AQUELE INVERNO...

A chuva desenhava relevos nas vidraças

O vento uivava como lobo em hora de refeição

Tempestades contínuas na rotina dos dias

E o frio…

O frio contrastava com o suor quente do teu corpo

Nas noites absorventes em mansão emprestada

Um inverno agreste que escondia o sol

Que fazia as tardes parecer noites

E as noites abrasadas por clarões ruidosos

Como se a luz do interior se transferisse para a rua

Sem contador que nos cobrasse as despesas

Tremias a cada trovão como se ouvisses uma área lírica

E aninhavas-te em mim como se a cama fosse unipessoal

E eu sorria deleitado com o poder do teu aperto

Perdia a noção do mundo

Como se te tivesse sequestrada

Num espaço imperial onde não cabia mais gente

Onde me bastava sentir o teu corpo para saber que havia vida

O som das gotas de água traziam-me à memória os acordes

Que sentia quando as minhas mãos te desfiavam o cabelo

Ou quando os meus pés tocavam os teus

Provocando um ruído quase silencioso

Lá fora não havia gente, nem mar, nem guerras

Apenas uma sensação de ampla liberdade

Uma áurea de paz vivida entre quatro paredes

Comungada a dois como se não houvesse amanhã

Aquele inverno lavrado a poesia.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 16/01/2014
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