Excluídos


Como socialista, é mister lutar não somente no cunho econômico, contra este neoliberalismo econômico, mas contra também o estado político dominante, que reflete os interesses dominantes econômicos, onde este poder econômico dita as normas e perpetua a mesmice, pois é a mesmice política que interessa ao poder neoliberal de um estado omisso e fraco quando o assunto é controlar a economia, ou todas as atrocidades capitalistas, mas que seja forte na repressão quando qualquer mínimo ataque ao estado dominante seja tentado.
 
Ser socialista vai muito além disto. Um socialista sério busca desenvolver uma luta também pela proteção e pelo engrandecimento daqueles que mais sofrem com o poder econômico, e são estes o negro, a mulher e todos os excluídos. Uma sociedade justa implica em total inclusão política, cultural, e econômica para todos indistintamente, e correndo o risco de ser mal entendido, mas na certeza de que a realidade é forte o bastante para comprovar o que falo, são os negros e as mulheres os mais prejudicados e violentados em nossa sociedade.
 
Eu sei que outros preconceitos e segregações existem e possuem muita força, mesmo que disfarçadamente, e que exigem também forte trabalho que estinga estes. Existe o preconceito da homofobia, do “transgênero”, dos preconceitos religiosos, em especial aqueles relativos as religiões de origem africana ou orientais, e em especial também contra os sem religião, mas estes casos não decorrem diretamente do neoliberalismo, pois que existem homossexuais e homofobia, além de transgêneros distribuídos por todas as classes. O próprio ateísmo ocorre com forte presença sobre os com maior grau de instrução, o que não faz com que o preconceito a eles seja de cunho social, e sim de doutrinação de fé ou do simplesmente ser diferente, mas no caso dos negros e das mulheres, o preconceito ocorre fortemente sobre os mais pobres e excluídos socialmente, sendo assim um forte viés de problema sócio/econômico.
 
Entendo claramente que todos somos iguais em essência de vida, assim todos devemos ter os mesmos direitos, as mesmas oportunidades, as mesmas obrigações, e as mesmas defesas, mas achar que é justo tratar os diferentes de forma igual é simplesmente perpetuar a segregação. O filho de um burguês tem acesso a melhores escolas, a melhor alimentação, a cultura geral e internacional, a melhor proteção e acompanhamento médico-hospitalar, a uma maior segurança, e se necessitar de ajuda jurídica terá acesso aos melhores advogados, e mesmo assim ainda existem aqueles que creem que as oportunidades são iguais.  
 
Nosso país e nossa sociedade possui enorme dívida para com a maioria dos negros. A dívida para com as mulheres não me exige muito esforço, pois que todos conhecemos a sobrecarga das mulheres e de alguma forma todos conhecemos segregação a elas. Somos um país maculado pela mancha desumana da escravidão. Assinamos a lei Áurea e libertamos os escravos, mas nunca fizemos o menor esforço pela real inclusão humana e social desta enorme multidão de seres humanos, que de um dia para o outro “estava” livre. Cabe assim uma luta sincera, humanitária e mesmo envergonhada em favor deles, por saber que o nosso país nada fez de verdade para ajudar política, social, educacional, cultural e economicamente esta população que no papel se via livre da escravidão.
 
Entendo que este esforço deve ser democratizado para todos e deve incluir todos os excluídos sociais e abandonados pelo estado. Devemos lutar pela igualdade entre os gêneros, para isto precisamos “levantar” a bandeira de um sincero e livre feminismo, bem como de um total e despreconceituado direito a liberdade de opção sexual. Devemos enegrecer a sociedade dominante, enegrecendo todo o entorno político, cultural, econômico e educacional, e devemos começar por uma educação séria e inclusiva, acompanhada com planos de saúde, segurança, habitação, e mobilidade que permitam reais oportunidades para negros, mulheres e excluídos sociais. Não me esqueci, e nem me permitiria esquecer de todos os demais que sofrem perseguições, segregações ou preconceitos quaisquer que sejam, devemos ter a coragem de lutar contra todos os preconceitos e segregações, e o faço, mas apenas que não os vejo como um problema de cunho social, e sim de cunho humano, nem por isto menos importante. Todo preconceito é desumano, sujo e repugnante. Todos que o praticam devem primeiro ser alvo de educação, e em persistindo, devem ser alvo de séria punição, e se for o caso com total exclusão física da sociedade.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 06/10/2013
Reeditado em 06/10/2013
Código do texto: T4514168
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