Nós dois (?)

Sou um ser conflitante. Discordo de tudo e de todos, sobretudo de mim mesmo.

Eu sou um ser erudito, dado a conhecimentos que rendem a quem os possui, título de intelectual; músicas metidas a besta, telejornais assistidos por uma ínfima minoria, peças teatrais e obras artísticas que expõem, meio que sem expor, para aguçar a capacidade de absorção - ora, vejam! - daqueles que os assistem/apreciam.

Já eu, não suporto esse tipo de coisa, de quem não tem o que fazer. Prefiro músicas com letras despretensiosas, notícias já prontas, para eu não ter que me dar ao trabalho de pensar. Peças teatrais e obras de arte? Sai de mim!

Mas deixe-me voltar a falar de mim: sou gastronomicamente refinado.

Eu, por minhas vez, só com,o bobagem, tudo que é bom e faz mal.

Como eu ia dizendo, sou subjetivo, penso, todo o tempo, naquilo que tanto quero e que tento incansavelmente aproximar-me, mas que, para meu desespero, só me distancio. Fujo dos meus medos enquanto os persigo. Todos os paradoxos ocorrem em mim de maneira simultânea, de maneira, que eu umas tantas vezes, não posso. E posso todas as coisas. Estou certo disso. Absolutamente. E não me resta nenhuma certeza. E resta tudo que há, embora já não haja nada. E há mais.

Bem, eu, absolutamente, não me identifico em nada com tudo isso que considero babaquice. Falta-me paciência. Sou demasiadamente ocupado com problemas reais, e não tenho, portanto, paciência com divagações. Tenho pressa. Sei que não tenho asas para voar, então não sairei do chão, e é assim, com os pés no chão, é que vou levando minha vida.

Desse modo, com tantas divergências, fica (in)suportável nossa convivência, e volta e meia torcemos o nariz um para o outro, vamos cada um para um lado e assim permacemos um tempo. Mas logo percebemos que a existência de um depende da existência do outro, então, nos somamos, formando um ÚNICO ser, que logo se separa, se divide em dois, que se divide em quatro, e em oito, numa infinita progressão geométrica.