PENSAMENTEANDO 171 (Ética)

A Ética, parafraseando Jean-Pierre Vernan, é filha da cidade. Ora, a que aspira o cidadão senão a um viver salutar, sem medo, ao bem-estar, à paz? Quão terrível será aquele estado de convivência humana desviada por uma espécie de “entre-temer”.

Em que pese o fato de existirem tantos saberes éticos, os esforços neste árduo terreno buscam – em tese - alcançar um mundo habitável, de convivência feliz e profundamente digno.

Nosso desafio, destarte, é sacarmos certas propostas hipertrofiadas no sentido de adesão ao que Max Horkheimer chamou de razão instrumental. Ética estribada no domínio e controle sobre os outros e as coisas é antifilosofia; no fundo, é negação cínica de possibilidades emancipatórias de todos nós.

Nenhum sistema ético há de ser objeto de culto, mas, acima de tudo, fonte de inspiração crítica e consciente de nossa travessia. Na complexa rede do filosofar, consoante Walter Omar Kohan, estamos pensando com outros, contra outros, a partir de outros. No mais, estamos com Merleau-Ponty: “A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”.