Ambulância de caos

Alguma coisa ruim tem acontecido. Algo do qual eu não entendo razão nem dimensão.

Eu me sinto triste. Fico mais triste ainda por fracassar na busca do porque dessa dor.

Todos os dias, estou cercada de pessoas tão leves e nítidas, talvez até de riso ignorante. Como podem ser felizes desse modo?

Eu me sinto muito sozinha. Deslocada, posta de lado, mantida sob uma distância considerável (e segura) do mundo humanizado. E quanta petulância existem em minhas palavras ao cogitar solidão em meio à tanta gente.

Eu já não sinto prazer. O riso que costumava anestesiar o peito, hoje não passar de um reflexo do corpo, quase involuntário. Sinto mais vazio ainda ao sorrir, sem sentir prazer algum.

Achei que fosse falta de alguém, mas olhando de perto, a única pessoa da qual eu realmente sinto falta é de mim mesma. Agora mesmo, enquanto digo isso, pergunto-me quem é que guia a esferográfica por cima das linhas, já que meu espírito é um vazio existencial.

Posso contar nos dedos de uma só mão meus amigos, e talvez ainda sobre para sustentar o cigarro.

Eu não tenho amigos na escola. Acho que afastei todos eles com meus zilhões de defeitos. E os que tenho, não posso aceitar que ouçam dos meus problemas. Eu já estraguei alegrias e brilhos demais. Quase um buraco negro ambulante.

Não é como se eu escolhesse, como muito já fiz. Eu não sei como sair da escuridão que me deparo agora, à luz do meu quarto refletida nesta folha. E eu não pretendo contar dos devaneios de minha mente a ninguém, porque penso que devo ostentar o peso de minha tristeza, porque depois de algum tempo, ela pode ser vista como meio de ganhar atenção.

Eu costumava sorrir gratuitamente, mas as rejeições foram como arames farpados que destroçaram meu peito. Peito do qual foi restaurado e ferido, respectivamente, por quem permiti que invadisse meu ser. E que posso objetar sobre algo que consenti? Não existem juízes, promotores ou condenações para o consentimento.

Sinto necessidade de fechar meu peito e viver com a mágoa acumulada, fruto do orgulho ao qual me submeti. Fosse por altruísmo ou submissão, aprendi que toda a dor deve ser sentida por mim e só.

Estou com medo agora, devo admitir. Quando não se tem mais em que acreditar ou pelo que seguir, a entrega chama seu nome. E chama alto, pra te mostrar que se nada na sua vida faz sentido, ela faz. E eu estou morrendo de medo da minha fragilidade e indiferença, que me dão uma realidade tão distorcida quanto a esquizofrenia proporciona ao doente. Eu estou com medo de perder a capacidade de me surpreender, pois se eu perdê-la, que sobra?

A entrega.

Lorena Trevisanuto
Enviado por Lorena Trevisanuto em 29/05/2013
Reeditado em 15/08/2013
Código do texto: T4316050
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