Cabides.

Decidi por separar minhas camisas favoritas em um espaço mais visível e mais acessível. Ao todo eram dezessete. E as separei por cor, tamanho, tecido. Um maldito toque que eu gostava de ter.

Preservava a ideia da beleza na trivialidade. E aos meus olhos ver todas as minhas camisas, que tanto adorava, todas no mesmo lugar, dava me a sensação do perfeito.

Afinal, se quer sempre o perfeito, o mais belo aos olhos, e a alma também. Seja simples ou mais rebuscado.

Mas a infelicidade me atingia, ao abrir aquele móvel e ver a falta de uma peça. Nunca estavam todas juntas, todas, as mais bonitas. Afinal era pura lógica que sempre estaria usando uma camisa favorita. Deveria não usa-las para que um dia aos meus olhos se reunissem e alcançasse o nirvana da simplicidade e perfeição?

Não, não.

Me tornava mais bela também ao usar uma camisa favorita. Vê-las juntas e não usa-las, seria como simples camisas de lojas que é de costume meu almejar.

É irrefutável que não me sentiria completa.

Porém, morri. matei.

Alcancei a perfeição. Já não podia mais me utilizar de minhas camisas. Mas eram minhas. E todos sabiam. Eram minhas e ninguém teria coragem de vesti-las. Dessa vez não se pareciam com camisas de lojas.

Alcancei a perfeição. por um segundo.

Um segundo antes desta corda maldita me selar as veias.

Mas, alcancei a perfeição.

Como só se vê uma vez na vida.

Na hora em que já não podemos mais desfruta-la.

Patrícia Campanholo Pereira
Enviado por Patrícia Campanholo Pereira em 24/11/2013
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