Dedicatória, para minha filha.

Estou tão só! Saio a andar por ai! Não tenho amigos, não tenho ninguém. Puxa, ninguém gosta de mim. As ruas estão cheias de gente; cheias de vida! No entanto para mim, são ruas desertas... mortas. Não vejo ninguém. Ninguém me vê. Como sou infeliz e como viver é tão triste.

A vontade que tenho, é de ferir e magoar, aqueles que dizem querer-me. Sorrir já não sei. O céu não é mais azul. Como em dia de inverno, o sol não existe. Meu coração sente frio. Agasalhá-lo, não posso.

No vento gelado, caminho pensando naqueles de quem gosto e que não gostam de mim. Quero falar com alguém, mas não tenho amigos. Estou tão sozinha... só com meus pensamentos e angústias.Vou continuar andando e assim cansar meu corpo, para talvez à noite, poder dormir sem pensar em nada.

Penso na noite que é longa e triste! Queria sorrir e não posso. Queria falar; mas com quem? Ninguém gosta de me ouvir. Ninguém gosta de mim.

Preciso magoar as pessoas que me magoam.

Tenho de ver sofrer, aqueles por quem sofro.

Preciso apagar o sorriso, dos que me impedem de sorrir.

Vou negar minha mão, aos que se recusam ajudar-me.

Não vou chorar, pois não choram por mim.

Recusar meu amor, pois não sou amada.

Negar amizade, pois são meus inimigos.

Negar o meu beijo, pois este beijo não querem.

Gritar o meu ódio, já que assim me ensinaram.

Só ouvir meu egoísmo, pois sacrifícios não fazem por mim.

Fazer as coisas erradas, já que o certo não aprendi.

Fazer só o que quero, mesmo porque, ninguém se importa comigo.

Aplaudir a maldade, pois bondade não existe.

Fechar os olhos e ignorar tudo aquilo que não quero ver.

Me guiar só pela cabeça, porque ter coração é ignorância.

Dar as costas e continuar andando, se alguém chamar-me pelo nome.

E nesta caminhada longa e triste, o que aconteceu?

Pessoas que não vi, mas com as quais cruzei. Se tivesse esquecido de mim e parado para observar um pouco, muita coisa aprenderia.

Teria visto gente com frio, andando apressado de volta ao lar, buscando abrigo e calor.

Crianças com frio, de pés no chão, pernas de fora, estendendo a mão em busca de auxílio.

Velhinhas cansadas, curvadas pela idade, sacola na mão, batendo nas portas, pedindo um pedaço de pão.

Homens deitados na calçada, embriagados talvez, pois se acovardaram ante seus problemas e encontraram a solução mais fácil: esquecer.

Jovens rapazes, até de boa aparência, entregues as loucuras dos tóxicos, por se julgarem incompreendidos.

Garotas bonitas, vivendo vida fácil, usadas como distração de homens egoístas e falsos, pois seus pais eram antiquados.

Operários de fábrica, saindo quase a correr, pegando condução lotada, sendo quase amassados, pisados e ao pobre lar regressar.

Quanta gente faminta... faminta de tudo: amor, amizade, carinho, compreensão, um lar, uma palavra, um olhar, um gesto de piedade, um prato de comida.

Nesta minha caminhada, deixei de ver também; que apesar do frio e do vento gelado: haviam flores nos jardins;

crianças brincando e rindo;

árvores verdes e passarinhos cantando;

a vovó, levando o netinho pela mão, a sorrir;

a garotinha voltando da escola, alegre e feliz;

aquele casalzinho de namorados, de mãos dadas a sorrir e falar;

a jovem mamãe, empurrando o carrinho com seu filhinho, orgulhosamente;

o chefe de família, cansado mas satisfeito, de volta ao lar, após um dia de

trabalho;

o médico, visitando seus doentes e levando um pouco de alívio para suas dores;

a freira, na tarefa difícil de consolar ao aflitos e desesperançados, com sua palavra amiga;

homens trabalhando, procurando melhorar as condições de vida de todos;

vi o pipoqueiro, vendendo pipoca;

o garotinho, vendendo amendoim;

a empregada doméstica, voltando para a sua família;

homens e mulheres, fazendo seu caminho de regresso à casa, após mais um dia de trabalho;

vi uma igreja, casa do Senhor, silenciosa e deserta e, lá no alto da cruz, Jesus, esperando... esperando... por mim, por você e por todos nós.

Daqui para a frente, abrem-se dois caminhos: um, o árduo caminho da luta; o outro, o da fuga.

No caminho da luta, vitórias terei; esperanças abrigarei; flores colherei, se plantar; gente serei, se quiser; feliz caminharei se souber; e nunca estarei só.

No caminho da fuga; só ilusões terei; amigos, jamais farei; o sol nunca verei; triste sempre serei; de mim mesma, me envergonharei.

O que fazer?

Seguir o exemplo dos que lutam e constroem com o seu trabalho, para si e para os outros, ou seguir o triste exemplo dos que fogem e se colocam à margem da vida, destruindo não aos outros, mas a si mesmos.

Só eu posso escolher.

E fico pensando:

Estarei só realmente? Será que aqueles que me cercam, não gostam mesmo de mim?

Estarei atrapalhando a minha família?

Realmente meus pais não me entendem?

Sou infeliz? Longe de casa, estarei melhor?

Minhas colegas, serão mais felizes de fato?

Se pensar bem, verei que não estou só! Estou apenas confusa. Se confiar naqueles que realmente gostam de mim e confiar em mim mesma, nunca estarei só.

Tenho apenas que deixar de ouvir o meu egoísmo e permitir, que o amor que existe em mim, fale mais alto.

Agindo assim, poderei caminhar ao encontro da felicidade e deixar para sempre de sentir-me só!

Com carinho e amor de sua mãe, Daize.

Daize Dorça- SP, 05/06/1980.

Daize
Enviado por Daize em 23/08/2005
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