Quanto de mim ainda resta?

Quais as partes que ainda estão ou são sólidas ou que nelas exista consistência?

Desestabilizas os neurônios meus... todos desorganizados estão...

Ah!!! ... E esta distância que me separa de ti... de tuas linhas e curvas... teus contornos... tua pele...

Estás tão perto de mim que as pontas dos meus dedos podem até roçar de leve na pele tua...

Afagar com a palma da mão teus sedosos e negros cabelos... cachoeira de pérolas do ébano...

Mas não consigo te tocar... lá dentro de ti... teu íntimo intocável... lugar onde resides de forma imperturbável... que imponentemente se projeta sobre mim...

Muros de concreto maciço elevam-se entre o teu esplendoroso ser e o meu... tenho visões às vezes que esses muros sejam feitos de gelo... pois percebo tua frieza... congelante... pobre poeta... não se cansa... tolo ser... tolo existente... existência sem reflexo...

Tenta escalar o grande muro que sempre está emergindo num movimento contínuo, ininterrupto... a certa altura despenca e cai... ficando em pedaços...

Na queda percebo o rosto de alguém sobre a grande e gélida muralha olhando para baixo... não havia nenhuma expressão afável... vi porém o leve traço, o leve esboço de um sorriso sarcástico... um pensamento vi em seus olhos... “por que ainda insistes?” ... triste percepção... antes não pudesse eu ler o mundo a minha volta... ...

... em pedaços me refaço... me faço... quanto de mim ainda resta?

José Wilker da Silva
Enviado por José Wilker da Silva em 16/04/2014
Reeditado em 23/04/2014
Código do texto: T4771693
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