Guerreira Silenciosa
"Por isso eu lhe disse que você está só descrevendo locais maravilhosos a partir de mapas. É preciso participar. É para isso que estamos vivos."
- O Livro da Bruxa; Roberto Lopes
Estou tão acostumada aos mapas rasos que me foram apresentados sobre o amor, que me esqueci de invadir as suas terras, ao invés de insistir em descrevê-las à distância. Num temor encantado treinei minha visão para o contemplar inativo. Agarrei-me aos versos, aos livros, às canções, aos filmes, ao que me aparentava ser o tracejado do sentimento. Mais fácil fitar que praticar.
Sou vítima e culpada de um romantismo calado, naquele estilo de fraqueza à la Lulu Santos. em meu cenário mental não há permissão para a vivência real de um bem-querer correspondido. Durante tempo demais ouvi o lado ruim do mundo, abracei cada ofensa e agressão como verdade absoluta. Só alcançava uma frequência baixa e irritante [... Sim; Sou feia demais, arrogante demais, burra demais, crua demais, para ser merecedora de um olhar apaixonado. Não; Eu nunca fui uma mulher apaixonante. ...]. Passei tantas horas com este mantra castrador que aniquilei aquela guerreira doce, repleta de fé na beleza do universo e armada do poder do riso que sou.
Por mais silenciada que esta guerreira foi, sua índole nasceu para lutar. Cansei de não me compartilhar, impedindo meu desabrochar sincero. Batalhas diárias travei/travo, enfrentando temores e tumores arreigados. Hoje estou varrendo a marca de vítima cravada em mim e usando cada cicatriz de adorno. Ouço minha voz pela primeira vez.
Decisão por decisão caminho entre passos para quem sempre fui. Sem intermédios, sem mapas, sem GPS... Estou trilhando e participando do que me é apresentado no momento. Esta felicidade esperançosa que carrego não passa de reflexo entusiasmado do que a vida é, um retrato fidedigno do que lhe ofereço.