SOMA-SE...

Soma-se, adiciona-se, acrescenta-se, tanto faz

São palavras que o tempo nos oferece

Com a amplitude de quem não conhece o retrocesso

Soma-se a desvontade de ter vontade

As rugas que se vão contando à cadência das Primaveras

Os critérios do ignóbil e do satírico

Os quilómetros para fazer menos quilómetros

Soma-se o número de pratos numa mesa cada vez mais exígua

As meias cozidas para se perpetuarem no tempo

As rasuras nos lençóis que visitamos todas as noites

O olá, bom dia, a cada vez menos gente

O egoísmo que dilui a raiz do sentimento

Soma-se a quarta-feira seguinte

Porque se vai envelhecer mais uma semana

A preocupação sobre o amigo enfermo

Que não se sabe se se volta a ver

O sorriso de uma criança que connosco se cruzou

A lágrima do desesperado que se senta no banco do jardim

Porque não pode estar onde lhe cobrem o que não tem

Soma-se o grito de angústia de quem já não tem voz

Nem dentes que disfarcem os ciclos temporais

Nem força, sequer, para derrubar castelos de areia

Vidas sem retorno

Almas sem chama

Um Mundo sem remorsos nem piedade.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 20/06/2013
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