecer o real e o subjetivo em sua mente.

Segundo Piaget (1982), nas várias etapas da construção do ser social, temos o período sensório motor, que vai do nascimento até aos dois anos. É uma fase de experimentação através do toque, onde são usados reflexos inatos, desenvolvendo-os. Logo após surge a fase da simbologia, onde ele muda a forma de lidar com o meio, tendo então uma capacidade mais ampla em articulação, a qual Piaget chama de fase pré-operatória. Nesta fase, o ser tendo obtém a capacidade de algumas articulações desenvolvidas agrega a fala o que o capacita a esquemas representativos, ou seja, a criança já pode ter idéias pré-concebidas das coisas.

A concepção da inteligência esta estabelecida, o sujeito é capaz de estabelecer ações e criar pensamentos em torno de si mesmo.

Piaget (1982) denominou esta fase de egocentrismo, pois a criança aqui não se coloca em lugar de outro, mas vê apenas a partir de si mesmo, não podendo ter outro ângulo para reflexão.

Nesta fase a criança sugere vida a objetos inanimados, vendo-os como se fossem seres com vida, interagindo com os mesmos em ações e diálogos.

Ainda na fase pré-operatória, a criança não pode compreender noções como conservação, permanência ou deformação das coisas.

Na idade entre os sete e oito anos, a criança muda de fase, iniciando o operatório concreto, utilizando pensamentos concretos para auxiliar na formação de seus pensamentos, coisa que até então não fazia.

Nesta idade ela começa a construção do “eu”, ou seja, de posse desta capacidade analítica, ela começa a produzir, definir sua personalidade.

A família é essencial na formação de reações, pois as emoções negativas imprimem à psique da criança, sendo que estas o acompanharão e serão reflexos de suas ações, bem como terá base, em todos os seus sistemas de relacionamento e aprendizagem.

Segundo Piaget (1982), o ambiente de maior relevância e contribuição para a ampliação das capacidades cognitivas é a escola. Na escola o ser recebe impactos sobre a sua capacidade de avaliação e julgamento.

A família é a base ampla, tem papel extraordinário na formação e na acomodação da confiança, segurança e bem estar. Em seguida vem a escola, onde a criança recebe informações e aprende em área relacional, cresce sua capacidade em gama de envolvimento pessoal e o expõe a contrastes com os esquemas mentais desenvolvidos nos relacionamentos com a família.

Os enfrentamentos com os terceiros são contundentes e expõe o ser a realidade que o permeara vida afora. Estes enfrentamentos fará com que reformule seus conceitos concebidos e os complemente com a realidade escolar, profissional. O processo mental é aprimorado no mundo como um todo e a soma destes enfrentamentos o capacitará ou não a assumir posições profissionais, políticas, religiosas.

A capacitação da estrutura neurofisiológica é de relevância primordial, pois no esporte e no lazer, nos relacionamentos amorosos, em tudo terá a necessidade da capacitação, caso contrário, desenvolverá neuroses, estará reprimindo sentimentos e desejos, o que é maléfico e precisa ser esclarecido por pais e professores, pois a criança e o jovem são a oportunidades que os construtores, pais e professores, têm para corrigir, para fazê-los compreender o caminho da estruturação mental e física, que dará o suporte para a felicidade.

Para Alves (1994, p.19) “A felicidade mais alta é a felicidade da razão, que encontra sua expressão na obra do artista”. Pois que coisa mais deliciosa haverá, do que tornar sensível à beleza ? “Mas esta felicidade suprema é ultrapassada na felicidade de gerar um filho ou educar uma pessoa.”

A estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação. O indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-lo, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inserí-lo num sistema de relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo. O que implica os dois pólos da atividade inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência ou estruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito. É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar" (Piaget, 1982 p. 389).

3. PROFESSOR E ALUNO

Segundo Houser (2006), existem dois grandes movimentos identificatórios, constitutivos da personalidade: a identificação primária e a identificação secundária. Identificação primária: o modo primitivo de constituição do sujeito sobre o modelo do outro, correlativo da relação de incorporação oral, visando, antes de mais nada, a assegurar a identidade do sujeito, a constituição do si-mesmo e do eu. Identificação secundária: é contemporânea do movimento edipiano, se fazendo sucessivamente em relação aos dois pais, em suas características sexuadas, e constitutiva da identidade sexuada e da diferenciação sexual.

Há professores que são indiferentes ao processo de construção do ser, para alguns, os traumas, as carências psíquicas, o elemento que faria diferença na melhora da qualidade do aprendizado é desprezado.

Há os que são inclusivos e desenvolvem afetos, mas nunca deveria o professor esquecer-se da necessidade relacional, levando sempre em consideração que a criança é um ser em construção, que a formação psico-social está acontecendo naquelas vidas todas e que o percentual do tempo passa de maneira significativa pela escola, pelo professor.

O norte de uma vida deveria ser de responsabilidade da família, mas muitas vezes é o professor que conduzirá a conduta de firmeza, de hombridade, de feminilidade.

A admiração e o respeito desenvolvido muitas vezes são em função da ausência da figura paterna em casa, ou o desprezo da figura que se tem, pois não sendo um pai natural, sendo um cuidador agressivo, a criança transfere à qualidade que vê no professor, a possibilidade de se acomodar, nesta personalidade, neste temperamento, ou na força do caráter.

Existem papeis desprezíveis também na escola, há homens e mulheres que somaram recalques e frustrações, não satisfeitos com suas realidades, tornam seus alunos alvos de maledicências e infâmias, demonstram uma agressividade e rancores inadmissíveis. Às vezes possuem uma sede infantil também e precisam de atenção tal qual as crianças, querem ser populares e agradáveis, e a sala de aula acaba sendo um campo de afetividade incoerente. É necessário que o professor entenda sua hora e seu lugar, trabalhe a construção individual como colaborador de uma obra, não afetando os alunos com falsas demonstrações de afeto, pois que a hipocrisia, a mentira é destrutiva, fará mal a formação moral e social dos educando. O professor deve ser orientado a trabalhar sem buscar a satisfação de seu ego, deixar a vaidade e revestir-se de domínio e verdadeiro senso de responsabilidade para com as vidas que lhe apresentam.

