SER ESPECIAL

NO INÍCIO DA MADRUGADA DE 26 DE MARÇO DE 2014

Passo por cada coisa... por cada medo... – desculpem, não posso dizer mais do que isso; aliás, o silêncio sobre o real dos fatos e sobre o nome de algumas pessoas (ninguém do Recanto, graças ao Deus), é o meu real legado neste mundo.

Um dia me disseram que eu era especial. Se ser especial é viver como vivo e passar pelo que passo há tanto tempo que se perde no tempo, teria sido muito melhor que eu fosse, que eu tivesse sido, desde sempre, a mais comum e banal das mortais, mas, me disseram, mais de um ser, que eu era especial...

Ser especial, no meu caso, é ser um poço de solidão e de segredos meus e de outros; é ter que precisar compreender e precisar aceitar tudo, sem “tugir nem mugir” como diziam os antigos; é ter que dar o tempo todo sem esperar (com uma e outra exceção), nada em troca; é não poder fugir, ainda que por algumas poucas horas, desta solidão que mutila; é não ter ouvido nunca, do homem que determinou boa parte dos meus rumos ao longo desta vida, as três palavras, da sua boca, que me ajudariam a suportar toda solidão e muitos dos horrores; e mais... e mais... e mais a enormidade de coisas que não podem ser ditas em linguagem nenhuma, aqui nem em lugar algum. Para que não haja equívocos, falo de situações e de pessoas da chamada vida real, se é que existe para mim isso que chamam de vida real. Bem... minha mãe é real, alguns poucos amigos também.

Há momentos em que tenho vontade de gritar... de gritar... de gritar... nomes e coisas que não posso jamais dizer, sequer a um psiquiatra. Gritar, aqui, ou no meio da rua... Aí me internariam como louca e eu, internada, o que seria de minha mãe?