O PERCURSO...

Passei por florestas verdes e torradas

Pisei terras áureas e lamacentas

Afaguei braços no auge da ternura

Mas também quando em gritos lancinantes

Pediam socorro a quem se fazia de surdo

Assisti a festas de alguéns que proclamavam glórias

Que o passar dos anos tornaram irrascíveis

E que mais tarde caíram na desgraça

E mais tarde ainda só as moscas zumbiram no seu velório

Assisti a casamentos com palavras levianas como o ‘toda a vida’

Como se a vida se resumisse àquele momento

Assisti ao brotar de seres que se multiplicaram

E geraram outros seres

Bebi água de ribeiras cálidas e transparentes

Hoje fórmulas de venenos que até o solo dilaceram

Ouvi tantos nãos que queriam dizer sim

E a tantos sins que queriam dizer não

Como se a vida das pessoas fosse uma caixa

Decifradora das angústias alheias

Vi gente batalhar por pão com os insectos

E depois pelos insectos porque já não havia pão

Vi mortos em vida

E legados deixados após a morte

Vi rostos sorridentes com as cores do arco íris

Os mesmos rostos que brotaram lágrimas por felicidades perdidas

Já vi tanta coisa na minha vida

É longo o meu percurso.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 15/05/2014
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