Devaneio

Sentada diante do fogo, as labaredas e suas imagens abstratas me faziam voar, os que os outros conversavam a meu redor era ignorado. O céu, apesar de nublado, deixava a mostra algumas estrelas, a lua, mesmo coberta iluminava a noite como se ainda fosse o crepúsculo, e a minha alma estava se perdendo ali, tentando transpor a carne em busca de outra alma que estava longe, desejava ardentemente certo par de olhos, certa voz, certo sorriso...

Enquanto a chuva caía, fazendo um ritmado som no teto da barraca, eu entrava em mais um devaneio, flanava com leveza em meio a pensamentos impossíveis, eu era apenas alguém que sentia falta, que sentia no peito a abrasadora saudade.

As horas iam escorrendo lentas, os dias passavam devagar, a água fria da cachoeira me anestesiava o corpo, mas a mente não parava um segundo, a sua voz era o único som que meus ouvidos precisavam ouvir, mas eu estava privada disto, sendo torturada.

Loucura tentar dar nomes a sentimentos, palavras limitam emoções a signos, a representações; não é difícil saber o que sinto, é só ler o que dizem meus olhos... Basta aprender a ler no silêncio as entrelinhas, ouvir a melodia que as almas cantam sem cessar, ouvir o clamor incessante que impulsiona a busca do ser que foi destinado a nos completar...

Como a mais tola romântica eu acredito, que podemos fazer de momentos simples inesquecíveis, acredito que a felicidade não se encontra em coisas inalcançáveis, não é algo que possa ser possuído, é um estado que vai alem do ser, do estar, do ter, é algo que é essencialmente divino, pois é como o amor, impossível de ser descrito, feito apenas para ser sentido, sorvido, deleitado...

Não ouse chamar-me de apaixonada, pois me nego a admiti-lo, afinal, onde se ouviu falar que estatuas de mármore se apaixonam? Ou bonecas de porcelana se encantam? Ou que cubos de gelo se derretem por emoção? Insano isto...

T Sophie
Enviado por T Sophie em 11/04/2007
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