Momento de dor.

Sei que me amam, que fazem o impossível por mim.

Mas porque, porque fazem tanta diferença assim!? Dói demais isso, e não é de ontem, nem de hoje, é uma dor que tem 20 anos! A dor de sentir essa diferença, essa cadeia.

Queria merecer, realmente merecer ser tratada assim. Queria ser um pouco pior, pra esse sentimento de tristeza valer a pena. Queria dizer: ok, eu mereço mesmo. Mas não, desse valor eu sei que não necessito.

Lágrimas escorrem hoje, deixam meu travesseiro encharcado enquanto eu estou com uma roupa nova e cabelos feitos, pronta pra sair de casa. Mas eu não irei. Nem ali, nem aqui, nem pra lugar nenhum.

Eu irei apenas começar mais uma semana amanhã, levantar cedo, trabalhar, ter 20 minutos de almoço, ir pra faculdade, e chegar em casa às 23:00. Boa menina!

E se eu pedir, se eu resmungar, se eu tentar falar. Cala-me! Cala-me pois nesse assunto não sou bem vinda! Cala-me pois nisso eu só reclamo, nisso eu só complico.

Cala-me... abafa o choro, engole o choro. Seja uma boa menina.

Ajude. Ajude e seja uma boa menina. Seja uma boa amiga e uma boa filha. Segure as pontas e saiba de todos os problemas da sua casa. Se preocupe como gente grande, assim como seus pais fazem. Você é como seus pais.

Mas não. Menina, você tem 20 anos!

Menina, você quer mais, sempre precisou de mais, sempre ansiou por mais e foi ambiciosa, sempre reclamou....

Quantas vezes não escreveu suas palavras de dor em folhas que até hoje esconde dentro de uma caixa de sapato, dentro do seu guarda-roupas? Mas... contente-se. Você tem saúde. Você é bonita. Mas, é só.

Você já se acostumou a quebrar alguns sonhos e corações. Já se acostumou a ser interrogada e passar por cima. Já se acostumou a nunca ter se apaixonado. Já se acostumou a rir um riso forçado.

É assim, a tanto tempo. O que mudar?

O que ser menos, o que ser mais?

Cala-te. Cala-te, para de chorar.

Ah menina, quero ainda tanto pra você!

Não quero pra você um vestido de noiva, nem que saiba cozinhar, nem que compre o enxoval do seu bebê. Não quero isso. Quero apenas que tenha o poder de conhecer pessoas, lugares. De sentir calor humano em noites frias, mas depois apagá-los do pensamento. Quero apenas que possa continuar a escrever, que sua vista tarde a te interromper. Eu quero que tenha dinheiro para comprar seus sapatos, para comprar seu carro e fazer seus passeios. Eu quero que você seja sempre bela e não sinta dores psicológicas quando a solidão bater. Afinal, você sempre terá um livro pra lhe acompanhar.

Ah menina... quanto eu quero!!! QUANTO!!!

Mas isso, lá pra frente...

Agora eu só queria aquietar seu coração, sua dor de sempre, e poder dizer que isso vai passar. Mas eu não sei se vai. Eu não sei por quanto tempo ainda será assim, esse convívio louco onde uns tem tudo, e uns tão pouco.

Perdão, menina. Por eu não poder te tirar desse momento de angústia, e te dizer que isso vai passar. Não é hora. Apenas curta sua dor.

Daiane Lopes
Enviado por Daiane Lopes em 14/04/2013
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