SOMA-SE...
Soma-se, adiciona-se, acrescenta-se, tanto faz
São palavras que o tempo nos oferece
Com a amplitude de quem não conhece o retrocesso
Soma-se a desvontade de ter vontade
As rugas que se vão contando à cadência das Primaveras
Os critérios do ignóbil e do satírico
Os quilómetros para fazer menos quilómetros
Soma-se o número de pratos numa mesa cada vez mais exígua
As meias cozidas para se perpetuarem no tempo
As rasuras nos lençóis que visitamos todas as noites
O olá, bom dia, a cada vez menos gente
O egoísmo que dilui a raiz do sentimento
Soma-se a quarta-feira seguinte
Porque se vai envelhecer mais uma semana
A preocupação sobre o amigo enfermo
Que não se sabe se se volta a ver
O sorriso de uma criança que connosco se cruzou
A lágrima do desesperado que se senta no banco do jardim
Porque não pode estar onde lhe cobrem o que não tem
Soma-se o grito de angústia de quem já não tem voz
Nem dentes que disfarcem os ciclos temporais
Nem força, sequer, para derrubar castelos de areia
Vidas sem retorno
Almas sem chama
Um Mundo sem remorsos nem piedade.