AQUELE INVERNO...
A chuva desenhava relevos nas vidraças
O vento uivava como lobo em hora de refeição
Tempestades contínuas na rotina dos dias
E o frio…
O frio contrastava com o suor quente do teu corpo
Nas noites absorventes em mansão emprestada
Um inverno agreste que escondia o sol
Que fazia as tardes parecer noites
E as noites abrasadas por clarões ruidosos
Como se a luz do interior se transferisse para a rua
Sem contador que nos cobrasse as despesas
Tremias a cada trovão como se ouvisses uma área lírica
E aninhavas-te em mim como se a cama fosse unipessoal
E eu sorria deleitado com o poder do teu aperto
Perdia a noção do mundo
Como se te tivesse sequestrada
Num espaço imperial onde não cabia mais gente
Onde me bastava sentir o teu corpo para saber que havia vida
O som das gotas de água traziam-me à memória os acordes
Que sentia quando as minhas mãos te desfiavam o cabelo
Ou quando os meus pés tocavam os teus
Provocando um ruído quase silencioso
Lá fora não havia gente, nem mar, nem guerras
Apenas uma sensação de ampla liberdade
Uma áurea de paz vivida entre quatro paredes
Comungada a dois como se não houvesse amanhã
Aquele inverno lavrado a poesia.