ÁGUAS PANTANOSAS...

Toda a gente viu

Mas ninguém agiu

É este o retrato do homem do século

Alicerçado nos cabocos da inércia

Que dita que o que é meu, é meu

E o que é teu, um dia há-de ser meu

Vemos alguém a afogar-se no mar

Corremos todos para a rebentação das águas

Esboçamos ares aflitivos de consternação

Até que uma excepção à regra resolve arriscar a vida

Os outros limitam-se a observar a agonia do pré defunto

Vemos alguém que tomba na surpresa do pântano

Erguemos os braços ao alto

Como que a pedir a Deus que vire a Terra do avesso

Outros sorriem, deduzindo que se trata de um ensaio circense

Toda a gente viu

Mas ninguém agiu

Vemos alguém ser barbaramente agredido

Saímos a correr não vá alguém pedir-nos para testemunhar

Enquanto o agressor se afasta calmamente

Como se acabasse ali o seu dia de trabalho

E a vítima não resiste a ferimentos tardiamente socorridos

Toda a gente viu

Mas ninguém agiu

É esta a sociedade em que nos apraz viver

Dominada por egocêntricos e malabaristas

Que envergam armaduras de aço imperfurável

Mas que caminham por águas pantanosas

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 14/07/2013
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