“O ÚNICO MISTÉRIO DO UNIVERSO É O MAIS E NÃO O MENOS
...
O espelho reflete certo; não erra porque não pensa,
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo."
(Fernando Pessoa)


COGITU ERGO SUN E O APAGAMENTO
(Por que, dolorosamente, sentiste também o apagamento, Sr. Fernando Pessoa)
 

Singra nas possibilidades infindas um universo branco, que de nós não sabe nem saberá; e outro ao qual podemos espargir as imaginações de nossas mentes sencientes.

Ambos coabitando-se como irmãos avessos e de si desconhecidos: O Cosmo branco na qual podemos desenhar obras espúrias é o mesmo Cosmo alheio do que nele fora desenhado.

É como dizia Fernando Pessoa: “O Universo não é uma idéia minha. A minha idéia do Universo é que é minha. A noite não anoitece pelos meus olhos. A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos. Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos, a noite anoitece concretamente, e o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.”

Poderia dizer eu, Senhor Fernando Pessoa, que também até Deus não é uma idéia nossa. A nossa idéia de Deus é que é nossa. E tudo se apocrifia dessa forma após nossos nascimentos incautos.

Assim é nossa infinda capacidade de criar com retinas cegas o que já é, por si, diferente de nossos caldos faustos, em paradoxal mistério.

Por isso é que estou aqui a ruminar conjecturas também inválidas sobre todas as composições das gêneses.

Se o Big Bang foi uma explosão originada de concentração infinita de massa, gravidade e densidade, singularidade maior e mais poderosa foi o surgimento dos abnormais que a tudo isso podem reinventar, com suas razões sencientes.

E assim foi que se tornou o Universo, e suas possibilidades, vestido com as roupas que lhe demos, sem que ele saiba que as veste. Ele é alheio e é apagado de nós, embora não possamos perceber, de nossas anomalias, o grande paradoxo.

E eis, então, o que digo por apagamento: tão somente o fim da abnormidade que tem o poder de desenhar, nas folhas brancas dos tempos-espaços e de toda conjectura possível, o que possa efluir de suas mentes. Fora os abnormais, flui é o que já é sem nossas visões túrbidas e sem as sublimes vestes que lhe depositamos a todo momento.

E se o abnormal a tudo pode subjetivar e criar, é certo também que o mesmo palco de atuação, que é o Universo e as infinitas possibilidades, está alheio a suas gêneses em todas as formas.

Assim, pois, como outrora disse Fernando Pessoa que “A noite não é minha, mas sim a minha idéia da noite.”, digo que a folha branca universal não é nossa, mas sim nossa idéia dela.

E não me peçam alguma lógica inexistente, porque nem teria como dar outro nome qualquer para nada nem para coisa alguma, sem que – abnormal que sou – inaugurasse também.

Pois é do ponto de onde inauguro que reside minha maior e incurável cegueira: Já é por si tudo que há, alheio e apagado de mim, embora eu lhe possa, sob minhas prerrogativas, cromatizar à minha fausta mercê, que de fato, a tudo posso tocar e, ao mesmo tempo, tudo está intocado além de meu imenso poder de deturpar com figurações.

Que grande paradoxo!

Quando todos morrermos, que nomes haverá? Que cores haverá? Que leis regerão a imensidade que transmutamos a nossas mercês?

Como disse Fernando Pessoa: Elas simplesmente haverão, concretas, livres de nossas abstrações.

A essa extraordinária capacidade que tem o neandertal sapiens de a tudo poder criar, inaugurar ou deformar, chamo de “grande anomalia”.

Às infinidades onde podemos inaugurar e reinaugurar, com nossos egos sencientes, chamo de “grande barreira.”

E no mesmo ponto, resiste o que chamo de “apagamento”, por simplesmente não saber que lhe estamos estuprando o curso do leito, que continua a correr despercebido dos destroços que depositamos em suas margens.

Assim, o homem reside na grande barreira (e como ela é infinda em sua mente criatória, não pode ver além de seus próprios incensos espalhados), e está aprisionado na avassaladora condição de não  poder sentir o além dela, sob o risco de inaugurar algo qualquer por seus simples pensares.

Então se egolatram em personificações de efígies alegóricas, com atuações sempre abstratas ao que realmente não podem perceber: suas existências, ao se darem na abnormidade da singularidade, consistem de imaginações, criações e inaugurações de gêneses tantas, quem levam, através de suas anomalias despercebidas, fatalmente à faustidade de suas obras.

E assim é que se agiganta o existencialismo e toda metafísica dos neandertais sapiens, enquanto o apagamento está friamente alheio e de nada sabe.


Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 28/10/2013
Reeditado em 28/10/2013
Código do texto: T4545492
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