Reflexões sobre o Universo - Parte IV

Vencida a reflexão anterior de que não podemos alcançar a razão última, o que está por detrás do muro do Universo, nem do muro elementar da menor partícula em uma flor, através do simples pensar, mas pelo sentir, estamos avançando uma etapa fundamental, contudo não iremos incorrer no erro de estabelecer um método para se chegar a ela, pois isto seria cotejar com um dos pilares do pensar humano, qual seja, separar em partes (dissecar), classificar o objeto e apresentar um método para tal situação.

Sentir. Esta não é uma simples palavra. Ela reune um conjunto de sentimentos, pulsões de vida e de morte, dentro do nosso ser, são energias que se transformam em sorrisos, tristezas e afetos. Nós, ao resumirmos o efetivo sentir, do mundo "real", pela palavra "sentir", posta em um papel, é como se colocássemos limites ao oceano, com arestas de um pequeno riacho, e dizemos: “destas margens não passarás”. E o sentir, muito além dos limites de um pequeno riacho, inunda todo o ser com as águas que purificam nossos temores movidos e criados por uma mente meramente racional e matemática, que pensa, e que por isso, perde a oportunidade de sentir com todo o vigor, muitas vezes. Cabe contudo uma ressalva, que não limitemos o sentir com uma visão simplista e assim poluirmos este sentir que se separa ontologicamente da putrefata e desgastada visão do sentir que está adenda ao prazer pregado pela nossa sociedade consumista. O sentir que falamos é puro, é nobre, é sublime, e que somente descobriremos se olharmos com os olhos de uma criança: pela pureza e humildade iremos filtrar o sentir para que este seja, aquele que realmente nos levará a conhecer a razão última do Universo, ou o que está do outro lado do muro finalístico do mesmo (se é que existe...).

O sentir não é a razão última, pelo menos em uma visão preliminar. Que como veremos, todas as coisas, inclusive o sentir, fluem da fonte onde germina tudo o que existe. Mas o que impulsiona esta fonte? Por agora, deixemos a resposta um pouco para frente. Como havíamos dito, o sentir então, é o carro que nos guiará até a razão última, ou melhor, o sentir é a ponte, depende de nós passarmos ela e chegarmos a quintessência do Universo ou ficarmos parados, estagnados. Sendo ela a ponte, ela é uma das ferramentas que nos levará a este objetivo. Urge uma nova pergunta: quem fora o arquiteto, e ainda, quem fora o construtor que levantaram esta ponte? Perdoem-nos, porém novamente iremos protelar a resposta, visto ela brotar da mesma fonte da pergunta anterior que levantamos.

É preciso, antes de passar para o próximo estágio, vencermos estes pontos, eles são óbices para entendermos o que é este sentir e qual tipo de sentir nos guiará nesta saga existencial. São, estes óbices, óculos que, ao invés de nos fazerem enxergar com mais agudeza , antes nos impedem de ver, ou nos conduzem a uma cegueira, onde o que resta á um sentir eivado de vícios humanos que corroem a experiência com tal sentimento ou nos induzem, impedindo de sentir, a usar o pensar como única forma possível para se resolver as coisas. E sabemos que quem pensa, constrói guerras imaginárias, que precisam tão só de uma faísca para se transformarem em guerras reais. Por fim, o sentir que nos guiará não é complicado, é antes de tudo, simples, sutil e suave, como uma brisa do outono, macio como uma pétala e mágico como um pôr-do-sol. Cabe finalizando, uma última pergunta: se o sentir é a ponte para tudo o que passa de um lugar qualquer para a razão última e da razão última para qualquer lugar, quem controla o fluxo de idas e vindas, e mais, tal fluxo é regido pelo Caos ou pela Ordem?