DEGREDOS...
Na cela dos pensamentos guardo imagens mil
Marcos históricos de uma vida intermitente
Feita de pedaços que deram corpo à incerteza
Aos momentos com dia e hora marcados
Um baú condenado ao degredo
Imutável nos contornos que lhe dão forma
Quantos beijos ainda choram
Porque foram o êxodo de épocas cristalinas
Vivem agora na gélida certeza do retorno impossível
É o exílio do que outrora escrevia a simplicidade dos dias
Os abraços que gritavam glórias às chegadas
As lágrimas que se aliavam às mãos nos acenos às partidas
Os olhares tão longos que trespassavam horizontes
O galgar dos tempos de uma vida sem tempo
Qual sinfonia imortal de acordes que jamais se esquecem
Mesmo que fechados no degredo cerebral da nossa existência
Que passem anos, lustres ou séculos
Que a ciência avance para cumes antes julgados inultrapassáveis
Quanta vida, quanta morte, quanta demência
Há imagens mil que jamais se desfazem
No lodo da arca que um dia encerrámos para não mais reabrir.