O Segredo das Pinturas

Aquele que percorrer com um olhar atento a história da arte perceberá como se revelam, desde a mitologia grega até as pinturas contemporâneas, as questões mais latentes da humanidade. O que se repete periodicamente só pode ser aquilo que nos é intrínseco e inevitável; que dorme nas profundezas do espírito e, eventualmente, acorda cheio de fúria: as guerras, as lutas de classe, a sede de glória e poder, as paixões viscerais, a sensualidade, a boemia, a concupiscência, os racismos diversos, as modas, o convívio social, o conflito interno, as angústias, as conquistas, a relação destrutiva que sempre mantivemos com a natureza, e, enfim, um pouco de bondade, diluída num mar de atrocidades que beiram a insanidade.

Tudo isso somos nós, há milênios, nos cantos mais recônditos do que chamamos "mundo". Como num eterno ciclo, que não se cansa de repetir, atravessamos os séculos executando, alternadamente, as coisas mais belas e as mais repugnantes: criamos a religião para dar conta da criação e, ao mesmo tempo, promovemos massacres; criamos a arte para (entre outras coisas) expressar o encanto que a natureza produz em nós e também destruímos, deliberadamente, o próprio planeta; apreciamos o belo, mas anulamos facilmente sua importância quando se trata de riqueza.

Tudo isso pode ser visto nas telas (algumas) e, se elas retratam a realidade de então, em alguns aspectos, vemos que a história não se mostra linear; no aspecto humano e cultural não parecemos evoluir com o passar do tempo. Nesses aspectos, não é difícil notar que a sucessão dos séculos não tem representado um progresso contínuo, mas apenas um "looping", irracional, com momentos altos e baixos (quem teria imaginado uma aberração como o nazismo em pleno século vinte?), levado ao sabor do acaso e suas imprevisíveis reações - o que também é algo fascinante de se pensar.

Uma comparação entre a Grécia antiga e o vertiginoso século vinte (fiquemos nele, pois o nosso está só começando) revela que todo o excesso material e os recursos da contemporaneidade promovem um déficit intelectual com relacão aos nossos antepassados (toda a tecnologia nos deixa mais alienados do que propriamente cultos) e não chegamos nem perto da vasta produção cultural dos gregos antigos. Não é intrigante pensar nisso? É isso que a arte nos mostra - a arte de maneira geral, mas em especial as pinturas.

Mas isso seria uma outra discussão, o espaço aqui é desses artistas que, dos diversos movimentos e tendências de cada época, cobriram grandes eventos com suas narrativas coloridas.

É preciso dizer que, fazendo as vezes da fotografia e retratando suas realidades nas telas, eles legaram, para o desfrute da posteridade, verdadeiras reportagens - foram grandes "fotógrafos" dedicados de outrora, que nos dão acesso a conhecer outros tempos e outros povos que montaram as bases do nosso presente e, assim, nos permitem verdadeiras viagens: no tempo e para dentro de nós mesmos.

Esse é o segredo das pinturas, se você olhar com atenção para dentro delas, elas te contarão muitas coisas.

Nanda Reis
Enviado por Nanda Reis em 15/10/2013
Reeditado em 15/10/2013
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