A seriedade da construção do ser passa pela formação de professores de qualidade, pois que muitas famílias estão decepadas, onde padrastos são agressores, avós é mãe de muitos e tios são pais emprestados, os quais não tem a estrutura emocional e financeira para dar conta da responsabilidade assumida.

Segundo MARCHAND (1985) quando dois seres colocados um em frente ao outro estão em “situação de troca” quando um, oferecendo uma parte de si mesmo ao outro, recebe desta outra, e vice-versa.

Conforme BERGERET (2006), a identificação é uma atividade afetiva e relacional indispensável ao desenvolvimento da personalidade. Como todas as outras atividades psíquicas, a identificação pode, por certo, ser utilizada igualmente para fins defensivos.

Dar e receber é um processo complementar, ensinar e aprender não pode ser apenas a locução, mais a agregação de uma parceria salutar, construtivista, onde a escola seja reconhecida pela sociedade como lugar de promoção a cultura e a educação, não apenas de cultura como afirmam alguns, mais a mão complementar da família, parceiros com a finalidade de um trabalho comum, grandioso, que trabalhar a formação do homem integral.

A contribuição do professor para a capacitação emocional pode ser reconhecida pelo mesmo ou não, porém o fato de desejar relegar, ou de atribuir a família tal missão, não o isenta da realidade patente; O professor está diariamente de frente com um que se transforma, um ser que recebe, analisa, conclui e acomoda. Não há mais lugar em nosso tempo para debates sobre a verdade que o tema carrega, as diferenças entre as capacidades de formação familiar é verdadeira, mas a realidade é que todos estão entregues ao papel formador do professor. A parceria entre professor e aluno é confirmada a cada instante, cada gesto e palavra,

pode o aluno fazer o professor sentir e pode o professor cumprir este papel, o que está estabelecido é constante, é diário e a escola de professores precisa capacitá-los a entender, aceitar e preparar-se para esta missão na integralidade da mesma.

Para MARCHAND (1985, p.25), “Toda educação supõe a presença de dois seres bem concretos o que dá e o que recebe estando seus integrantes submetidos a interações psicológicas recíprocas...”.

De acordo com LAPLANCH E PONTALIS (1982, p.14) “um processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade ou um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, a partir do modelo deste. A personalidade se constitui e se diferencia por uma série de identificações.”

O papel do docente junto ao discente há que ser responsável, pois na interação deste relacionamento, pode acontecer de aceitação ou não aceitação, pode haver momentos confortáveis e ou desagradáveis. O discente ao interagir, busca firmar-se como alguém que aceito, se torna pessoa agradável ao docente, porém o contrário torna o exercício diário contundente e falível.

O docente pode nutrir sentimentos variados como ser humano, pode ver aflorar alegria com a presença de um, mas constranger-se com a presença de outro, dependendo da formação familiar do discente e do docente, da constituição psico-social de ambos. Podemos ver indiferenças por credo, raça e cor, enfim, o despreparo é real e não importa o que se diga ou a que tese se defenda, a construção da obra é primordial.

Nos sentimentos desenvolvidos entre as relações, está os que podem conduzir o desinteresse a matéria, a confirmação de idéias de baixa estima e de confirmação de revolta por sentir-se diminuído ou ridicularizado.

O professor pode ser de valor inestimável ao aluno, um referencial de conduta e de qualidades que afetará fortemente suas convicções e o conduzirá a valores reais ao seu futuro. Estes sentimentos são, na maioria dos casos de cunho estritamente particular, onde cada discente receberá e trabalhará muito particularmente as ações, palavras e credos de seu mestre.

O professor que é capaz de entender os sentimentos e atitudes de seu parceiro de aula, compreende como suas palavras afetará a psique do mesmo, logo é mister o empenho de ter informações dos discentes, conhecendo-os e preocupando-se com o futuro de cada um.

Todo marginal sentou-se um dia à frente de um professor, recebeu informações, sentiu-se amado ou desvalorizado, foi estimulado e orientado, ou recebeu repreensões e palavrões. Devemos reorientar as atitudes dos profissionais, ou eles já possuem as qualificações necessárias para uma construção edificante.

Segundo MARCHAND (1985, p.27), “Quando duas pessoas se encontram para conversar, há uma tomada de posição sentimental, irrefletida e muitas vezes repentina, motivando a simpatia ou a antipatia que vai influir em todo o diálogo”.

Os sentimentos facciosos podem desencaminhar alunos, criar uma situação de anemia mental, desinteresse, como se o fracasso já é fato consumado em suas vidas. O docente que reconhece esta situação, que luta pelo restabelecimento da força e da ousadia, da coragem para buscar o aprendizado, este deve ser louvado.

Há também os docentes que se revestem de um orgulho, como se fossem o próprio senhor da escola, acham que impuseram de tal forma aos discentes que os mesmos agora são uma espécie de criações particulares. Há que se entender que concluindo o melhor do seu trabalho na construção do ensino aprendizagem, deve se considerar que foi feito apenas a obrigação, pois que nada mais é do que a obrigação de cada docente, a manutenção da verdade psíquica e dos valores de família e escola, a formação do ser.

4. A SEXUALIDADE INFANTIL

Houve três ensaios sobre a teoria da sexualidade por Freud, na qual o mesmo processou uma investigação sobre a questão. Analisou amplamente o aspecto psico-sexual em suas fases distintas: A fase oral, a fase anal e a fálica, sendo as fases dos: 0 a 1,5 anos – 1,5 aos 3,5 – 3,5 aos 6 anos respectivamente.

Conforme FREUD (1997), na faixa etária de seis anos que se dá a percepção da diferença dos sexos, vindo então a criança a focar por sua curiosidade, a questão libidinal torna-se a constância mental do infanto. É obrigação dos pais a orientação, o ensino amplo e suficiente na matéria, pois caso contrário pode se estabelecer exageros e até situações desagradáveis a toda a família, pela curiosidade e legitimo desejo de obtenção de satisfação a respeito da matéria.

