Escritora Frustrada!

Eu leio freneticamente.

E não tenho muita coisa mais a fazer. Tenho 59 anos, sou deficiente visual e minha vida é mais chata que uma panqueca estragada.

E eu não tenho a menor ideia de como mudar uma virgula em minha detestável e chata vida!

Então, como sou aposentada por invalidez após ter perdido a visão, comecei e inventar historinhas românticas e a colocá-las no papel, acreditando que todo

mundo ia correndo ler os romancezinhos que escrevo.

E, pasmem! E ninguém os lê!

Minha vida de escritora é tão chata e vazia quanto a minha própria vida. Ninguém me manda um email para dizer coisa alguma sobre meus livros assim como ninguém

me envia um email para me dizer qualquer outra coisa.

Assim, cheguei a conclusão de que eu devo ser um ser humano tão detestável quanto uma pedrinha no sapato, uma unha encravada ou uma diarreia em pleno centro

de uma cidade qualquer quando a pessoa em questão não encontra nenhum banheiro a vista por quilômetros.

Ah! Se alguém chegar a ler isso aqui, o que eu duvido que alguém faça, vai me chamar de pessimista. Mas o que torna uma pessoa pessimista não é a quantidade

exagerada de porradas que a vida dá até que ela não sabe esperar nada mais da vida?

Em um dos inúmeros livros que acabei de ler, e olhe que leio ao menos uns dez ou doze por semana, li o agradecimento que a autora faz no fim do livro. E

me lembrei que todas elas agradecem o fato de que cinco ou seis pessoas, no mínimo, todas amigas ou amigos, leram seus rascunhos, deram sugestões, etc. Inclusive,

até mesmo seus maridos os leram e opinaram.

E eu não tenho um único ser humano que leia meus rascunhos e mostrem o que está certo ou errado. Antes, uma de minhas filhas até dava uma olhadinha, mas

acho que escrevo tão mal que até ela desistiu de me fazer esse sacrifício!

Bem... Acho que é isso.

Como ninguém vai ler o que escrevi, posso desabafar a vontade pois estou segura em minhas criações.

E não se enganem com o número de acessos. Acho que as pessoas até baixam os livros, curiosas pelo título ou algo assim, mas... Não acredito que alguém jamais

tenha lido um livro meu sequer... Caso contrário, tal pessoa teria dito qualquer coisa, mesmo que fosse apenas para me mandar desistir e ir procurar uma bengala

e bater nos objetos ao meu redor enquanto tento sair dessa embrulhada de me achar capaz de ser escritora!

Nem mesmo para me esculhambar as pessoas perdem seu tempo!

Sou um caso perdido!

E estou sentindo pena de mim mesma!

E é simples comprovar que ninguém me dá a mínima!

Basta apenas lembrar que nem filhos, companheiro e supostos amigos perguntam o que tenho escrito, ou o que tenho lido, ou o que tenho feito da vida ou na

vida...

Bem, acredito que não tenho um único amigo.

Tenho um companheiro mas...

E tenho filhos... E netas...

Assim, volto ao início. Minha vida é tão enjoada quantos os livros que escrevo e que ninguém se predispõe a ler.

E acho que isso é apenas um reflexo da minha personalidade, não é mesmo?