DUAS HORAS

Caminhando pelo centro de Sampa, para ir em mais uma sessão de fisioterapia, em pleno sol do meio dia, que apesar de ser outono, estamos no mês de julho, está muito quente. 28 graus, marcando o termômetro da rua, sol ardido. Eu e com meus pensamentos.

O vento está muito forte, que chega a fazer redemoinhos com as folhas das arvores, um barulhinho diferente de folhas secas jogadas ao chão por conta de mais um outono em Sampa.

Vou caminhando, observando tudo, pensando em tudo.

Vejo um moleque de rua, dormindo no meio da calçada, sujo, sozinho, coberto com uma pequena manta, como se fosse um animal ou melhor, nem animal vive assim, jogado na rua, sem comida, sem auxilio, me pego a pensar, ele tem familia? Está nessa situação porque?

Mas logo outros pensamentos vêem em minha cabeça, estou caminhando rápido , atrasada, como sempre, quanta gente nas ruas de Sampa, nesse horário, indo e vindo, cada uma com seus problemas, afazeres, compromissos, esbarro em alguém que está fumando na calçada, por falar nisso, como tem gente fumando em frente aos escritórios, já virou um momento de lazer, de confraternização, mas somente com os amigos fumantes”,

Pensando bem, antes fumávamos, pois eu também sou fumante, no escritório, na mesa, e quem acabava fumava mais era o cinzeiro, pois eu não parava para fumar, para curtir esse momento de “prazer”, era um mero ato de acender, dar umas tragadas e deixar no cinzeiro, queimando. Mas agora graças a essa Lei anti fumo, temos alguns momentos para parar, fumar e conversar.

Continuo minha caminhada, passo em frente a um beco onde parece que é o “quartel general” dos moradores de rua, um cheiro de urina fortíssimo entra em minhas narinas, como alguém pode morar desse jeito? O que é justo nesse mundo? Alem do medo que eu sinto “deles”, vem também um sentimento de culpa, misturado com indignação, não gosto de ver ninguém sofrendo, vivendo dessa maneira. Mas afinal, o que é sofrer? Será que eles sofrem mesmo? Ou foi uma escolha feita por eles de viverem sem dar satisfações a ninguém. Não sei, só sei que continuo meu caminho, estou quase chegando a fisio.

Passo em frente a uma lanchonete famosa por seus hambúrgueres, e penso, depois da fisio, vou comer ai, de novo. Mas logo vem o sentimento de culpa, sei que estou engordando muito, porém, ainda não consigo ter forças para fazer uma dieta que me emagreça de verdade e para sempre. Bom não é hora de pensar nisso.

Aí me vem à cabeça, o sonho dessa noite, muito estanho, o sol sumiu. Ainda esse meu sonho é meio confuso, estava num casamento na praia, tinha uma ilha bem próximo, quando olhei para o céu, vi alguma coisa indo em direção ao sol, e assim do nada ele foi ficando vermelho e sumiu, depois disso, um monte de correria, eu estava querendo ir para a ilha e ficar lá escondidinha de todo o tumulto que iria se seguir com o desaparecimento do sol. Mas tive que me conformar e ver o tal casamento, que não lembro de quem era, para ai então ir ao mercado comprar algumas coisinhas básicas de sobrevivência e partir para a ilha com algumas pessoas que não me recordo quem eram. Muito confuso.

Já estou entrando no prédio da fisioterapia. Pego o elevador, comento com a ascensorista que calor heim, para esse mês, o mundo está muito louco. Pois é, eu não aprendo a ficar calada, converso com todos, ate comigo mesmo. Chego na sala, falo bom dia para todos, e vou levar meus choques e o calorzinho nas costas e no ombro direito, acho que estou ficando velha, não, não estou não.

Deitada na maca, volto a pensar no que ele me disse ontem, em comprar um apartamento, ainda no chão, isso iria demorar uns 2 anos para ficar pronto, o que me veio na cabeça que ele não quer se casar tão cedo, ai já comecei a ficar imaginando um monte de outras coisas, que não vem ao caso agora. Na terça feira, falei que não agüento mais essa vida de namorida, que a gente tem que tomar uma decisão até o fim do ano, ta certo que não era essa a decisão que eu esperava dele, mas fazer o que né.

Nada é perfeito.

Afasto esses pensamentos, pois preciso relaxar nesse momento, senti uma fisgada no ombro devido ter ficado um tanto tensa. Esse assunto me deixa nervosa. A fisioterapeuta me disse que eu preciso mudar de cama para amenizar as minhas dores. Ai comecei a pensar numa cama nova, Nossa como minha cabeça dá voltas em apenas 2 horas.

Sai da fisio, e comecei a retornar para o meu trabalho, pensando em tudo que tinha pensando, e acabei comprado um carregador de pilhas que não vai servir para as minhas pilhas da maquina fotográfica. Ando com a cabeça nas nuvens. Só pode ser isso.

Lua Nova pio