No passado era um tabu estabelecido, devido à falta de capacidade em informações e liberdade sobre o tema. Porém hoje é descabido a não orientação, devido a abundância de informações em revistas e internet.

Para FREUD (1997), é nesta fase que surge o complexo de Édipo nos meninos, chegando o mesmo a ri validar com a figura paterna, os carinhos e afetos da mãe. Já nas meninas o complexo de Édipo se estabelece e é definitivo, não deixando jamais a psique da mesma.

4.1 Complexo de Édipo nos meninos

A partir dos três anos de idade, os meninos focalizam o seu prazer sobre o pênis. Nessa idade, o pênis se torna a parte do corpo mais rica em sensações e se impõe como a zona erógena dominante. Porém, aos quatro anos, o pênis não é apenas o órgão mais rico em sensações. É também o objeto mais amado e o que reclama mais atenções. Assim, tal culto ao pênis, característico dessa idade, o eleva ao nível de símbolo de poder e de virilidade. Quando o pênis se torna, aos olhos de todo o representante do desejo, ele recebe o nome de FALO. O falo não é o pênis enquanto órgão. E um pênis fantasiado, idealizado, símbolo da onipotência e do seu avesso. Excitado sexualmente, o menino de quatro anos vê surgir dentro de si uma força misteriosa, até então desconhecida: o impulso de se dirigir ao outro, ou, mais exatamente, de se dirigir aos seus pais - aos corpos deles - para ali encontrar prazer. Mas que desejo é esse? É um desejo sexual. Os três movimentos fundadores desse desejo do menino são: desejo de possuir o corpo do outro, desejo de ser possuído e desejo de suprimir. Ora, sem ser possível atingir a satisfação desses três desejos incestuosos - obter o gozo absoluto de possuir o corpo da mãe; ser possuído pelo pai (ser sua coisa e fazê-lo gozar); e o gozo absoluto de suprimir o pai - o menino cria fantasias que lhe dão prazer ou angústia, mas que, de toda forma, satisfazem imaginariamente seus loucos desejos. Nessa idade, porém, o menino tem uma visão do corpo nu feminino, o qual é desprovido de pênis. Ele, que antes pensava que todas as pessoas no mundo possuíam um falo, agora percebe que existem seres castrados, sem pênis. Então, surgem as fantasias de angústia, pois, se existem seres que não possuem pênis, ele também pode perder o seu. Essas fantasias de angústia são: o medo de ser castrado pelo pai repressor, o medo de ser castrado pelo pai sedutor e o medo de ser castrado pelo pai rival. Dessa angústia de castração vem a resolução da crise edipiana, que consiste em três etapas: 1) recalcamento dos desejos; 2) renúncia aos pais como objeto de desejo e 3) incorporação dos pais como objeto de identificação.

4.2 Complexo de Édipo nas meninas

O Complexo de Édipo se desenvolve de forma um pouco diferente nas meninas. Elas passam primeiramente por uma fase pré-edipiana. Ao passo em que um menino de quatro anos tem três desejos incestuosos - de possuir, de ser possuído e de suprimir o outro -, a menina tem apenas um: o de possuir a mãe. Neste período, ela julga deter, assim como um menino, um falo, e se sente onipotente. Mas um evento crucial ofuscará o orgulho da garotinha: ela verá o corpo nu masculino, dotado de um pênis, e verá que o menino possui algo que ela não tem. A reação da menina é de decepção: "Ele tem algo que eu não tenho!". Até então, fiava-se em suas sensações de poder vaginal e clitoridiano, que a confortavam em seu sentimento de onipotência. Agora que viu o pênis, duvida de suas sensações, e julga que o poder está no corpo do outro, no sexo masculino. A menina vê-se assim dolorosamente despossuída, pois o cetro da força não é mais encarnado por suas sensações erógenas, mas pelo órgão visível do menino. Aqui, então, ela sofre com a dor de ter sido privada do falo. Enquanto o menino sente a angústia de castração, a menina vive a dor de uma privação, de uma perda. Lembrem-se que o que levou o menino à resolução do Édipo foi a angústia de castração, isso é, o medo de perder o falo. Mas a menina constata que ela não tem o falo, isso é, não tem nada a perder. Enquanto o menino sofre uma angústia, a menina sofre uma dor real - uma dor de ter sido privada de algo que ela julgava possuir. Ela sente-se então enganada. Mas quem teria mentido pra ela dizendo-lhe que ela possuía um falo todo-poderoso, senão a sua mãe? Sim, a onipotente mãe mentiu a ela sofre o falo, um falo que ela mesma também não possui. Uma mãe desprovida de falo, assim como ela, e que merece agora apenas desprezo. É nesse exato momento que a menina, despeitada, esquiva-se da mãe, e em sua solidão, fica furiosa por ter sido privada e enganada. Ao constatar o falo no menino, com seu orgulho ferido, ela sofre, sente-se lesada em seu amor-próprio e reivindica o que acha que lhe é de direito

4.3 Depoimento da Missionária M. da I P B.

No relato da missionária M. da IPB., ao trabalhar com a evangelização de crianças, visitando as famílias num total de 15 famílias, durante um período de oito anos em localidade próxima, observei que um menino tinha trejeitos afeminados, e sentia fortes ciúmes da irmã. O mesmo, com o tempo, contou que a irmã recebia atenção especial por ser menina e que o padrasto a possuía sempre e dava dinheiro e presentes a mesma. Ele contou também que sentia forte desejo de ser a irmã, ou de ser menina. Quando confrontado a respeito do pecado ai existente, pelo fato de ele praticar sexo não natural, foi aos poucos buscando o comportamento diferente, engrossando a voz, deixando a postura de rebolar. Se interessou por música, aprendeu musica, arrumou emprego e com o tempo começou a se interessar por meninas, arrumou namorada e hoje é completamente transformado, um homem que ninguém pode identificar como um afeminado.

