Nossos apegos

Por horas me pego pensando sobre as banalidades que se nos apresentam a cada instante, ao nos depararmos com novas situações dentro de uma sociedade consumista e consumida por si própria. Notei que muitas pessoas andam sem destino, se é que existe um, apegadas no caminhar sem rumo, levando consigo esperanças de um futuro melhor. A luta que cada um tráz consigo, sofre alterações, interações, decepções, frustrações, realizações. Mas creio que em dado momento, seja colocada no abandono, para tentar uma coisa nova. Esse novo, que ao mesmo tempo atrai, desperta medo, insegurança, mas por ser novo, queremos fazer valer a pena arriscar-se, aventurar-se. Desse modo sinto que essas motivações são arrastadas para um sentimento de apego. Acreditamos que tudo que passa por nós, é nosso, ou passa a ser nosso. Esse apego demasiado, gera uma instabilidade emocional significativa.

Partindo para a Filosofia, se tem que é muito comum ouvir e dizer que tais coisas fazem parte da natureza humana, ou que é normal ter medo do desconhecido, mas assim mesmo querer ir ter com ele. Mas e, os apegos? Alguém deve ter dito que são tão normais quanto respirar. O problema, creio eu, que não é apegar-se às coisas, às pessoas. O problema está em saber como administrar tais apegos. Saber dosar cada sentido de tais apegos. Se partirmos para as aventuras da metafísica, podemos falar da existência de três realidades distintas por essência, no pensamento neoplatônico, o mundo sensível da matéria; o mundo inteligível das formas imateriais, e ainda, acima desses, uma realidade suprema, inatingível pela natureza humana. Sua luz de puro esplendor imaterial emana formando o mundo, inteligível, onde se encontram o Ser, a Inteligência e a Alma do Mundo. Mas assim mesmo, eu penso que é uma forma de apego, mas um apego que nos eleva espiritualmente, nos deixa próximos de Deus - Luz de puro esplendor - que nos protege e nos ensina através de várias doutrinas, o desapego, nos sacralizando, em termos. Sabendo que o sagrado é uma experiência individual de uma potência maior, de uma força superior e sobrenatural que habita algum ser, que pode ser uma planta, um animal, uma pessoa, fenômenos da natureza, eu fico aqui indagando: esses apegos, que temos todos os dias, vêm de onde? Serão necessidades meramente emocionais que transmutamos em coisas tangíveis para nossa satisfação? Não sei, queria muito saber. Mas hoje quase me perco diante dessas incoerências, diversidades e desigualdades, sejam de ordem religiosa, de ordem moral, de ordem social, intelectual, acaso ou indeterminação...

Me apego aqui em Montaigne, em um de seus ensaios: " QUE FILOSOFAR É APRENDER A MORRER" " qualquer que seja a duração de nossa vida ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditais sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vivido bastante."

Me apego em seus dizeres: " Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir; nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal (desapego): saber morrer nos exime de toda sujeição e coação."

Nesse sentido, creio que os apegos, aos quais me referi no início deste pensamento, são meros momentos de alucinantes desapegos da realidade material, para me inserir num estado de elevação espiritual. Senão, não sei o que seja, mas me fez muito bem...

NENINHA ROCHA
Enviado por NENINHA ROCHA em 19/04/2007
Reeditado em 25/05/2007
Código do texto: T456386
Classificação de conteúdo: seguro