Pessoas certas para se sorrir

Não pedi para o motorista parar na calçada, só fui até a escada e esperei que ele entendesse meus passos. Ele não entendeu. Apontou para a faculdade e perguntou -alí?- Eu disse que não, apontando para a calçada, queria descer NAQUELA calçada.

Ele havia dito o "alí" com um sorriso acolhedor, eu havia respondido o "não" com uma cara fechada.

Desci, pisei na dita cuja e me perguntei onde eu havia largado minha simpatia e meus sorrisos.

Subi a rua, onde o mesmo segurança, um senhor já, me sorriu e disse algo que o volume alto dos meus fones não me permitiu ouvi. Nem hesitei em tirá-los, passei reto.

Me dei conta de que não quero mais ouvir o que têm a me falar, cansei de saber o que querem comigo. Já fui apedrejada o suficiente, só quem já foi pra fogueira sabe o que é ser cinzas.

O pior é que eu notei na face dos dois homens um certo amor por mim, uma honestidade, aquele amor de ser humano por ser humano, porque assim como eles, eu era gente.

Quem me dera pensasse isso naquele momento, quem sabe teria soltado um dos meus risos calados e sinceros. É isso que vou fazer amanhã, mudar um pouco na mesma rotina, afinal, eu mudo, mas não mudo muito.

Vou passar pelos dois homens e ser a mais velha eu, sem os fones e sem o medo de ouvir.

Foi então que entrei na faculdade, sentei no mesmo lugar da praça, fucei na minha bolsa, peguei uma lapiseira estranha que nunca havia usado, abri a agenda do dia 22 de Janeiro e comecei a escrever esse texto. Enquanto isso os alunos passavam, e não sorriam para mim. Nem eu para eles.

Existem pessoas certas para se sorrir.

Thabata Guerra
Enviado por Thabata Guerra em 19/03/2007
Código do texto: T418270
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