O vento sussurra



O vento sussurra aos meus ouvidos a saudade daquilo que ainda não vivi, a natureza reluz ecoando um espaço-tempo que pode nunca chegar para mim, mas que na ânsia diária de realizar meu viver gemo e me exponho em todo contínuo momento presente me abrindo para o futuro que gostaria de experimentar.
 
Nenhum som do passado bate mais forte que o ruído daquilo que ainda está por vir, e que sucumbe a sinfonia, horas harmoniosa, horas atravessada e desafinada, da realidade do aqui e do agora. Penso no viver como um eterno novo viver. Sou o que agora realizo, mas realizo cada contínuo presente como um novo ser, aberto ao novo, desapegado de esperanças vãs, carregando para a eternidade do momento presente tudo que já fui, já fiz, ou que por inação e omissão deixei de realizar, por isto abraço a ousadia de me transformar continuamente, tudo em nome de um presente mais humano, e por um ser mais digno de poder ser chamado humano.
 
Alguém, dos muitos que sou e que já fui clama para que no tempo que ousa ser depois, mas que é o sempre agora, tempo este que nos ilude como eterno caminhante, me mandar acreditar na esperança, mas me nego a deixar que a esperança, qualquer esperança que de mim diretamente não dependa, possa fazer morada em meus neurônios, deixando espaço aberto para novas sinapses mais reais, e fazendo com que toda esperança que de mim não dependa seja largada ao tempo, este mesmo tempo que me ilude.
 
Os sonhos ousam tentar disfarçar a realidade do que sou e do que a existência do todo é, assim aproveito os sonhos não como se realidade fossem, ou mesmo como presságio de realidades que virão, mas aproveito-os somente como motivação para o que somente agora possa fazer para pavimentar o presente por um novo presente, se nada posso fazer diretamente, mantenho o sonho somente como o que é uma imagem de sonho, pois esperar pelo que de mim não dependa é caminhar para algum sofrimento.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 24/07/2013
Reeditado em 24/07/2013
Código do texto: T4402379
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