4.4 Estágios do Complexo de Édipo

Segundo Klein e Segal (1997), os estágios iniciais do complexo de Édipo começam durante a posição depressiva. Klein supôs um conhecimento inato dos genitais de ambos sexos, com fantasias orais e genitais influentes desde o nascimento em diante. O desejo por dependência oral da mãe é deslocado para o pai. Ansiar pelo seio bom torna-se um desejo pelo pênis do pai. O seio mau é também deslocado para o pênis mau. A predominância nos meninos de uma boa imagem do pênis do pai promove o desenvolvimento do complexo de Édipo positivo; confiar em um pai bom e dotar a mãe com um pênis bom inicia um complexo de Édipo positivo em meninas. Quando a agressão predomina, o menino edípico vê o pai como um perigoso castrador potencial. O medo de castração é, de fato, o medo do desejo oral-sádico projetado de destruir o pênis do pai. Este medo torna a identificação com o pai difícil e predispõe à inibição sexual e medo de mulheres. Culpa em relação à agressão em direção ao pai reforça a repressão do complexo de Édipo. Boas experiências orais em meninas resultam na expectativa de um pênis bom; esta expectativa baseia-se na experiência de um seio bom. Agressão excessiva em meninas pode dar lugar a fantasias inconscientes de roubar a mãe do amor, do pênis e dos bebês do pai e pode estimular medos de retaliação materna. Em meninas, os desejos orais e genitais pelo pênis do pai combinam com inveja do pênis desenvolvendo-se como um derivativo da inveja do seio interior. Deste modo, a inveja do pênis deriva de sadismo oral e não é uma inveja primária dos genitais masculinos ou um aspecto primário da sexualidade feminina.

Ainda conforme Klein e Segal (1997), à medida que a cisão decresce durante o primeiro ano de vida, a criança torna-se ciente de que bons e maus objetos externos são em realidade um só. Os bebês então reconhecem sua agressão em direção ao objeto bom e também reconhecem os aspectos bons das pessoas a quem eles atacaram por ser más. Este reconhecimento corta o mecanismo de projeção. Além disso, as crianças tornam-se cientes das suas próprias partes infernais, mas, em contraste com o medo de prejuízo externo encontrado na posição esquizo-paranóide, o medo principal na posição depressiva é de prejudicar os objetos externos e internos bons daí a necessidade para o superego.

Klein e Segal (1997) defendem que a tarefa emocional principal da posição depressiva é lidar com o medo do ego de perder os objetos externos e internos bons. As reações emocionais correspondentes são ansiedade e culpa. A preservação de objetos bons torna-se mais importante do que preservar o próprio ego. Objetos maus internalizados que foram anteriormente projetados compõem o ego primário, o qual ataca o ego com sentimentos de culpa. Os maus objetos dentro do superego, conforme observado acima, podem contaminar os bons objetos internos do superego que se tornaram incorporados no superego devido às suas demandas por determinados tipos de comportamento (eu amarei você se você fizer bem as suas tarefas; eu aceitarei você apenas se você trabalhar duro).

Na teoria psicanalítica os neuróticos são atormentados por sentimentos de culpa constantes, pelo fato de possuírem um superego forte e um ego fragilizado. Tais sentimentos tendem a impossibilitar ou diminuir a expressão pulsional, o que provoca nele um sentimento, freqüente, de frustração. Ao passo que, os psicóticos são indivíduos dominados pelo seu id, pois, em decorrência da quebra de suas defesas, eles perderam o contato com a realidade. O ego precisa ser restaurado para que ele volte aos padrões normais de funcionalidade. Segundo (Klein e Segal 1988 p.40) O complexo de Édipo é o núcleo das neuroses. Isso significa que, a menos que aprendamos a chegar a um acordo com nosso amor e ódio ambivalentes em relação aos nossos pais e possamos aceitar os sentimentos edipianos, não negá-los, reprimi-los ou encená-los, nunca poderão formar relacionamentos emocionais adequados com outras pessoas, e a necessidade de expressar e receber afeição, conforme é vista na criança, nunca poderá ser satisfeita. Essa é uma causa primária da perturbação neurótica . Por outro lado, percebemos nos psicanalistas uma tendência para enfatizar os aspectos destrutivos da natureza humana.

Freud (s/d) fez diversos comentários sobre a supressão do conteúdo psíquico desagradável em sua nona conferência que tratava da censura onírica. O auditório protestava contra o fato de que a psicanálise atribuía muito do comportamento a uma predisposição fundamental para o mal. Riviere (s/d) apud Stefflre & Grant (1976), procurou mostrar que o auditório não enxergava a vileza egoística da natureza humana e o fato de que o homem não é muito digno de confiança a tudo o que se refere a vida sexual. Falou ainda da guerra que devastava a Europa, dando a entender que tanta destruição não poderia ser desencadeada por uns poucos homens ambiciosos e sem princípios, se essas tendências destrutivas não existissem na maior parte da humanidade. Afirma Freud (1976) que não era o propósito negar a nobreza humana, nem fazer nada para diminuir seu valor, ao contrário, mostrar não apenas o desejo do mal que é censurado mas também a censura que o suprime e o torna irreconhecível.

4.4 Mecanismos de Defesa

De acordo com Bergeret (2006), constituem operações de proteção postas em jogo pelo Ego ou pelo Si-mesmo para assegurar sua própria segurança. Os mecanismos de defesa não representam apenas o conflito e a patologia, eles são também uma forma de adaptação, o que torna as defesas um aspecto doentio é sua utilização ineficaz ou então sua não adaptação às realidades internas ou externas.

Os mecanismos de defesa fazem parte dos procedimentos utilizados pelo Eu (EGO) para desempenhar suas tarefas, que em termos gerais consiste em evitar o perigo, a ansiedade e o desprazer.

Entre os mecanismos de defesa é preciso considerar, por um lado, os mecanismos bastante elaborados para defender o Eu (EGO), e por outro lado, os que estão simplesmente encarregados de defender a existência do narcisismo.

Discorrendo sobre o tema, Freud (1937) diz que mecanismos defensivos falsificam a percepção interna do sujeito fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada.

