ABRACEI VOSSOS DESTINOS COMO MEUS

NA MANHÃ DE 28 DE ABRIL DE 2014

Abracei vossos destinos como meus.

Quando meu próprio e inexorável destino se impôs

em princípio não consegui vê-lo nem reconhecê-lo nem aceitá-lo.

Hoje consigo vê-lo, reconhecê-lo...

aceitá-lo de verdade, desde a alma, ainda me é tarefa quase sobre humana...

vivê-lo como inexorável... Senhor Deus, tende toda a vossa piedade...

Abracei vossos destinos como meus

e nada adiantou

não aliviei um grama dos vossos sofrimentos

só, sem nunca o haver pretendido,

acrescentei-vos outros tantos

como outros tantos vós me acrescentastes

sem nunca haver qualquer ressarcimento efetivo de nada

entre as todas partes.

Seguimos todos

como estrangeiros íntimos

cada qual com sua Dor

cada qual com seu destino

Nunca nenhum de vós abraçastes

sequer por um minuto

meu destino como vossos

na vida como na alma

no que fizestes bem

urge que eu o admita

como se tome um remédio amargo e o único

que, ainda que não cure,

aplaque um pouco o implacável das dores.

Fizestes muito bem

e já não importando o que cumprimos e vivemos, ou não,

uns pelos outros, uns com os outros,

seguimos todos sós.

Hoje nos tornamos

quase completamente virtuais

- menos o sofrimento, nunca, nunca virtual.

Em verdade, em verdade,

hoje, para vós todos, para mim mesma, também,

as ações efetivas nossas, em prol uns dos outros,

tornaram-se quase impraticáveis.

Tudo, quase tudo ficou muito tarde.

Perdoemo-nos, todos.

Perdoemo-nos.

Esse, o único legado possível,

o único legado comum

que a todos nos restou.