Delírio

Sentada em frente as horas, espero o dia passar. A cadeira em que me apoio sabe mais sobre mim do que os olhos que não me vêem.

A espera me cansa e me conforta. Gosto de me torturar. Espero, esqueço, olho pra dentro de mim e tento me esconder das minhas ilusões escondendo as alegrias.

E por falar em alegria, onde será que eu a guardei? Debaixo da cama? Olha pra lá, não quero que me veja nesta cena ridícula...Olho pra debaixo da cama. Não, ela não está lá!

As horas mastigam os segundos lentamente, como quem degusta um raríssimo prato, ou uma deliciosa sobremesa. Elas se fantasiam de coisas que só têm significado pra mim. Colocam mascaras pra enganar o próprio tempo por elas contado. E o tempo afasta as lembranças e deixa a saudade. O tempo não volta atrás e vida não para!

A luz da lua me conta os segredos que o dia esconde

Tudo é uma farsa. Pasmem. As horas, os minutos, o dia e a noite, os olhos e a luz deles.

Escancarando um sorriso, imagino que posso mudar o mundo. Ocultando uma prece, vejo que nada tem valor. Sorrir ou pedir?

Nada sei sobre sorrisos, a não ser que eles me enchem de uma alegria que por vezes se torna passageira. Nada sei sobre preces.

Quantas vezes mais aquela estrela cadente irá me virar a cara me negando um pedido? Quantas vezes mais terei que ir buscar as fotos que atirei pela janela, pendura-las no varal e observar o tempo secá-las? Quanto mais terei que esperar alguém chegar, alguém que me empreste apenas um colo ou quem sabe um sorriso meia boca? Será que ainda terei que buscar sonhos atrás da geladeira, embaixo do armário? Quantos dias mais terei que colocar a fé na mesa para ser julgada? Quantas horas mais terei que ficar aqui, recostada esperando as mesmas horas passar?

O ponteirinho marca quinhentos e vinte dois minutos, enquanto o ponteirão marca trinta e quatro horas. O tempo dá saltos. Chega às vinte cinco horas, mas o dia não acaba!

Natalia Gregolin
Enviado por Natalia Gregolin em 31/03/2007
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