Conforme Fenichel (2005), as defesas patogênicas, nas quais se radicam as neuroses, são defesas ineficazes, que exigem repetição ou perpetuação do processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção de impulsos indesejados; produz-se um estado de tensão com possibilidade de irrupção.

Foi a partir de um desses mecanismos, o recalque, que o estudo dos processos neuróticos se iniciou. Não obstante, o recalque é algo bastante peculiar, sendo mais nitidamente diferenciada dos outros mecanismos do que estes o são entre si.

Os primeiros tradutores de Freud utilizaram o termo “Ego” para dar conta do Ich alemão. Em alemão Ich é um pronome pessoal da primeira pessoa do singular empregado no nominativo, ou seja, sujeito individual ativo da ação. Ich não corresponde portanto, ao ego, que traduziria o Mich alemão, ou seja, um acusativo utilizado para designar o objeto referido pelo verbo, isto é, aqui, o sujeito tomado a ele mesmo (quer dizer, Si-mesmo), ou seja, seu Si-mesmo como objeto.

Segundo Bergeret (2006), esse processo concerne à relação narcisista e não a relação de ordem genital, em que o sujeito Eu visa, justamente, a um outro objeto.

Existem mecanismos de defesa encarregados de defender as diferentes instâncias da personalidade (id, Ideal de Si-mesmo, Ideal do Ego, Superego) de um conflito que pode nascer entre elas, assim como conflitos que podem opor o conjunto de todas as instâncias (inclusive o Eu e o Si-mesmo) contra algumas provenientes da realidade exterior; ou ainda exclusiva e excessivamente de um mesmo tipo, o que faz com que o funcionamento mental perca a sua flexibilidade, harmonia e adaptação.

Estes mecanismos mais elaborados concernem ao Eu (ego), enquanto que de natureza mais primitiva se refeririam antes ao Si-mesmo.

Os mecanismos de defesa não se reduzem apenas ao clássico conflito neurótico. Quando se trata de uma organização de modo neurótico, genital e edipiano, o conflito se situa entre as pulsões sexuais e suas proibições (introjetadas no superego). A angústia, é então, a angústia de castração, e as defesas operam no sentido de diminuir essa angústia, seja facilitando a regressão em relação à libido, sendo organizando saídas regressivas, por exemplo auto e alo-agressivas, retomando e erotizando a violência instintual primitiva.

Nas organizações psicóticas toda uma parte predominante do conflito profundo dá-se com a realidade. A angústia é uma angústia de fragmentação, seja por medo de um impacto violento demais por parte da realidade, seja por temor por perda de contato com essa realidade. As defesas contra a angústia de fragmentação podem operar de modo neurótico. Esse tipo de defesa muitas vezes não basta, e, é quando surgem as defesas próprias ao sistema psicótico: autismo (tentativa de reconstituição do narcisismo primitivo, com seu circuito fechado); recusa da realidade (em todo ou em parte), necessitando às vezes de uma reconstrução de uma neo-realidade, o conjunto desses processos conduzindo à clássica posição delirante.

Bergeret (1988) salienta que no grupo dos estados limítrofes o conflito se situa entre a pressão das pulsões pré-genitais sádicas orais e anais, dirigidas contra o objeto frustrante e a imensa necessidade de que o objeto ideal repare essa ferida narcísica por uma ação exterior gratificante. A angústia que disso decorre é a angústia de perda de objeto, a angústia de depressão. As defesas, nesse caso serão essencialmente centradas nos meios de evitar essa perda e devem conduzir a um duplo maniqueísmo: clivagem interna entre o que é bom (ideal do self) e mau (imediatamente projetado para o exterior), e clivagem externa (entre bons e malvados: não Si-mesmo). Há uma tentativa de aliviar a ferida narcísica arcaica por um narcisismo secundário em circuito aberto, árido, mas impotente para preencher a falta narcísica fundamental.

O mesmo Bergeret diz tratar-se de sujeitos que manifestam uma imensa necessidade de afeto; tratam pois, de se mostrarem sedutores, sua luta contra a depressão obriga-os a uma incessante atividade. Sua dificuldade para envolver-se, coloca-os na necessidade de tornarem-se disponíveis e adaptáveis a todo e qualquer momento, na falta de poderem estar real e duravelmente adaptados.

Habitualmente em psicopatologia agrupam-se entre as defesas ditas “neuróticas” o recalque, o deslocamento, a condensação, a simbolização, etc. e entre as defesas ditas “psicóticas”, a projeção, a recusa da realidade, a duplicação do ego, a identificação projetiva, etc.

Entretanto encontram-se estruturas autenticamente psicóticas que se defendem contra a decomposição graças às defesas de modalidade neurótica, mais particularmente obsessiva, por exemplo. Há casos de estruturas autenticamente neuróticas que utilizam abundantemente a projeção ou a identificação projetiva em virtude do fracasso parcial do recalque e diante do retorno de fragmentos demasiado importantes ou inquietantes de antigos elementos recalcados, cujos efeitos ansiogênicos devem ser apagados, de modo certamente mais arcaico e mais custoso, e igualmente mais eficaz. É possível também encontrar angústias de despersonalização em uma desestruturação mínima, de origem traumática (por exemplo), sem que tais fenômenos possam ser atribuídos a qualquer estrutura específica.

Conforme Bergeret (1998), deve-se ter a prudência de falar apenas em defesas de modalidade “neurótica” ou “psicótica”, sem fazer previsões acerca da autenticidade da estrutura subjacente. Contudo, Freud (1937/1976) lembra que as defesas servem ao propósito de manter afastados os perigos. Em parte, são bem-sucedidos nessa tarefa, e é de duvidar que o ego pudesse passar inteiramente sem esses mecanismos durante seu desenvolvimento. Mas esses próprios mecanismos, que a priori, são defensivos podem transformar-se em perigos. O ego pode começar a pagar um preço alto demais pelos serviços que eles lhe prestam. O dispêndio dinâmico necessário para mantê-los, e as restrições do ego que quase invariavelmente acarretam, mostram ser um pesado ônus sobre a economia psíquica. Tais mecanismos não são abandonados após terem assistido o ego durante os anos difíceis de seu desenvolvimento.

