ONDE ESTÃO AS ESTAÇÕES?
 
     Descobri há muito tempo que os guardiães e os compositores de verdades, em máscaras sublimes para suas atuações, estão condenados às superfícies em que se banham. À frente, do alto de seus campanários formidáveis, os pronunciadores de imperativos arquitetam alegorias ardilosas, seguindo-os em procissões zumbátidas os devotos de mitos por eles criados; e as excitações senis diante do espetáculo pipocam por todos os cantos em adágios de toda ordem, encontrando amparos frágeis nos sonhos de amanhãs redentores, invocados como contravenenos a angústias cruciantes do presente, e condenados em inconciências de quedas porvires.

     Nenhuma hora pode ser suspensa na messe autoconsagrada. Nenhum espaço pode deixar de ser conquistado e violado pela infiltração nociva que lhe toma como um câncer morto. Nenhum horizonte adiante do minuto seguinte pode estar exangue das novas cores que lhe são dadas. Nenhuma melodia entorpecida pode deixar de ser ouvida nos ares rasgados dos ocasos. Nenhum silêncio pode deixar de ser estuprado por algazarras da humanidade perfídica. E nenhum crepúsculo pode deixar de ser incendiado pelo fogo impetuoso dos pássaros renascentistas que teimam voar com suas liberdades e escolhas comprometidas, alheios de que, ao nascer, no primeiro choro, já nos condenamos em nossas imensidades transviadas.

     E detentores inalienáveis que somos da condição de senhores do misterioso amálgama, com o escorregar venal pelo tempo, a parálise contrafeita atinge nossos nervos e vasos fundamentais, deixando ecoar, em nossas superficialidades confusas, sedes insaciáveis por alquimias encantadas. Nos espaços infindos de nossas protuberâncias, os olhos da face são os mais cegos, e tola é a existência em sua forma apregoada. Nas veredas translúcidas, todos os cânticos ressonantes, todos os sonhos condenados, todas as súplicas negadas, e todas as angústias incuráveis são tão vãos como a pseudoatuação de seus emissores, a partir de seus próprios tabernáculos. Ébrio por dissecações estultas de gêneses é que desatino e digo: se houver algo inconspurcado, é a equitação em neves negras, onde a luz emanada de nossos cernes argúcios não possa penetrar intrusamente, aportando um algo qualquer, imaginativo que seja, que contamine o impermisto de antes ou de após nosso desabrochar. Donde estamos, porém, entre magníficas searas frutificadas de nossas mentes transcendentais, parece inevitável a condenação a nossos egos sencientes, contidos em nossos frágeis liames humanos.

     Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 15/07/2013
Reeditado em 15/07/2013
Código do texto: T4388608
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