Eu, ser que me adentra...

Às vezes eu acordo me perguntando quem sou eu... essa pessoa cheia de responsabilidades, de problemas... de sonhos... de tanta coisa...

Essa pessoa que muitas vezes tem vontade de chutar o balde com o pé direito e não levantar muitas vezes pondo o esquerdo no chão...

E continuo me perguntando quem sou eu...

Essa pessoa que tem que trabalhar, estudar, amadurecer, conviver, se relacionar com o outro de forma saudável...

Essa pessoa calma, agitada, sensível, osso duro de roer... que corre para não perder o ônibus ou xinga o motorista louco que quase bateu no seu carro...que chora, que ri...que finge que não sente...mas sente e finge...

Essa pessoa que cumprimenta e não tem resposta, e outras vezes recebe rios de sorrisos e xícaras de gentileza...

Quem sou eu ao abraçar meus colegas de trabalho, sentar na minha cadeira ou começar o meu trabalho? E quando tenho que entregar o projeto e o prazo era ontem? E quando dou um bom-dia ao meu chefe? E quando não tenho chefe?

Às vezes eu não me conheço, tenho tantas formas, tantos momentos, não poderia ser igual em tudo? Seria possível isso?

Quem sou eu quando enrolo no trabalho, em casa e nos estudos... e nos meus objetivos?

Quem sou eu quando leio um bom livro, devoro um poema, vejo um péssimo filme, ouço música, rabisco qualquer coisa ou fico de pernas pro ar?

E quando penso em ficar só, em sexo, na morte?

Quem sou eu quando falo mal de alguém? (Todo mundo faz isso o tempo todo, não negue).

É, eu sempre me surpreendo comigo...

Sou legal, sou bacana, amo e não gosto... presto e não presto...sou, não sou e duvido.

Continuo, muitas vezes, me redescobrindo... pareço o Mapa do Tesouro, cheio de pistas, certas e falsas...

Eu sou múltiplo, por isso não sei quem eu sou. Carrego eus comigo, e sempre um outro aparecerá de vez em quando. Tem gente que vai entender, e outros que vão criticar.

Vai ser sempre assim, então... tenho que me acostumar, e fazer meu melhor a cada dia, mas o melhor de verdade, e não por acaso. Um dia eu vou envelhecer e ficar sentado só recordando, desejando ou lamentando...

Onde estão minhas pernas fortes para correr atrás do ônibus, pegar criancinhas no colo, abraçar meus colegas e amigos?

Onde está aquela voz forte com a qual eu falava, bem ou mal, e xingava no trânsito? E a disposição para tantas coisas ao mesmo tempo? Onde está a agilidade do meu pensamento?

É... às vezes acordo me perguntando quem eu sou mesmo... esse ser tão complexo, esse Espelho de Machado, tão carente, insuportável, frio...esse ser humano como todos os outros, mas tão absoluto...

Descobri que não há definição correta para o meu eu, todo mundo é assim, dessa forma, desse jeito. O tempo vai passar, eu vou crescer, amadurecer, viver todas as emoções que ainda me restam, ou não, mas vou morrer como todos os outros... disso não há escapatória ou livramento.

Agora, toda vez que acordo, ponho os dois pés no chão... Preciso todo dia me erguer para o movimento. Geralmente, aquilo que não se usa fica à parte, ignorado, morto.

Então, tenho que ir... fazer as mesmas coisas, que logo deixam de ser as mesmas quando o dia muda, e quando eu mudo e decido fazer o impossível ficar mais próximo de mim.

Preciso fazer o melhor que posso, mesmo sendo eu, todo dia, esse ser desconhecido.

Lucieni B Santos
Enviado por Lucieni B Santos em 23/07/2013
Reeditado em 05/09/2013
Código do texto: T4400239
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