Nenhum indivíduo, naturalmente, faz uso de todos os mecanismos de defesa possíveis. Cada pessoa utiliza uma seleção deles, mas estes se fixam em seu ego. Tornam-se modalidades regulares de reação de seu caráter, as quais são repetidas durante toda a vida, sempre que ocorre uma situação semelhante à original. Concedendo-lhes um teor de infantilismos. O ego do adulto, com sua força aumentada, continua a se defender contra perigos que não mais existem na realidade; na verdade, vê-se compelido a buscar na realidade as situações que possam servir como substituto aproximado ao perigo original, de modo a poder justificar, em relação àquelas, o fato de ele manter suas modalidades habituais de reação. Os mecanismos defensivos, por ocasionarem uma alienação cada vez mais ampla quanto ao mundo externo e um permanente enfraquecimento do ego, preparam o caminho para o desencadeamento da neurose e o incentivam.

4.5- Mecanismos de Defesa e Resistências

É comum a confusão entre mecanismos de defesa do Eu (Ego) (utilizados patologicamente ou não) com as resistências.

As resistências são noções que concernem apenas às defesas empregadas na transferência (e no tratamento psicanalítico, em particular) por um sujeito que se defende especificamente do contato terapêutico e das tomadas de consciência dos diferentes aspectos desse contato, em particular da associação livre de ideias.

Ainda em Freud (1937), o paciente repete suas modalidades de reação defensiva também durante o trabalho de análise. Isso não significa que tornem impossível a análise. Constituem a metade da tarefa analítica. A dificuldade da questão é que os mecanismos defensivos dirigidos contra um perigo anterior reaparecem no tratamento como resistências contra o restabelecimento. Disso decorre que o ego trata o próprio restabelecimento como um novo perigo.

O ego nos casos limítrofes, superou sem frustrações nem fixações demasiadas grandes o momento em que as relações iniciais e precoces muito más com a mãe teriam podido operar uma pré-organização do tipo psicótico. Este ego continua pois, sem muito empecilhos, seu caminho rumo ao Édipo quando, subitamente, por ocasião do inicio do Édipo, mais comumente, esta situação relacional triangular e genital não pode ser abordada em condições normais, o mesmo impacto significativo é sentido pelo sujeito como uma frustração muito viva, um risco de perda do objeto; é a isto que chamarei de “trauma psíquico precoce. (Bergeret 1988, P.129)

É sobre os representantes ideativos das pulsões que incidem muitos dos mecanismos de defesa. Quando o superego e as instâncias ideais se opõem ao investimento pelo consciente de representantes pulsionais indesejáveis, há inicialmente um desinvestimento da representação pulsional ansiogênica. Mas certa quantidade de energia psíquica vai se tornando disponível. Não podendo essa energia permanecer assim, ela deverá ser reutilizada em um contra-investimento incidindo sobre outras representações pulsionais, de aspectos diferentes.

É um contra-investimento da energia pulsional retirada das representações proibidas. Por exemplo, a solicitude pode ser uma formação reativa contra as representações violentas ou agressivas; ou as exigências de limpeza e asseio uma reação reativa contra o desejo de sujar.

Fenichel (2005) define as reações reativas como tentativas evidentes de negar ou suprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um perigo pulsional. São atitudes opostas secundárias.

Conforme Bergeret (2006), a formação reativa tem um aspecto funcional e utilitário, contribuindo para a adaptação do sujeito à realidade ambiente.

Pois a formação reativa se forma em proveito de valores postos em destaque pelos contextos históricos, sociais e culturais, e em detrimento das necessidades pulsionais frustradas, agressivas ou sexuais diretas, ao mesmo tempo em que procura direciona-las de maneira indireta.

Existem mecanismos de defesa que são intermediários entre o recalque e a formação reativa. Por exemplo, a mãe histérica que odeia o seu filho é capaz de desenvolver uma afeição aparentemente extrema por ele, a fim de assegurar a repressão de seu ódio, essa solicitude ou beatitude permanece limitada a um determinado objeto.

As formações reativas são capazes de usar impulsos cujos objetivos se opõem aos objetivos do impulso original. Podem aumentar os impulsos de ordem reativa para conter o impulso original. De tal forma que um conflito entre em impulso pulsional e uma ansiedade ou sentimento de culpa dele decorrentes podem tomar, por vezes, a aparência de um conflito entre pulsões opostas.

O individuo pode então intensificar sua formação reativa, na luta com contra investimento do impulso indesejável. Pode tornar-se reativamente heterossexual para rejeitar a homossexualidade; reativamente passivo-receptivo para rejeitar a agressividade.

4.6 A Formação Substitutiva

A representação do desejo inaceitável é recalcada no inconsciente. Fica então uma falta que o ego vai tentar preencher de forma sutil e compensatória. Tentará obter uma satisfação que substitua aquela que foi recalcada e que obtenha o mesmo efeito de prazer e satisfação que aquela traria, mas sem que essa associação apareça claramente à consciência.

Bergeret (2006) dá como exemplo o transe mítico, que pode constituir somente um substituto do orgasmo sexual: aparentemente não há nada de sexual, na realidade, porém, o laço com o êxtase amoroso e físico se acha conservado, o afeto permanece idêntico. A formação substitutiva vem então constituir um dos modos de retorno do recalcado.

A formação substitutiva pode dá-se no sentido inverso. O sujeito pode tentar mascarar por meio de uma pseudo-sexualidade substitutiva de superfície, suas carências objetais e sexuais, ao mesmo tempo em que tenta se assegurar contra a carência de suas realidades narcísicas. O sujeito opera no registro das defesas do Si-mesmo.

