DEGREDOS...

Na cela dos pensamentos guardo imagens mil

Marcos históricos de uma vida intermitente

Feita de pedaços que deram corpo à incerteza

Aos momentos com dia e hora marcados

Um baú condenado ao degredo

Imutável nos contornos que lhe dão forma

Quantos beijos ainda choram

Porque foram o êxodo de épocas cristalinas

Vivem agora na gélida certeza do retorno impossível

É o exílio do que outrora escrevia a simplicidade dos dias

Os abraços que gritavam glórias às chegadas

As lágrimas que se aliavam às mãos nos acenos às partidas

Os olhares tão longos que trespassavam horizontes

O galgar dos tempos de uma vida sem tempo

Qual sinfonia imortal de acordes que jamais se esquecem

Mesmo que fechados no degredo cerebral da nossa existência

Que passem anos, lustres ou séculos

Que a ciência avance para cumes antes julgados inultrapassáveis

Quanta vida, quanta morte, quanta demência

Há imagens mil que jamais se desfazem

No lodo da arca que um dia encerrámos para não mais reabrir.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 15/11/2013
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