Pesadelo
No recanto da noite brotam breves fagulhas, extintas com o bafo acalorado do Verão.
Sentado no chão de um quarto escuro, de pernas cruzadas, costas semi-arqueadas, de olhos fixos no chão, descansa o meu corpo, silenciosamente. O vento permanece imóvel, lançando um desconfortável silêncio por toda a cidade.
Espíritos inquietos dançam ao meu redor, perturbando o amargo sossego que me força a abandonar a divisão.
No corredor, um aglomerado de imagens e palavras voam bruscamente sem trajectória alguma. Por entre inúmeras visões que perturbam o âmbito do meu pensamento, vejo sorrisos sem caras, oiço gritos e murmúrios débeis, que se estilhaçam num contingente infinito, empurrando-me para os escombros dos meus sonhos mais sombrios.
Encontro-me numa outra sala onde nunca antes estive. Descubro uma paz inquietadora que em breve seria quebrada por mim mesmo. A natureza do medo rodeia estas quatro paredes que me parecem mais pequenas.
Corro sem saber para onde vou. Fujo do medo, do desespero, da aflição... da noite. A pulsação aumenta num ritmo tremendo, sinto o coração quase a sair-me do peito. Os gritos perseguem-me, tornando-se cada vez mais insuportáveis. Eu corro ainda mais depressa. A cada segundo que passa, a imagem modifica-se num ciclo exuberante. Tudo se conjuga no mesmo espaço de tempo e eu... acordo.
Todo aquele desespero desaparece, como se da minha imaginação se tratasse, dando lugar a uma sensação apaziguadora e a um desconforto em breve esquecido.