ASSIM...
É um fim de tarde cinzento
Hoje, como podia ser outro dia qualquer
Aquela chuva miudinha que enobrece a vidraça
Como lágrimas a escorrer por face entristecida
É nobre, como sublime é o sorriso que lhe devolvo
Pernas arqueadas e mãos sobre os joelhos
Esqueço-me de tudo o que me revolta a mente
E embrenho-me na viagem da gota de água
Que acabada de chegar se vai desvanecer suavemente
Assim…
Como a delicadeza dos meus pensamentos
Dotados de memórias sobre peitos em sobressalto
Ou ombros tão macios quanto uma almofada de cetim
Lágrimas antigas encaixadas no baú do passado
Como a chuva miudinha que me aviva o olhar
Assim…
Para aquém da janela fechada livre de entraves
Num espaço isolado que me aquece o corpo
Sinto a alma carente de momentos de calma
Tocar-me o coração
Como se também ela, numa tarde cinzenta
Pernas curvadas e mãos nos joelhos
Beijasse as gotas de água até adormecer
Assim… num tranquilizante sono de criança.