Não se desespere

Faltam poucos dias para o fim do ano. Para ser mais exato faltam 13 dias. E fim de ano sempre foi uma época propícia para sonhos e esperanças. Contudo, tenho de confessar que para mim algo está diferente dessa vez. Encerro o ano vivenciando uma experiência emocional pendular de altos e baixos. E chego nesse final sabendo que a mística da virada de nada irá adiantar. Pessimismo? Não diria. Talvez esteja amadurecendo e finalmente enxergando a vida como ela realmente é.

Muita coisa aconteceu ao longo desse ano. Algumas boas, muitas outras ruins. E na verdade a gente sempre se depara com a vida se movimentando como aqueles barcos vikings dos parques de diversão, para cima e para baixo. A dinâmica da vida é exatamente assim, para cima e para baixo. E temos de ser sinceros em admitir que tudo o que realmente queremos é poder controlar esse movimento e deixar as coisas sempre lá em cima.

Justamente por não estar no controle dos movimentos da nossa existência é que prefiro assumir uma posição mais cautelosa diante da vida, principalmente quando a vida é a dos outros. Posso eu afirmar que a vida de alguém será realmente melhor no próximo ano? Bem que eu queria, mas não posso. Não posso nem ao menos garantir que a minha será melhor. Pessimismo? Falta de fé? Novamente digo não. Prefiro pensar que seja uma observação obvia. Se pararmos para refletir em todas as viradas de ano que já passamos, onde fizemos projeções e traçamos metas, iremos concluir que praticamente todas às vezes as coisas não saíram como esperávamos que saíssem. Essa é a vida!

O mais engraçado nisso tudo é que apesar dessa minha visão realista das coisas, sou constantemente chamado de otimista (talvez porque as pessoas não conheçam a profundidade dos meus conflitos). A despeito dos altos e baixos ainda consigo me animar com a vida. Por quê? Simplesmente porque constantemente sou lembrado de que a história não é uma sucessão de eventos ao acaso. Não sou otimista, do tipo bobo alegre que acredita em duendes coloridos dançando em cima do arco-íris. Muito pelo contrário, sou realista a lá Eclesiastes, que olha para a vida e enxerga que ela muitas vezes não têm sentido algum. No entanto, meu otimismo se firma em minha crença, em um Deus que têm o controle sobre a história.

Um texto que constantemente visito é o texto de Apocalipse capítulo 5 (aconselho você a lê-lo). Nele encontro o velho João chorando desesperadamente por perceber-se impotente diante da vida. O mais interessante nesse texto, para mim, é que João já havia, quatro capítulo antes, visto coisas inacreditáveis e estado diante do próprio Cristo ressurreto, mas ainda assim se desespera diante da impotência humana para resolver os problemas da história. E a crise de João é a crise de todos nós. Quantas e quantas vezes olhamos ao nosso redor e por não vermos solução choramos.

Sinto-me como João todo final de ano. Choro por não ter podido controlar os acontecimentos passados e choro por não poder prever os acontecimentos futuros. Olho ao redor e constantemente sinto um pavor tão grande que chego a ficar paralisado. Chorei dias atrás quando recebi uma ligação da minha mãe dizendo que minha irmã poderia perder a visão de um dos olhos por causa de uma infecção. Choro todos os dias ao colocar meu sobrinho em sua cadeira de rodas. Choro todos os dias ao me deparar com os dilemas de gente que me rodeia.

Mas não é só por causa dessa identificação com a crise de João que tenho esse texto como ancora da minha alma. É muito mais pelo que acontece com João diante de seu desespero. Enquanto João está desesperado um velho bate em suas costas e diz ‘Não chore!’ (v. 5). Não chore? Esse velho é louco já pensei eu. O choro é completamente compreensível e esse velho diz não chore. Louco? Muito pelo contrário. Esse é o velho mais sábio que já existiu. E é uma das pessoas que quero poder abraçar um dia. Seu conselho não é fruto de um otimismo cego, mas sim de um fato: o livro da história está nas mãos do Cordeiro (vv.5-6).

Os olhos de João estavam embaçados pelas lágrimas e assim impedidos de ver o Cordeiro em pé (ação e poder), no centro do trono (autoridade). Todas as vezes que me desespero sou levado a limpar meus olhos e olhar um pouco além e ver que existe alguém que está no controle da história. É por isso que sou otimista. Aconteça o que acontecer, o Cordeiro, Jesus Cristo, no trono está.

Há algumas semanas atrás estava num taxi e o taxista começou a reclamar da situação do país e me disse o seguinte: “Deus precisa levantar alguém pra dar um jeito nas coisas”. Uma só foi minha resposta: “Ele já levantou. Deus levantou seu próprio filho para dar jeito nas coisas e é só uma questão de tempo para que ele volte novamente”. Essa é a fonte da minha esperança. Por isso, que irei para mais um ano com a convicção do profeta: Mesmo não florescendo a figueira e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no SENHOR e me alegrarei no Deus da minha salvação (Habacuque 3.17-18). Que venha 2014. O Cordeiro permanece em seu trono; por isso não me desespero.

Ismael Braz
Enviado por Ismael Braz em 18/12/2013
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