Retrato de Clarice Lispector

O tato é a imaginação do que os outros podem sentir.

O fato de ele sair da imaginação explica porque é tão raro".

Charles Dantzig

“Emoção é fundadora da razão”

Lá vou eu de novo escrever sobre Lispector! E talvez, é provável que impregnada por inteiro de fotografia, eu tente fotografar a Clarice!

Se estou com febre? Ainda não! Quem sabe até o fim do texto meu corpo queime de delírios na ausência de Clarice sobre as chamas do surrealismo!

No ritmo desarmado de Henri Cartier-Bresson, faço uso de suas palavras durante entrevista à jornalista Sheila Leirner.

“Há pouco, li no Le Monde que um neurologista da Universidade de Ioha escreveu um livro sobre o tratamento de seus pacientes por meio do qual chegou à conclusão que a emoção é fundadora da razão. Não é maravilhoso?” Henri Cartier-Bresson.

SIM – eu uma simples leitora, pobre pequena que sou sempre defendi essa verdade a “Emoção é fundadora da razão”.

Porque misturar Clarice e Bresson? Um único motivo: Bresson tinha horror a palavra Conceito, e Lispector, nunca se limitou aos conceitos estabelecidos para COMPOR sua arte! Que ultrapassa qualquer idioma entra e percorre qualquer período.

Ainda sobre o conceitualismo Bresson potencializa sua postura sobre o tema:

“Se os artistas conceituais nos convidarem para jantar, eles servirão apenas as espinhas do peixe! Eu pessoalmente prefiro a carne dele (risos). O conceitualismo é pura masturbação mental, no qual não entra a sensibilidade.”

“Sensibilidade”!!!

Quando o artista se baseia em conceito, o que ele está fazendo na verdade é copiando, o ato criativo tem como oxigênio a Sensibilidade. O momento que o artista pare sua obra é um instante eterno que se finca como surgiu, não depende do gesso de aço das regras, dos padrões métricos, os conceitos são criados para vestir a arte, para servi-la.

Pense um pouco, quem nasceu primeiro, Arte, ou o Conceito?

Por momento os jornais, produzido por críticos e não artistas, que bom seria não, os artistas produzindo os jornais? Ficam tentando entender o processo de criação da obra visual de Clarice. É incrível, como dissociar o texto da imagem?

A febre só aumenta...

“Da segunda vez em que se encontraram caia uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo”. (Clarice Lispector, A hora da estrela)

Como não enxergar fotos e mais fotos em cada linha que escreve essa senhora?

Para mim, e isso eu digo lá por volta dos meus 13 anos quando me inebriei com a fotografia literária de Clarice não tento entender, o que me prende com laços de ar é o abalo ininterrupto que seus textos são mestres em provocar!

Eu fico com a resposta, ou melhor, com a consideração, porque resposta é algo muito raso, de Bresson: “É questão de sensibilidade! Eu vou, olho, as coisas me surpreendem. Isso é puramente visual”.

Só a sensibilidade proporciona o espanto, só a emoção sangra e rir! Sem isso, o ser humano não passa de concreto ou máquina, nada além!

Enquanto os críticos querem entender o artista quer sentir.

Minha fotografia de Clarice, deixe-me explicar! No meu pequeno pensar, toda fotografia veste um texto, então eis aqui minha fotografia em formato de texto.

Um dia os raios de sol atingiram sua face e na leveza brava do silêncio, ela caminhou em águas secas!

Eis meu RETRATO de Clarice Lispector!

A febre não passa, que bom, sinal de vida!

TEMPO – 17 DO LIVRO 2013