"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece." Charles Bukowski.
 
Amor necessário e o contingente.
 
É um tema por si só provocador, em outras palavras o amor monogâmico versos amor poligâmico, amor romântico e o amor “liberal”. Necessário é aquilo que não pode ser de outro modo, contingente implica dizer que algo é de determinada forma, mas poderia ser de outra maneira (uma folha de papel é branca, mas é concebível que seja de outra cor). Relativizar esse tema seria algo muito fácil para obter uma resposta imediata e dizer simplesmente que depende da cultura de cada povo ou do conceito ético de cada sujeito ou grupo. É fato que os nossos valores são construídos conforme os valores do meio em que vivemos, pois poucos são os que encaram os valores estabelecidos em sociedade para viver o que realmente pensa ser adequado e conveniente para si. Se me permite abrir um parêntese neste momento recordei da relação afetiva de “Sartre e Simone de Beauvoir”, que tirando os estereótipos midiáticos são considerados ícones do amor necessário e do contingente. Apesar de que as vezes isso causava dor a Simone, ao menos são os relatos que chegaram até nós. Sarte apesar de ter um relaciomaneto com Simone sentia a necessidade de exercer o poder da conquista sobre outras mulheres.

  Se recorrermos às práticas liberais na contemporaneidade, o Swing, veremos que essas pessoas distinguem amor de prazer. Com o parceiro fixo reside o amor e o prazer, e na prática do Swing reside apenas o prazer sem envolvimento emocional. O lema é sim swing, não traição. Existe um consentimento mútuo e o reconhecimento que a libido é algo que independe de sentimentos, que o casamento ou relacionamento estável não é fator impeditivo para a prática do sexo com outrem. Vale salientar que é preciso um relacionamento sólido e total clareza, convicção para este estilo de vida.
  Seria muito fácil também atribuir a poligamia a um instinto biológico, que apesar de ser um chichê é corroborado por várias pesquisas. Onde o homem possui o instinto de reprodutor e procura fecundar o máximo de fêmeas possíveis, e a fêmea no geral escolhe muito o macho alfa para ter seus filhotes, pois cuidar da cria demandará muito tempo e, portanto precisará de um braço forte para ajudá-la nessa empreitada. Hoje em dia o macho alfa tem sido avaliado por critérios econômicos, pois criar filhos demanda grana e não é pouca. O homem também é dotado de razão e sair fazendo filho por aí sem a mínima de responsabilidade atribuindo a biologia humana é um argumento retórico.
  O filósofo Arthur Schopenhauer diz que não existe amor, o que está por trás é o instinto natural de preservação da espécie, e que a natureza se dispõe desse truque para garantir a perpetuação da espécie. "(...) todo enamoramento, depois do gozo finalmente alcançado, experimenta uma estranha desilusão e se surpreende de que aquilo que tão ardentemente desejou não ofereça nada mais do que qualquer outra satisfação sexual (...)".  Talvez nosso nobre pensador alemão tenha exagerado em suas colocações, mas é inegável que é provocador. Lembrando que o amor que estamos dialogando é o amor que rege os relacionamentos afetivos, pois existem vários tipos de amor.
  Outro dia conversando com um colega da faculdade ele comentou comigo um caso curioso e inusitado de um canadense chamado Chester Brown que admite que a anos faz sexo apenas com prostitutas. Vejamos a seguir um trecho da entrevista que Chester concedeu a repórter Eliane Brum da revista época:
 
Descobriu que, para ele, o "amor romântico" não fazia sentido algum. "Nossa cultura impõe a ideia de que o amor romântico é mais importante que as outras formas de amor", diz ele um dia à ex-namorada. "Já não acredito nisso. O amor dos amigos e o da família pode ser tão satisfatório quanto o amor romântico. A longo prazo, provavelmente são mais satisfatórios."
 
Mais tarde, explica sua tese a uma prostituta, durante uma conversa na cama. “O amor é doação, partilha e carinho. O amor romântico é possessividade, mesquinhez e ciúme”, diz à moça. "A mãe que tem vários filhos ama todos eles. Quem tem vários amigos pode amar todos eles. Mas não se acha correto que se sinta amor romântico por mais de uma pessoa por vez. Acho que é a natureza excludente do amor romântico que o torna diferente de outros tipos de amor." Chester Brown, citado por Eliane Brum (Entrevista, revista época)
 
  Chester é categórico e áspero, ataca de perto a mesquinhez do amor romântico, que vê apenas a si mesmo e mais ninguém, que se vê como centro das atenções.
  Ao pensarmos em pessoas é impossível não pensarmos nas particularidades, naquilo que é intimo para cada sujeito. Embora nossa subjetivação seja construída nas relações de intersubjetivação, na relação eu-tu. Deste modo existem pessoas que são felizes usufruindo do amor “livre” e outras que são felizes vivendo na monogamia. Todavia, vale salientar que muitas pessoas sofrem em nome das convenções sociais, daquilo que é dito e estabelecido como bom e saudável para a vida. E tudo isso não passa de imposições de uma massa muita das vezes alienada e que é preza a uma confusão conceitual e existencial.
  Não sustento uma posição em detrimento a outra, pois cada pessoa sabe o que é melhor para si, mas algumas “verdades” precisam ser ditas. Portanto meu caro leitor, não deixe de viver sua vida em nome de normas estabelecidas ou seguir um padrão de vida que não lhe apraz.
Viva ao amor romântico excludente, viva ao amor livre inclusivo. O meu intuito foi apenas causar uma provocação e levá-los a reflexão consciente.