ocasos

Do lado de cá me transcendem os ocasos

(aprendi um dia desses com a minha irmã o significado da palavra ocaso)

talvez porque eles sejam a morte do dia e o nascimento da noite, e toda vez que eu reparo num ocaso eu morro junto com o Sol.

Talvez seja porque eu tenha um respeito devoto pela morte.

Mas eu sei que é bobagem, os ocasos não são a morte do Sol ou do dia, são só mais um giro da Terra. Mas acontece que eu também tenho devoção pelas figuras de linguagem.

Então se o dia morre no ocaso é porque eu morro junto com ele, e sob a noite escura ou aluarada, meu coração esfarelado se aglutina feito mercúrio para quando o horizonte parir o Sol na manhã seguinte, meu coração esteja inteiro e pulsante no peito do dia criança.

Quando eu morrer de vez, escrevas, seja quem fores, assim:

Hoje foi o ocaso de Inaê

Daí, quando minha matéria reciclada, depois de ter alimentado bactérias e árvores, bichos e gentes, se reencontrar com a minha alma renovada em novo útero, em afeto nascerei como o Sol nasce, porque todo nascimento é uma doação de luz.

(07.07.2013)