Capítulo 2 - Um dia no parque

Já aos 4 anos, tinha acabado de acordar e me levantar aos gritos de mamãe Cláudia me chamando para tomar café com as belas torradas crocantes que havia deixado em um prato separado para mim. Me deliciei daquele farta refeição que me daria energia para o resto do dia e fui assistir desenhos animados.

Em um canal aleatório, vi super-heróis salvando as pessoas. Tentei me inspirar naquele personagem para a vida por um instante. Ele me instigava, e muito. Não era normal. Voar? Nunca vi ninguém voando, porque ele voaria? Mas... ei, eu posso voar? Me perguntei aquilo durante uns 30 segundos e perguntei à mamãe:

- Mãe, eu posso voar?

- Apenas ricos e políticos podem voar. Eles passam rasgando o céu. - respondeu mamãe.

- Eu posso ser político? - indaguei à ela.

- Se mentir, sim. - disse mamãe.

- Mãe, o que é mentir? - perguntei.

- Filho, não vê que estou ocupada pendurando suas roupas no varal! - respondeu, já nervosa com tantas perguntas.

Fiquei pensando naquilo por um momento, mas logo me esqueci.

Depois de pendurar as roupas, mamãe me gritou perguntando se queria ir ao parque da cidade, então pulei de alegria e animado gritei:

- SIIIIIIIIMMMM! SIIIIMMMMMM! VAMOS! VAMOS!

Chegando no parque, avistei muitos adultos com seus filhos andando, sentados na grama ou brincando de peteca. Avistei também os pipas, que me fez lembrar os super-heróis da TV. Fiquei pensando comigo mesmo e me imaginando voando. Arrisquei algumas corridas de braços abertos simulando vôo. Sem sucesso. Não me sentia feliz ainda. Eu queria estar nos céus, junto com os pássaros e os pipas, disputando corridas com eles.

Durante um vôo no céu que ficava no jardim onde estava, apareceu um menino alto e gordo, com uma aparência feia de bravo. O chamei pra brincar:

- Vem, vamos voar comigo!

- Isso é brincadeira de neném! - respondeu ele.

Querendo ser mais esperto, eu disse:

- Já sou adulto!

- Prove que você é! Seu nanico! - disse ele.

- Prove você que não sou adulto! Na minha imaginação eu sou o que quero, sai daqui seu chato! - respondi e saí correndo de perto dele.

Aquilo me deixou abalado. Fiquei pensando em várias coisas depois que me sentei no gramado ao lado de mamãe. Como eu queria me sentir adulto, mesmo não sabendo o que um adulto faz... Pobre criança, inocente. Ainda não sabia o que estaria me aguardando pela frente.

Felício Mendes
Enviado por Felício Mendes em 20/05/2014
Código do texto: T4813236
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