O Valor das Pequenas Coisas

Tanta coisa é valorizada na sociedade em que vivemos. Atingem valores merecedores de espanto, admiração e aprovação. Uma jóia em ouro e pedras preciosas é absurdamente avaliada a um preço consideravelmente alto, e todos concordam com esse preço, pois é algo precioso e de grande beleza. Quando encontramos algo raro, o valor aumenta.

Não tenho a intenção de menosprezar coisas de valor, entretanto, existem tantas coisas de valor inigualável e inenarrável, que passam pela vida sem que nos demos conta de sua existência. Pois é, quantas vezes entramos e saímos de nossas casas, escritórios, escolas, igrejas... e elogiamos o engenheiro e o arquiteto. Mas eles não fizeram sozinhos, precisaram de pedreiros, eletricistas, encanadores, pintores, vendedores, entregadores e tantos outros profissionais que não foram valorizados pelo serviço executado, caem no esquecimento com o tempo.

Mas existem coisas raras que não são percebidas e por isso não são valorizadas. Um sorriso agradecido a um favor prestado; um favor prestado com alegria; uma alegria expressa por um carinho recebido; um carinho oferecido com a alma; a alma partilhada com amor; amor expressado num abraço; um abraço numa troca de olhar; uma troca de olhar acompanhada de um sorriso.

Poderia elencar tantas outras coisas e ciclos aqui. Tanta coisa desvalorizada, dispersa e perdida no mundo dos valores. Essas raridades esquecidas são sacramentos da vida. Os sacramentos são sinais visíveis de algo invisível.

Tenho um exemplo bem concreto. Na minha casa temos uma blusa de lã. A blusa está bem velha, muito usada e com algumas costuras para fechar os buraquinhos que já apareceram. Essa blusa não é de ninguém de casa, não tem dono, mas ao mesmo tempo é de todos. Ela é um sacramento de vida, pertenceu à minha avó materna. É “blusa-sacramento”. Ela nos faz lembrar a vó Maria. Tem até nome, é a “blusa-da-vó”. Quando faz frio, a “blusa-da-vó” é a que mais esquenta, acredito que não simplesmente por ser de lã, mas porque faz lembrar a vó, lembra o colo da vó, o cheiro da vó. A blusa é sinal visível da avó que não está mais em nosso meio, mas está em nossa lembrança. Quando falamos da blusa, sempre lembramos de alguma coisa da vó, alguma história da vó Maria. Isso é sacramento: o que nos refresca a memória!

Viu só?! Algo tão pequeno, mas de impagável valor.

Se começarmos a procurar as verdades e sinceridades invisíveis de cada gesto visível, faremos muito mais por nós mesmos e pelo mundo. Mesmo que nosso gesto seja pequeno, ele tem valor quando feito com amor.

Sorria, abrace, beije, ajude, partilhe, olhe, favoreça, expresse a vida e valorize cada pequeno gesto, cada coisa pequena.

Toninho Miguel
Enviado por Toninho Miguel em 30/03/2007
Reeditado em 04/07/2010
Código do texto: T431511
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