NÃO LEIAM O QUE ESCREVO...
Sei que por vezes sou assaltado por pensamentos surrealistas
Que deviam ser banidos de uma sociedade contemporânea
Moderna, liberal, vanguardista
Porque eu abordo temas como a fome
A clareza com que se manobra a prepotência
O esmagamento do todo enquanto ser humano
O ladrão que já nem a sua casa consegue saquear
Fantasias que são abortos extraídos do ventre da irrealidade
Por isso não leiam o que escrevo
Porque não passam de falsidades contra os bons costumes
Merecedoras de ser analisadas por um cérebro da psicanálise
Não sou muito dado a sonhos nem a pesadelos
Pelo que tudo o que emito carrega sobre mim a voz da consciência
Os meus gritos são como os do último louco que fugiu da psiquiatria
Os meus braços que abraçam a criança que chora
São as tenazes registadas no livro do anti patriotismo
Os meus olhos que incidem sobre a miséria que grassa nas ruas
São fotografados para ser exibidos no horário nobre
Mentiras, vexames, invenções de quem pensa em contra poder
Corro o risco de ser acusado de espionagem mental
De sabotador do pensamento de quem tudo arrasa
Por isso não leiam o que escrevo
Pensem apenas no que escrevo