MINHA CIDADE NATAL

PUBLICAÇÃO AINDA NA MANHÃ DE 30 DE ABRIL DE 2013

Ontem, na rua, a caminho do Banco para resolver o problema de cheque meu clonado e 'redesenhado' em valor inacreditável, ia pensando que sou um ser de sonho. Só amo sonhar, tão somente no sonho sinto que existo. Talvez algum leitor pense: “Pudera! Num mundo como este, de pesadelo, a qualquer ser humano que ainda se preze a si próprio, só lhe resta mesmo refugiar-se no sonho”. Segundos me dirão: “Filie-se a alguma ONG, vá fazer algo prático, para melhorar este mundo de pesadelo”. Terceiros, engajados politicamente, afirmarão: “Entre para algum partido político cujo ideário corresponda a seus anseios de justiça social”; e quartos: “Torne-se um anarquista militante, nos subterrâneos deste mundo, que o verdadeiro anarquismo é o caminho”. Quintos me aconselharão a entrar para alguma comunidade esotérica, na qual se guardam as chaves ocultas do 3° Milênio. Sextos me aconselharão: “Faça sexo, sexo, sexo, apesar dos interditos, nem que seja por telefone, nem que seja tudo virtual”. Sétimos se calarão comigo, sem palavras para dizer. Oitavos: “Urge uma terapia que te salve da loucura”. Nonos leitores, categóricos: “Mate-se”. Décimos dirão, também categoricamente: “Deus é a única saída. Apenas e tão somente Deus”. Décimos-primeiros: “O verdadeiro cético é, acima de tudo, alguém que aprendeu a nada desejar, logo, a nada sofrer”. Décimos-segundos, pertencendo à categoria dos absolutamente insondáveis, também recorrerão ao silêncio, a um silêncio muito diverso do meu. Décimos-terceiros...

Quando eu já desesperava, vem baixinho, ao meu ouvido, a décima-terceira voz: “Canta e escreve ainda... ainda...Ouve e lê ainda... ainda...Sê, ainda, o que puderes ser do que és... ou do que pensas que és. Ainda... ainda... Dorme e sonha o que conseguires dormir... o que conseguires sonhar ainda... ainda... e cuida de tua mãe.

E o dia consegue amanhecer ainda... ainda... Ah, minha mãe!

****************************************************