PRONOMES POSSESSIVOS

Na madrugada de 17 de março de 2013

De tanto presenciar o que se faz e o que se sofre em nome dos pronomes possessivos – “meu” amigo, “meu” namorado, “meu” amante, “meu” marido... etc. – eu, que sequer ouso dizer “minha” Zuleika, peguei certo horror a eles, aos pronomes possessivos, de tal forma que até a um cão ou a um gato de que eu cuidasse teria certa dificuldade em chamá-los de “meu” cão, “meu” gato. Eu os chamaria só pelo nome, sempre. Claro, para falar deles a estranhos, isso seria bem complicado, certamente. Será que é por isso que todo mundo precisa dizer “meu”, “minha”? Para poder falar deles aos outros? É uma hipótese, como qualquer outra. Desculpem: Quem não dorme nas madrugadas, fica a pensar tais coisas, essas esquisitices.

PRONOMES POSSESSIVOS – 2 – Ainda em 17 de março de 2013

O texto PRONOMES POSSESSIVOS, meio irônico, meio amargo, talvez a dizer de uvas verdes, que agora sei que nada nem ninguém são meus, nunca o foram... agora o sei, certeza que contamina uma vida inteira. Talvez, talvez isso explique o certo horror que adquiri pelos pronomes possessivos. Talvez mero despeito por nunca ter tido e por continuar a não ter nada nem ninguém que possa chamar de meu, nem a mim mesma podendo chamar de minha. Não falo só de questões amorosas, não mesmo. Até preferiria estar a falar só de questões amorosas, mas, não o estou. Não só.

A única coisa que posso dizer é que nunca oprimi ninguém, em nível nenhum, quando acreditei que alguém poderia ter sido meu. Nunca oprimi ninguém, mas, posso dizer, com certeza, que fui muito oprimida pelo senso de posse de outros. Oprimida por segundos e por terceiros. Sei como não é bom, deveras eu o sei. E não posso desejar para outros o que não desejo para mim. Não mesmo. Por isso esse meu certo horror aos pronomes possessivos e às coisas que a partir de seu uso se costuma detonar. Só não sei como se sai de verdade disso.

Hoje que sei nunca ter tido, nem por um segundo, a posse efetiva do que ou de quem quer que seja sinto, ao lado de uma fundíssima tristeza, também um muito fundo alívio que, nesse caso, nunca perdi nada nem ninguém: não se pode perder o que não se tem, o que não se teve jamais.

Por que escrevo tudo isso? Sei lá, precisava escrever sobre alguma coisa. Foi o que me surgiu.

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