FORA DA ÉPOCA

Capitulo 2

O café está na mesa e o pão ainda está quentinho , o leite derramou e sujou o fogão para não fugir das rotinas matinais onde o facebook é o grande vilão. Coloco o leite e algumas pequenas colheres de chocolate em um copo e levo para João que ainda sonolento tenta sair da cama com a coberta enrolado em seu corpo , o inverno esta se despedindo para dar lugar a nova estação que promete muitas flores, Escrevo um bom dia em meu mural na página de relacionamento mais famosa da atualidade e assim o dia segue , as noticias da internet os conflitos internacionais e nacionais chamam atenção para a seriedade em que o mundo vive, em pleno século vinte e um ainda tentamos não seguir os dez mandamentos de Moisés desastrosamente, armas químicas matam milhares na Síria e aqui no Brasil o ritual sórdido da política tenta amenizar a corrupção e fortalecer em breve mais um eleição presidencial, começo a indagar a mulher que sou em uma época em que as conquistas das mulheres são gritantes em todos os segmentos da sociedade, me deparo aos 41 anos, casada ,mãe de dois filhos, e pergunto-me onde me encaixo nesse mundo atual? Sou da geração das feministas e por que ainda estou a fazer os trabalhos domésticos como se vivesse na década de 1970? Por que não trabalho fora de casa , não tenho meu salário, por que prefiro ficar em casa cuidando somente da família, dos afazeres domésticos quando tenho potencial para ser qualquer profissional? Qual sentimento me faz ser essa mulher em quem me tornei? Não fiz uma faculdade e esse prazer que tenho em ficar em casa não retrata a mulher da atualidade , será que eu sou diferente, será que penso diferente , ou esqueci de ser eu? O salário rentável no final do mês faz falta ,mas a alegria de poder estar em casa e poder beijar os filhos ao acordarem , de vê-los indo para escola me faz esquecer qualquer remuneração, mas será que isso é saudável para mim? Será que estou me escondendo em uma bolha familiar por medo de não conseguir me realizar profissionalmente? Qual carência emocional eu tenho para me satisfazer apenas em ser mãe, em ser uma dona de casa do século passado, conflitos como esses são bem mais preocupantes para mim que os conflitos mundiais, Sou uma mulher saudável , não tomo nenhum tipo de medicamento,me alimento bem e posso dizer que sou feliz, desenvolvi a arte como cura para meus anseios e sorrir faz parte de mim, percebo que apesar de ser uma mulher fora da época , vejo mulheres extremamente realizadas profissionalmente e doentes, mal amadas, prisioneiras emocionalmente. Vejo mulheres cansadas, cansadas de tanto trabalhar pois a geração que conquistou a liberdade de uma suposta igualdade agora , estão infelizes, mulheres inseguras , posturas machistas e não femininas, salários altos auto estima baixa, mulheres decididas e vulneráveis as emoções, mulheres que comandam o mundo e não sabem controlarem seus sentimentos maternais. Vejo cada vez mais mulheres depressivas, obesas, e infelizes , separadas sorridentes, solitárias carentes presas fáceis , mulheres ricas financeiramentes e pobres em essência feminina. Quando saio para me divertir ,e nunca saio sozinha, pois não sei ser avulsa , adoro uma companhia em que eu confio e que me proteja com o amor,percebo que as mulheres da minha geração que estão solteiras se comportam como homens, bebem muito e deixam claro que não querem relacionamento, não querem amar, querem curtir, mas suas carências mostram ao contrário, que desejam desesperadamente serem amadas, amar alguém que vale apena,mas a mulher do mundo atual é seletiva , exige homens de outro planeta, por isso continuam sozinhas e tristes. O cara tem que ser perfeito! Então a mulher do mundo atual continua sozinha. E eu fico a pensar será que sou tola e que sou uma mulher fora de época , que sou frágil dependente financeiramente de um homem, e não trabalhar fora me faz um nada, será que a escolha que fiz foi errada, será que desejar voar baixo em um céu de águias é não querer crescer, será que ser feliz com pouco é um pecado capital?Tomo meu café ouvindo uma música sertaneja com uma melodia de amor , vou ao quintal e rego minhas plantas... meu cachorro vem até mim e me faz um carinho , já são sete hs da manhã o dia está lindo, e como uma mulher fora da época vou contando as gotas de alegrias que minha existência proporciona,me questionando sempre , questionando o mundo o por que me questiona sempre. Deixe-me viver afinal foi para isso que vim aqui.

Fathima Gommes

Fathima Gommes
Enviado por Fathima Gommes em 03/09/2013
Reeditado em 03/09/2013
Código do texto: T4464708
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