Mulher, anjo rebelde que se recusou a permanecer padecendo no Paraíso?

Outro dia uma colega do curso de Direito comentou que um amigo seu havia dito que a desagregação atual da família se devia muito ao fato da emancipação das mulheres. No exato momento que ela me falou isso eu torci o nariz e não concordei com aquelas palavras. Depois de um tempo eu fui refletindo e reposicionando as minhas ideias. Lembrei-me da infância que são pelo menos uns quarenta anos atrás e fiz um paralelo com os dias atuais. Naquela época realmente existiam mais mulheres em casa cuidando apenas dos maridos e dos filhos. Talvez também o número de divórcios e separações fosse menor. Seria possível que a mulher ao se emancipar se tornou a responsável pela desagregação familiar?

Das minhas lembranças de criança eu recordo conversas escutadas ao pé de paredes (os adultos não permitiam que “certos assuntos” fossem falados na frente de crianças) entre minha mãe e algumas vizinhas. O assunto de algumas vizinhas era que estavam casadas somente por causa dos filhos. Se saíssem de casa não poderiam trabalhar e deixar os filhos abandonados. Algumas diziam até que não conseguiriam se sustentar, pois a única coisa que sabiam fazer era cuidar de uma casa.

Hoje o número de mulheres que são simplesmente donas de casa e não trabalham fora é bem inferior ao mesmo número de uns quarenta anos atrás. E se por causa disso o número de divórcios e separações aumentaram eu prefiro não me sentir culpada como mulher. Penso que se separações e divórcios ocorrem é porque as pessoas não se prepararam como deviam para assumirem a responsabilidade de ter uma família. Ter uma família não é fácil e requerem do homem e da mulher um constante diálogo e uma constante troca e renuncia de várias coisas. No momento do casamento o “eu individual” perde espaço para o “nós família”. Não considero justo muitas mulheres terem se sacrificado há muitos anos atrás pelo “bem dos filhos”. A infelicidade delas significou menos separações e divórcios. E aí? As mulheres devem mesmo ser encaradas como as responsáveis por essa estatística?

Eu faço parte do time das mulheres que trabalham fora e cuidam da casa também. Infelizmente eu não poderia ser feliz apenas cuidando de um marido e dos filhos. Penso que se hoje existem famílias de todos os tipos é porque a sociedade evoluiu e tudo que evolui se transforma, se modifica. Não se pode dizer que uma família que não é formada pelo pai e pela mãe seja uma família segregada. Antigamente família era sinônimo dessas duas figuras citadas. Nos dias atuais não é mais. Família é sinônimo de amor. Não importa quem seja os componentes que a ela se integram, se existir o amor está muito bom.

E se as mulheres são anjos rebeldes que com o tempo desistiram de padecer no Paraíso criado pelo mundo machista e foram buscar a felicidade em um Paraíso criado por elas mesmas, qual é o problema?

Após refletir bastante as palavras ditas pela minha colega eu só posso concluir que colocar nos ombros da mulher a culpa pela atual desagregação da família é algo bastante fácil. Difícil é viver como a maioria das mulheres vive: Jornadas duplas de trabalho (em casa e fora dela), enfrentado muitas vezes a violência doméstica por ser ainda vista como uma propriedade e não como uma pessoa com conduta e pensamento próprios e a discriminação no ambiente de trabalho que a relega a segundo plano por ser do sexo feminino.

Então por isso e somente por causa disso eu me orgulho de pertencer a essa geração de mulheres que trabalham e cuidam de sua casa. Não perdendo o orgulho por aquelas que apenas cuidam da casa, caso elas façam isso porque são verdadeiramente felizes agindo dessa forma.

A mulher tem que compreender que é bom fazer as pessoas felizes quando elas mesmas não estão perdendo a sua felicidade. Acredito ser mais honesto amar e se amar também. Não se ilumina uma sala quando se está no escuro, por isso acho bem difícil doar felicidade e alegria estando infeliz e triste. É o que eu penso.