Relicário, um desabafo ao acaso.

É como se fosse uma dose cavalar de veneno que você injeta diariamente na sua vida. Algo que já te pertence tanto, que você espele pelos poros como um suor de um dia árduo de trabalho. Queria de certa forma me livrar desse carma, mais ele é tão meu que não posso abandoná-lo assim.

Foram muros criados. Foram roupas usadas que me transformaram. Sei que ninguém entenderá certas devoções que proponho a fazer. Soa como carma, ou uma necessidade em imensa de doação aquilo ou aqueles a quem resolvi me dedicar. Ninguém entenderá.

Aonde eu encontro, envolto a sentimentos e navalhas essa torta ideia que eu resolvi ter da vida. Quem diria que numa idade dessa eu iria chegar a essa crise de identidade adolescente sobre minhas próprias escolhas. Não me sentir ser quem eu devo ser. Ou me contentar em ser uma eterna criança. Tenho certeza que Peter Pan me entenderia. Eu só não queria crescer.

Simplesmente não queria me deixar envolver por aquilo eu ao certo não sei. Um turbilhão de coisas, sentidos, bocas, vidas, fôlegos que nem meus são. Só queria ser entendida, ou melhor compreendida. Acolhida, abraçada, sentida, entregue, como faço com todos que se achegam a mim. Abrir as asas e abraçar o mundo de alguém como eu queria que abraçassem o meu.

Não posso lhe exigir o que nunca poderá me dá. Quem sabe até possa, mais a disposição de querer isso soaria como blasfêmia a toda a verdade que já foi proferida.

Só quero que me deixe, mesmo que você queria ser meu, sem ser. Não há disposição para comprar um saco de fantasmas e problemas em que cicatrizes estão cheias de espinhos.

Voe longe, apenas me deixa aqui. Ainda não estou pronta para alçar voo.

* Sentido dia 03 de junho de 2013.

Samara Lopes
Enviado por Samara Lopes em 08/06/2013
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