“Sobre os quase 30”

“Sobre os quase 30”

Thaís Falleiros 27-06-2013

... E o que é o vazio senão o encontro com si mesmo?

Ninguém sabe o que realmente é, o que realmente será. Ninguém sabe o dia de amanhã e essa história de conselhos sobre viver o dia de hoje... Bem, me desculpe, mas me mostre uma só pessoa que consegue isso nos dias atuais e te direi que essa é no mínimo alienada.

Essa sensação de vazio, acho que é o que definitivamente marca essa geração, esses tempos, essa fase da sociedade humana. E mais, essa sensação deve marcar todas as pessoas com quase 30 anos (espero!).

É porque essa fase da vida é certamente a mais difícil. Temos a obrigação de “cair na realidade”, de viver com o pé no chão.

Nesse momento nós percebemos que muitas das “amizades eternas” que tínhamos na época da escola, eram amizades por conveniência, já que víamos todos os dias aquelas pessoas e é natural que a convivência faça nascer a conveniência. E com quase 30, cada um já foi para seu canto, cada um já seguiu seu caminho e só os verdadeiros mesmo é que ficam. E dói ver que no meu caso, quase nenhum ficou.

Com quase 30 já não temos aquele amigo ou aquela amiga que se pode ligar a qualquer momento. Pois todos estão trabalhando, alguns já casados, com filhos, em outras cidades. Cada um cuidando da própria vida. E ninguém tem mais tempo de pegar a bicicleta e dar uma volta pela cidade sem compromisso e parar numa praça e tomar um sorvete e ficar horas e horas jogando papo fora sem olhar para o relógio.

É nessa fase também que aqueles sonhos absurdos, grandes, lindos começam a balançar em nosso coração. Algumas pessoas já desistiram deles entre o começo e a metade dos ‘vinte e poucos anos’. Alguns como eu, continuaram firmes e fortes, mas agora, com quase 30... Hum, é difícil olhar para trás e então analisar o presente e perceber finalmente que é preciso encontrar uma profissão mais “real”, mais palpável.

Os hormônios começam a gritar dentro da gente. É nesse momento em que começamos a perceber que nossos pais tiveram filhos bem antes que nós. E é impossível não fazer as contas: “Poxa, minha mãe com a minha idade já tinha três filhos. Se eu tivesse tido um com a idade em que ela teve, o meu já estaria com 9, 10 anos”.

E todos começam a te perguntar quando é que você vai casar. Mas com quase 30, ainda me acho tão menina para essas coisas.

Ainda sonho algumas noites com as baladas. Ah, a época das baladas! Que saudade de paquerar e ser paquerada. Mas na realidade nada disso mais existe. Com quase 30 já não se tem o pique de antigamente. Pois antes nós saíamos de casa sábado às nove para voltar às seis da manhã. E ao meio dia do domingo estávamos já marcando a próxima aventura.

Hoje em dia os jovens marcam à meia noite para sair de casa. E nesse horário eu gostaria de estar é voltando para casa e não saindo. E as raras vezes que, mesmo morrendo de sono, aceitei tal loucura... Meu Deus... Fiquei uma semana com sono, cansada, “baqueada”.

E o pior... Na balada já não encontramos mais ninguém da nossa idade. Apenas “crianças”. Já não é mais tão gostoso paquerar. E se chega um cara bêbado querendo algo é perigoso, nós mulheres, não nos segurarmos e darmos logo um “tabefe” no cafajeste, sem vergonha, ordinário.

E tem algo pior ainda, as músicas. Quem é que aguenta essas músicas de hoje em dia com duplo sentido, ou com sentido nenhum? Com quase 30 essas análises são inevitáveis.

A verdade é que sinto muita falta da época de balada. Mas com a cabeça de hoje, o melhor que faço é ficar em casa.

Nossos olhares começam a ganhar outras direções. O preço do leite, do arroz, da gasolina nunca foi antes tão reparado quanto na fase dos quase 30. A preocupação em construir uma casa, em fazer uma poupança, uma previdência privada... Essas coisas de “velho” realmente começam a fazer mais sentido em nossa cabeça.

Com quase 30 a gente percebe que o mundo não é “cor-de-rosa”, que existem pessoas más, que existem situações realmente mais difíceis do que aquelas em que achávamos insuportáveis (como a vez em que fiquei abaixo da média na escola).

E por fim, o mais difícil... Com quase trinta nós nos damos conta de que as paixões alucinantes, que tiravam o fôlego nunca mais existirão. Talvez seja difícil para você admitir, mas sinto lhe dizer meu amigo, é verdade... Quando se é adolescente a sensação que temos é que poderemos viver de paixão, mas com quase 30 os relacionamentos já tem um tempero a mais, o da razão. Já não é possível mais sair num barzinho sem olhar para o bolso, para o preço dos produtos no cardápio, para a conta. Os amores ficam mais calmos, e a rotina é algo inevitável.

Não sei ao certo antigamente, mas hoje em dia, no século XXI, acho que a transição da fase da juventude para a fase adulta ocorre exatamente nessa fase dos quase 30. Só não sei se todos sofrem como eu, pois é tão difícil admitir algumas realidades.

Mas com todas essas mudanças, com todos esses dilemas, com todas essas dificuldades é exatamente com quase 30 que estou pela primeira vez me reconhecendo de verdade, sem máscaras, sem falsidades. Com quase 30 não sei exatamente quem sou, não tenho ideia do que acontecerá no futuro. Se eu terei filhos ou não, se casarei ou não, se ficarei rica ou não. Só quero que essa sensação de vazio passe. E tenho medo de que a única maneira de passar, seja o conformismo.

(Queria terminar esse texto com uma frase positiva, mas não deu... Quem sabe com quase 40...).

Thaís Falleiros
Enviado por Thaís Falleiros em 27/06/2013
Reeditado em 27/06/2013
Código do texto: T4360821
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