ESCRITAS EM AGOSTO

EM 31 DE AGOSTO DE 2013

1. Minhas mãos, ah, minhas mãos! Como espero que elas venham a ter, ainda, algo a dizer! (03/08/2013).

2. Ah, rainha que um dia fui, ao menos na imaginação! Rainha que não me consigo mais, talvez, talvez, por alguns breves segundos, ainda... Talvez... (09/08/2013).

3. Não ficarei sempre caída, haverei ainda de me erguer de mim, haverei de, eu me prometo. (ainda em 09/08/2013).

4. Ouço fados, guitarras a tocar baladas portuguesas e minh'alma se deixa confortar, o possível do conforto. (no início da tarde de 11 de agosto de 2013, dia dos pais).

5. Se minha mente, como todas as mentes, tem poder, preciso usá-lo, tal poder, para voltar, de verdade e acima de tudo, a andar. (na noite, ainda, de 11 de agosto de 2013, dia dos pais).

6. Houve um tempo em que a vida me pareceu compreensível, ao menos em suas linhas gerais, mas, isso foi há mil anos, ou mais. Ah, um milagre, um milagre! Queria, ainda, poder acreditar em algum. (na tarde de 14 de agosto de 2013).

7. Já tive uma vida que poderia ter sido chamada de comum, normal. Certamente, isso foi noutra vida, noutra vida, certamente. (ainda na tarde de 14 de agosto de 2013).

8. Que tenho de ti senão o que não tenho de ti?

Quase na madrugada de 15 de agosto de 2013:

09. Como eu poderia te abandonar tão assim só entregue a si mesmo? Como? (no início da madrugada de 17 de agosto de 2013).

10. Estou muito só, realmente; ao longo da vida, ajudei a segurar a barra da vida de tanta gente! (na manhã de 17 de agosto de 2013).

11. Estou relendo, mais uma vez, A LETRA ESCARLATE, de NATHANIEL HAWTHORNE, uma história dolorosa de pecado e de expiação, segundo os rigorosíssimos códigos da moral puritana nos Estados Unidos do século XVII. Um livro que sempre me toca e emociona, mais do que fundo, muito mais do que fundo. (ainda na manhã de 17 de agosto de 2013).

12. Diz Nathaniel Hawthorne, nas páginas 146 e 147 do seu A LETRA ESCARLATE: "Se não confiava em ninguém como amigo, não seria capaz de reconhecer o inimigo quando aparecesse". Penso que, da mesma premissa, se possa tirar conclusão outra, inversa: "Se não confiava em ninguém como amigo, não seria capaz de reconhecer o amigo quando aparecesse". (na manhã de 18 de agosto de 2013).

13. Desenlouquecer como, se estou o tempo todo só aqui. O grande horror é que eu já não saberia estar fora daqui; eis o magno horror. (na manhã de 18 de agosto de 2013).

14. Acabo de ouvir, de uma emissora de rádio, algo que coincide tanto com o que penso, que me deu vontade de registrar-"me" este algo aqui: "Amar o outro não como a nós mesmos, mas, amar (como) a ele mesmo". É, o outro deve ser amado no que ele, outro, é, no que ele, outro, necessita, não no que projetamos nele do que nós somos, do que nós necessitamos. Eta, como é dificílimo amar. (na manhã de 19 de agosto de 2013).

15. Talvez tais escritos dimensionem, um pouco, a quem eventualmente venha lê-los, o tamanho da minha solidão. (na manhã de 19 de agosto de 2013).

16. Comer... dormir... o silêncio sobre tudo, sobretudo. A pouco mais do que isso se resume a vida de parte razoável dos viventes deste mundo. E precisam agradecer por isso. Certamente, precisam agradecer. (na noite de 19 de agosto de 2013).

17. E no entanto, e no entanto, agora pouco a ouvir a Beleza Indizível por nome "El Payador Perseguido", de Ataualpa Yupanquí, no site palavrastodaspalavras. (ainda na noite de 19 de agosto de 2013).

18. Ah, que me voltem, ainda, o sorriso à boca, o canto à garganta, o verbo ao poema; ainda que para ficarem aqui comigo encerrados; ainda assim. (na manhã de 20 de agosto de 2013).

19. Para ser fiel a ti, entrei contigo no Reino de Neblina, onde permanecemos há séculos. Nunca mais pudemos dele sair; nunca mais. (na manhã de 20 de agosto de 2013).

20. Em verdade, minha vida, TUDO, é neblina (como Diadorim para Riobaldo) também para fora de nós dois, em mim. Minha mãe, que quase nada mais ouve, mas, não admite... Eu, que já quase mais nada falo... Meus passos, que quase já não tenho (...) tudo ou quase absolutamente tudo, neblina... neblina... neblina... (no início da tarde de 20 de agosto de 2013).

21. Quisera conhecer, efetivamente, cada um dos teus disfarces, pelo nome de cada um, mas, isso nunca me será dado, nunca; quisera não os houvesse tantos, no entanto, cumpre-me apenas aceitar tal fato, aliás, o que só me coube e cabe neste mundo: aceitar, buscar compreender; aceitar, buscar compreender; aceitar, buscar compreender, sempre me equilibrando, precariamente, sobre o fio tênue sob os quais bradam os abismos da minha vida. (na tarde, quase crepúsculo, de 20 de agosto de 2013).