É um modo de retorno do recalcado, de tal forma a não ser reconhecido, por um processo de deformação. É um processo que procura aliar em um processo de compromisso, os desejos inconscientes proibidos e as exigências dos proibidores. Para a psicanálise os sintomas têm um sentido e se relacionam com as experiências do sujeito. Os sintomas são atos prejudiciais, ou pelo menos, inúteis à vida da pessoa, que por sua vez, deles se queixa como sendo indesejados e causadores de desprazer ou sofrimento. O principal dano que causam reside no dispêndio mental que acarretam, e no dispêndio adicional que se torna necessário para se lutar contra eles. Onde existe extensa formação de sintomas, esses dois tipos de dispêndio podem resultar em extraordinário empobrecimento da pessoa no que se refere à energia mental que lhe permanece disponível e, com isso, na paralisação da pessoa para todas as tarefas importantes da vida.

Conforme Bergeret (2006), a formação de sintomas é uma forma de retorno do recalcado. Quer seja de um modo físico, psíquico ou misto, o sintoma não é causado pelo sintoma em si mesmo. Ele assinala apenas o fracasso do recalcamento; não constitui senão o resultado desse fracasso.

O sintoma resulta de três mecanismos precedentes: a formação reativa, a formação substitutiva e a formação de compromisso. Mas é mais complexa do que cada um deles isoladamente. O sintoma assume, graças ao jogo da formação de compromisso e da formação substitutiva, um sentido particular em cada entidade psicopatológica. Da-se que a defesa constituída pelo sintoma vai no sentido da luta contra a angústia específica: evitar a castração, na neurose, evitar a fragmentação, na psicose, evitar a perda do objeto, no estado limítrofe.

Bergeret (1998) lembra que é um pouco equivocado qualificar de saída, demasiado nitidamente, um sintoma como “neurótico” ou “psicótico” sintomas aparentemente neuróticos, por exemplo, podem esconder uma estrutura psicótica ou vice-versa; seria mais prudente falar em sintomas de linhagem neurótica ou psicótica. O autor diz que convém ocupar-se com o sintoma único apenas no uso limitado, para o qual o sintoma foi construído, isto é, “uma manifestação de superfície destinada a expressar a presença de um conflito, o retorno de uma parte do recalque pelos desvios das formações substitutivas ou das realizações de compromisso.”

5 O SUICÍDIO

O suicídio é ato humano complexo e, embora as tentativas sejam frequentes, raros são os casos que resultam em óbito. Contudo, os números vêm aumentando de maneira considerável. Para Klerman & Weissman (1989); Goodwin & Runk (1992), o crescimento das taxas de suicídio é de 200% a 400% nos últimos vinte anos, em particular, entre os adolescentes. Retterstol (1993) lembra que a Organização Mundial da Saúde avalia o suicídio como problema de saúde pública, pois configura uma entre as dez causas mais freqüentes de morte em todas as idades, da mesma forma que é a segunda ou terceira causa de morte entre 15 e 34 anos de idade. Diekstra (1993) estima que, para cada suicídio, existem pelo menos dez tentativas suficientemente sérias ao ponto de exigir atenção médica; mais ainda: para cada tentativa de suicídio registrada, existem quatro não conhecidas. As relações entre idade e sexo e suicídio, assim como a frequência destes, variam muito no que concerne ao país estudado. De maneira geral, é mais comum entre os homens com idade entre 25 e 35 anos, ao passo que as tentativas de suicídio são mais usuais em mulheres com idade entre 18 e 30 anos. Há alguns indicadores de suicídio, embora novamente não se obtenha consenso entre os autores: o suicídio estaria altamente relacionado aos desempregados, brancos, com patologia psiquiátrica, uso de álcool e drogas, tal como com tentativa de suicídio anterior. Van Egmond & Diekstra (1989) defendem a idéia de que entre as pessoas que tentam o suicídio é comum a presença de problemas psicossociais, tais como: separações, perdas de pessoas queridas e perda de emprego. O suicídio está bastante relacionado a vários tipos de doença. Já foi referido, entre outras, à AIDS, a pós acidente vascular cerebral, ao infarto do miocárdio, à esclerose múltipla, à doença de Parkinson e à insuficiência respiratória crônica de diversas etiologias. Dentre as doenças, as psiquiátricas são as mais relatadas. Os resultados entre os vários pesquisadores, no entanto, são discrepantes, colocando-se como prevalentes: a depressão, a ansiedade, os delírios, os transtornos de personalidade e o uso de substâncias psicoativas (incluindo o álcool). Dependendo do autor, uma delas encabeça a lista. A freqüência do suicídio entre as patologias também é bastante variável; por exemplo, a depressão pode ser responsável por 45% a 70 % dos suicídios. Barraclough & Hughes (1987); Murphy & Wetzel (1992) afirmam que esta é, sem dúvida, a causa preferida pelos autores como a maior responsável pelo suicídio, chegando alguns deles a afirmar que suicídio é sinônimo de depressão. Esta tendência, por parte da literatura psiquiátrica, de sempre associar o suicídio à doença mental, principalmente à depressão, é questionável. A ideação suicida e a tentativa de suicídio são critérios diagnósticos desta doença nos códigos vigentes. É difícil imaginar, entretanto, que a pessoa que sobrevive a uma tentativa de suicídio não esteja desanimada, frustrada. Assim, o diagnóstico de depressão, nestes casos, é delicado. O pressuposto teórico de que este ato está sempre relacionado à doença mental pode, por um lado influenciar a postura do médico diante do suicídio e, por outro, na clínica, atitudes por vezes inadequadas podem ser impostas, como a retirada da autonomia do paciente mediante o uso de medicações antidepressivas em condições não tão claras. Tal questão é igualmente crucial para aqueles que elaboram estratégias para a prevenção do suicídio. Estudos mostram que certo número de suicidas passa por consultas médicas pouco antes do mesmo, porém maior número ainda não o faz. A prevenção, dependendo do nível que se deseja atingir, não pode ser baseada exclusivamente em dados das doenças supostamente relacionadas. Na polêmica concernente ao suicídio ser sempre motivado ou não pela doença mental, vários autores de peso colocam-se em cada um dos lados. Goodwin & Runk (1992) afirmam que a maioria dos suicidas estão doentes mentais no momento do ato, mas têm conhecimento de que há diversidade conceitual entre os pesquisadores. Por seu lado, Hawton & Catalan (1987) acham que não devem ser avaliados como doentes mentais aqueles que tentam o suicídio. Henrikson (1993) registra o suicídio não patológico em 2% dos casos, todavia cita trabalhos clássicos que colocam os valores dos suicídios racionais entre 0 e 12%. Aratò et al. (1988), por sua vez, encontraram suicídio racional em 19% dos suicídios na Hungria. Carneiro & Figueiroa (1994) classificam o suicídio como sinônimo de depressão maior e recomendam tratamento preventivo neste caso, havendo ou não risco de suicídio. Desse modo, as relações entre suicídio e doença mental são confusas. Robins et al. (1959) e Barraclough et al. (1974) mostram altas taxas de doença mental entre os suicidas (Avaliação retrospectiva, 94% e 93%) respectivamente. Black & Winokur (1990) encontraram 90% de pacientes psiquiátricos entre os suicidas. Cheng (1995) encontrou doença mental em 97% a 100% dos suicidas de Formosa. King (1994) estudou o suicídio em pacientes recém atendidos por psiquiatras, encontrando 90% dos casos com psicopatologia severa. Dentre os 286 suicídios e mortes indeterminadas (Open-Verdict) da área do Reino Unido pesquisada entre 1991 e 1994, a amostra estudada correspondia a 108 destes casos. O autor não se aprofundou nos 168 casos - não era este o seu objetivo - que nunca foram vistos, com relação a estes problemas, por profissionais da área de saúde mental ou por seus clínicos. Os estudos retrospectivos, por si sós, fundamentados em dados colhidos entre familiares e médicos que acompanhavam os casos (autópsia psicológica) não deixam de ser suspeitos no que diz respeito à avaliação de situação tão contaminada do ponto de vista emocional.

