ALGO CHAMADO VIVER
Existe algo que permanece, quando o que se vive parece estar consumado. Esse algo, que se manifesta depois de todas as sensações terem passado, depois de todas as ilusões a respeito de voltas que não acontecem e de recomeços intermináveis, é o que mantém a mente em seu estado mais sereno e lúcido. Esse algo é aquilo que é encontrado quando se pode olhar para trás e não enxergar mais nada do caminho percorrido. Algo que persevera, que alivia e sustenta. Algo que nunca se materializa, mas que traz movimento, persistência, direção. Conduz, orienta, faz com que os primeiros passos aconteçam num sentido necessário e urgente, restabelecendo todas as conexões que pareciam perdidas.
Passadas as dores, os dissabores, as frustrações e decepções causados pela ansiedade, percebe-se que as indefinições são mesmo definitivas. As transições são mais que necessárias, os risos e as lágrimas são partes essenciais de um mesmo todo que se consagra com a experiência adquirida. Os contornos, as relevâncias, esses sim, trazem a evolução, extinguem as diferenças, aparam as arestas e promovem a tolerância. E esse algo ao qual me refiro é o que abre um leque de possibilidades, é a certeza de estar vivo, apesar do depois, que chega sorrateiramente. Esse algo é a oportunidade de reverter os contras em prós, o que foi ruim em algo melhor e, acima de tudo, o aprendizado constante a que chamamos viver.