22. E no entanto, e no entanto, houve um tempo em que ardíamos no âmago das noites e no âmago das noites íamos ao encontro um do outro. Consentidamente. (na noite de 20 de agosto de 2013).

23. O meu amor não é complacente, o meu amor tenta abarcar, tenta compreender. Complacência é aceitação passiva, e essa "qualidade" o meu amor não tem nem teve jamais. (na noite de 20 de agosto de 2013).

24. Duas pessoas que têm a(s) mesma(s) visão(ões) ao mesmo tempo são pessoas reais, só podem ser pessoas reais. Agora tenho certeza de que você e eu somos reais, existimos de verdade. Agora eu sei, quase 25 anos depois. (na manhã de 24 de agosto de 2013).

25. A solidão engoliu tudo. Enquanto não devorar o meu amor... (na tarde de 24 de agosto de 2013).

26. Pena nunca eu ter podido ouvir tua guitarra nem tua voz ao violão... (na manhã de 25 de agosto de 2013).

27. Daqui a poucas horas será 26 de agosto. Em 26 de agosto de 1988, há exatos 25 anos, eu estava escrevendo o livro ESPELHOS EM FUGA, que seria publicado em 1989. Nesse dia específico, estava na Bienal do Livro e, entre outros, adquiri o livro de poemas de um autor cujo nome eu conhecia há muito mas, de quem ainda não havia lido nada. Na contracapa do livro estava a foto do poeta e, desde o primeiro momento, me senti magnética e

inexplicavelmente atraída por aquele rosto. Alguns meses depois, em meados de janeiro de 1989, nós nos conheceríamos pessoalmente (acaso... destino?) e, desde que nos conhecemos, minha vida se viu transformada em irreversíveis antes e depois. Há 25 anos, que se completam amanhã. (ainda na noite de 25 de agosto de 2013).

28. Troca de convênio médico, para minha mãe e para mim. Que nos possa servir bem; que, efetivamente, nos possa servir.

Nosso anjo da guarda encarnado... a vida o está levando embora de nós, deveras. Estou, estamos tão sós, eu e minha mãe! Seja como for, que os seres da Paz e da Luz protejam os caminhos do nosso anjo da guarda encarnado. A ele, a minha eterna, incorruptível gratidão.

Não sei como desfazer equívocos e mal-entendidos com alguns amigos... como retomar caminhos com eles. Não sei como refazer caminhos na relação com determinado ser do meu sangue.

Não sei, ainda, o que fazer de mim nem dos dias dos dias. O Recanto, por exemplo, é um dos lugares para os quais gostaria de voltar, mas, ainda não consigo. Perdoem pela falta de coragem refletida em tal silêncio. Perdoem por este silêncio que, por enquanto, permanece em tudo.

(No início da tarde de 26 de agosto de 2013).

29. Ah, meu tão caro amigo, meu ex-companheiro de jornada, como me dói tua dor, tua condição de árvore desértica! Agora, além de não mais teus filhos, sequer a mãe de teus filhos. Agora assim só, assim árvore sem raízes. Não te posso voltar a ser a mulher que te fui, não o posso, por causa do meu compromisso aqui e de outro, também de natureza sagrada, que jamais haverei de romper, nem mais por ti, nem por homem nenhum. Pago com a minha solidão também inenarrável, também atroz. Pago com esta indizível solidão. Apesar disso, sabes da amiga que te sou, da amiga com quem podes contar, da amiga que jamais te deixarei de ser. (na manhã de 27 de agosto de 2013).

30. Não consegui renascer no Outono; renascerei no Inverno. Tenho certeza da luz no fim deste túnel, não apenas para mim, não apenas para mim, não apenas para mim... Que os nossos anjos da guarda me ouçam e digam amém. (na tarde de 28 de agosto de 2013).

31. Se me aproximo, te faço mal. Se me ausento, te faço mal. É então irreversível e para sempre sem saída o mal que te causei? Essa é a minha maior Danação. Fico perto de ti, antes de tudo porque, por mim, preciso ficar perto de ti, mas, se meu afastamento tivesse o poder de fazer-te superar o mal que te causei, eu me afastaria definitivamente de ti, mesmo ao preço de tornar irremediável e sem qualquer atenuante esta minha própria solidão assim terrível, assim dantesca, assim tamanha. Deus, que faço do amor em ti? Que faço do amor em mim? (No final da noite de 30 de agosto de 2013).

E no entanto, e no entanto, tem que haver ainda caminhos para além dos da sobrevivência (até já começo a ter vislumbres de algum para esta); que nos venham caminhos, meu Deus, ainda, para a alma; caminhos, meu Deus, ainda, para sanar os males no nosso devastado coração, nos nossos todos devastados corações. Tem que haver, ainda. Tem que haver. Tem que haver... Quando chegar a hora de partirmos deste mundo, que nenhum de nós parta como estamos. Que possamos partir restaurados de nós mesmos e uns dos outros. Antes de chegar tal momento final, que o consigamos na e para a vida, amém. (já quase no início de 31 de agosto de 2013).

A partir da semana que vem haverá um lugar onde poderei (poderemos) tomar um pouco de sol, fora do espaço deste apartamento. Uma grande notícia, deveras. (na manhã de 31 de julho de 2013).