O AÇUDE...

Não é sangue

Tão pouco o elixir exótico de frutos tropicais

O que corre dentro de mim

Quem me retalhe por dentro

E me observe ao longe

Vê uma cadência de espuma em desdobramento constante

Quem cole os olhos ao meu corpo ofegante

Vê um deslizar de águas cristalinas

Como cascata inquieta e de caudal permanente

É um açude

Um molhe de água que vagueia em mim

Sem turbulência nem estuário

Que me purifica a essência do pensamento

E me lava as ruas que desembocam na alma

O seu ruído, de águas em queda no pequeno abismo

São palavras abafadas no desenrolar dos tempos

Palavras exaustas de tão amachucadas

Mergulhadas no ócio da inquietude

É um açude

É um palpitar de correntes aglutinadoras

Que se passeiam dentro de mim

Como catavento que anuncia as monções

E distribui as brisas que me refrescam o fogo

Quando me abrirem

Verão que não verto sangue

Apenas a espuma e as águas prateadas de um açude.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 05/07/2013
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