Mattews et al. (1994), levantando todos os casos de morte por suicídio na Escócia durante 1988 e 1989, procuraram anotações a respeito destes a partir de seus médicos (General Practicioners) na atenção primária. Constataram que somente aqueles com passado psiquiátrico procuraram tratamento, o que grande parte dos suicidas não fizera. Concluíram que o trabalho de prevenção do suicídio não deveria estar centrado na atenção primária e que apenas pacientes com doença psiquiátrica podem ser atingidos neste nível de prevenção. Apesar das discrepância entre os resultados encontrados e o aumento da frequência do suicídio, os autores continuam a fazer pesquisas, confirmando hipóteses que, logo em seguida, são rejeitadas por outros.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Avaliar que o professor é por sua participação tempo/diálogos com a criança, seguramente o profissional de maior relevância em termos de conhecimento e intimidade com a criança. Porém é divulgado um equivoco por parte das famílias, em não atentarem para este fato.

Gráfico 1: Os percentuais aos profissionais procurados por pais de crianças

Fonte: Ballone 2001

O correto é efetivar uma campanha de valorização do professor, quanto a parceria que a escola/família representa para a construção dom individuo e bem assim, salientar o papel formador do professor, o qual deve ser sim consultado, a bem de avalições anteriores a psiquiatras e psicólogos.

Sobre o suicídio podemos observar: aumento de 200 a 400% nos últimos vinte anos; está entre as dez causas mais frequentes entre pessoas de 15 a 34 anos; a depressão figura entre 45 a 70% das causas de suicídio; entre as pessoas que tentam o suicídio é comum a presença de problemas Psicossociais; o suicídio incide mais sobre homens de 25 a 35 anos e mulheres de 18 a 30 anos.

Os estudos retrospectivos, por si só, fundamentados em dados colhidos entre familiares e médicos que acompanhavam os casos (autópsia psicológica) não deixam de ser suspeitos no que diz respeito à avaliação de situação tão contaminada do ponto de vista emocional.

Quanto aos mecanismos de defesa do ser, Bergeret (2006) aponta que a defesa constituída pelo sintoma vai no sentido da luta contra a angústia específica: evitar a castração, na neurose, evitar a fragmentação, na psicose, evitar a perda do objeto, no estado limítrofe. Os sintomas são atos prejudiciais, ou pelo menos, inúteis à vida da pessoa, que por sua vez, deles se queixa como sendo indesejados e causadores de desprazer ou sofrimento. O principal dano que causam reside no dispêndio mental que acarretam, e no dispêndio adicional que se torna necessário para se lutar contra eles. Onde existe extensa formação de sintomas, esses dois tipos de dispêndio podem resultar em extraordinário empobrecimento da pessoa no que se refere à energia mental que lhe permanece disponível e, com isso, na paralisação da pessoa para todas as tarefas importantes da vida.

A Sexualidade das Crianças, na teoria psicanalítica os neuróticos são atormentados por sentimentos de culpa constantes, pelo fato de possuírem um superego forte e um ego fragilizado. Tais sentimentos tendem a impossibilitar ou diminuir a expressão pulsional, o que provoca nele um sentimento, freqüente, de frustração. Ao passo que, os psicóticos são indivíduos dominados pelo seu id, pois, em decorrência da quebra de suas defesas, eles perderam o contato com a realidade. O ego precisa ser restaurado para que ele volte aos padrões normais de funcionalidade. Freud (1996) considerava o complexo de Édipo como núcleo das neuroses. Isso significa que, a menos que aprendamos a chegar a um acordo com nosso amor e ódio ambivalentes em relação aos nossos pais e possamos aceitar os sentimentos edipianos, não negá-los, reprimi-los ou encená-los, nunca poderão formar relacionamentos emocionais adequados com outras pessoas, e a necessidade de expressar e receber afeição, conforme é vista na criança, nunca poderá ser satisfeita. Para Kline (1988), essa é uma causa primária da perturbação neurótica.

Na relação professor x aluno, conforme Bergeret (2006), a identificação é uma atividade afetiva e relacional indispensável ao desenvolvimento da personalidade.

Por parte da família, o indivíduo depende de estruturarão física e mental para sua capacitação, mas a sua genética e o meio são decisivos na qualidade da estrutura. Não há possibilidade de qualidade de aprendizado, se não houver a preparação adequada.

Conforme Piaget (1982, p.389) “a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura de matura