O AÇUDE...
Não é sangue
Tão pouco o elixir exótico de frutos tropicais
O que corre dentro de mim
Quem me retalhe por dentro
E me observe ao longe
Vê uma cadência de espuma em desdobramento constante
Quem cole os olhos ao meu corpo ofegante
Vê um deslizar de águas cristalinas
Como cascata inquieta e de caudal permanente
É um açude
Um molhe de água que vagueia em mim
Sem turbulência nem estuário
Que me purifica a essência do pensamento
E me lava as ruas que desembocam na alma
O seu ruído, de águas em queda no pequeno abismo
São palavras abafadas no desenrolar dos tempos
Palavras exaustas de tão amachucadas
Mergulhadas no ócio da inquietude
É um açude
É um palpitar de correntes aglutinadoras
Que se passeiam dentro de mim
Como catavento que anuncia as monções
E distribui as brisas que me refrescam o fogo
Quando me abrirem
Verão que não verto sangue
Apenas a espuma e as águas prateadas de um açude.