Chorei

É um alívio poder dizer que chorei, que derramei lágrimas como um ser humano sensível às coisas que acontecem à volta. Antes disso, eu me questionava, sim, me questionava a respeito dessa conexão que nos torna capazes de entender o sofrimento do outro e partilhar a mesma dor. Lembro que em algum texto aí o autor chamou isso de solidariedade. Qualquer que seja o nome, a minha conexão estava interrompida, soterrada embaixo de camadas e mais camadas de autocontrole e racionalidade.

Por meio da racionalidade, eu mantinha minhas emoções sob controle acreditando que as pessoas veriam minha fraqueza se eu deixasse a coisa escapar. Não me agradava a ideia de expor tal fraqueza ao mundo. Já tenho baixa auto-estima. Se as pessoas me virem como fraco, as coisas seriam piores. Talvez, eu evitasse me conectar ao mundo para não expor essa fraqueza e assim foi minha jornada rumo ao distanciamento, à frieza, à impassibilidade.

Mas ainda bem que eu chorei, sim ainda bem.

A minha dificuldade e medo em expressar sentimentos talvez se devessem também ao fato de eu sempre tentar ter domínio sobre eles. Como ser natural expressando sentimentos se lá no fundo você não quer que ninguém veja?

Mas quando chegou, foi forte, estrondoso, arrebatador. Não havia para onde fugir. Tudo era emoção. A emoção rompeu a barreira que a segurava e dominou tudo, de cima a baixo, de um lado para o outro. E esse rompimento, meu Deus...É como ter o coração rasgado em dois, dilacerado, e o rasgo provoca um calor indescritível. Depois, não importa como os outros te veem. O alívio, a verdade, supera tudo, se impõe a qualquer coisa. Isso não é bom, é maravilhoso! Eu procurava conforto na raiva, na revolta, na agitação, quando a comodidade está na verdade das lágrimas. Não há conceito melhor para definir o que as lágrimas (pelo menos, aquelas lágrimas) representaram: a verdade. A verdade da minha angústia, a verdade da minha felicidade. O ser humano geme de desespero em seu interior. Eu gemia, mas escondia isso. Mas a verdade veio com olhos vermelhos, nó na garganta, soluços tristes...

Janeiro de 2010

Alex Nunes
Enviado por Alex Nunes em 30/10/2013
Código do texto: T4549419
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