O FLUXO

Ando pela rua e vejo suas faces vazias, incluindo a minha, bundas, peitos e pernas pensando em milhares de coisas ao mesmo tempo e na verdade não pensando em nada. Zumbis se arrastando até seu destino estático e monocromático. Casa, ônibus, ruas, cadeira, teclado, mouse, ruas, ônibus, casa, cadeira, teclado, mouse. Eterna punheta da vida, haja porra e papel higiênico pra limpar o estrago, governos fajutos, lutas fajutas, cerveja cara e as putas nem se fala.

Vamos seguindo esse fluxo passado de geração em geração, sem variação. Se você me abordar qualquer dia desses e me perguntar o que espero da vida, temo que minha resposta não vá agradar, ela também não me agrada, mas é assim que as coisas são. Muita gente não enxerga, e a maioria prefere seguir vendado, pois pensar dá muito trabalho e cansa intelectos preguiçosos e acostumados, assim como pássaros recém nascidos, com coisas regurgitadas na boca.

Estamos num caminho sem volta, é impossível reverter o fluxo da descarga uma vez que sua mão suja já puxou a cordinha. Enquanto isso vamos descendo e descendo, o cheiro é péssimo, mas está todo mundo sem graça ou com vergonha de comentar. As vezes tento nadar contra a corrente de merda que despejam nossa goela abaixo, dai vem a preguiça, a saudade do ócio, e o amargo gosto acumulado de um mundo apático e eu me deixo deslizar novamente, de olhos fechados esperando o dia em que atingiremos o fundo. E não faço a mínima questão de saber o que tem lá!