ÁGUAS PANTANOSAS...
Toda a gente viu
Mas ninguém agiu
É este o retrato do homem do século
Alicerçado nos cabocos da inércia
Que dita que o que é meu, é meu
E o que é teu, um dia há-de ser meu
Vemos alguém a afogar-se no mar
Corremos todos para a rebentação das águas
Esboçamos ares aflitivos de consternação
Até que uma excepção à regra resolve arriscar a vida
Os outros limitam-se a observar a agonia do pré defunto
Vemos alguém que tomba na surpresa do pântano
Erguemos os braços ao alto
Como que a pedir a Deus que vire a Terra do avesso
Outros sorriem, deduzindo que se trata de um ensaio circense
Toda a gente viu
Mas ninguém agiu
Vemos alguém ser barbaramente agredido
Saímos a correr não vá alguém pedir-nos para testemunhar
Enquanto o agressor se afasta calmamente
Como se acabasse ali o seu dia de trabalho
E a vítima não resiste a ferimentos tardiamente socorridos
Toda a gente viu
Mas ninguém agiu
É esta a sociedade em que nos apraz viver
Dominada por egocêntricos e malabaristas
Que envergam armaduras de aço imperfurável
Mas que caminham por águas pantanosas